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Run Run Records: uma excepção discográfica no Oceano Índico

Numa altura em que os consumidores da música estão a investir em plataformas online, em detrimento de discos compactos, a fábrica/produtora musical Run Run Records, da Ilha Reunião, tem remado contra a maré, apostando na produção de vinis. Entre os 60 títulos produzidos/ editados, destaca-se Tizan Amare, da banda Kombo, do baterista moçambicano Frank Paco.

 

Em 2016, o casal de franceses Florence Poey e Antoine Gradel aterraram algures na Ilha Reunião. Pouco tempo depois, acabariam por vender a própria casa, em Bordéus, com o objectivo claro de abrir uma discográfica de vinil. Assim, investiram 350 mil euros (cerca de 23 milhões de meticais) para fundar a Run Run Records, segundo salientam, a única que aposta na produção e reciclagem de vinis no Oceano Índico.

Ora, a decisão de abrir a fábrica não surgiu ao acaso. Porque gostam de música e têm amigos que tocam e cantam, perceberam que boa parte dos artistas do seu meio imprimiam discos de vinil na Europa. Vendo nisso uma contrariedade e uma oportunidade, Florence Poey e Antoine Gradel decidiram então investir muito de si para contornar a dependência dos artistas residentes nas cidades banhadas pelo Índico em relação a Europa, no que diz respeito à produção de vinis. Entretanto, segundo contou a co-fundadora da Run Run Records, o número de pessoas interessadas em ouvir música através de plataformas onlines só aumenta, o que faz com que os CD’s estejam a ficar descontinuados. No entanto, no que aos vinis diz respeito, observa-se, contrariamente aos CD’s, um aumento de pessoas que os compram pelo simbolismo que possuem.

Cada disco de vinil, na loja, custa em média 25 euros (cerca de 1600 meticais). A fim de tornar a produção sustentável e eficiente, a Run Run Records decidiu produzir vinis em tempo record. Enquanto noutros cantos do mundo ficam prontos em oito meses, em Saint-Pierre esse tempo está reduzido a três meses.

Concretamente, a Run Run Records foi fundada dois anos depois do casal francês fixar-se na Ilha Reunião, logo a seguir à venda da casa em 2018. Um ano depois, a fábrica começou a operar. Mas não por muito tempo, pois, em 2019, explode uma pandemia que condiciona a mobilidade das pessoas e põe a vida humana em xeque. Tiveram de fechar. No entanto, a crise passou e, neste 2022, a fábrica de referência no Oceano Índico reabriu, estando capacitada para produzir 400 discos em oito horas.

A responsabilidade de garantir a eficácia da fabrica é de Florence Poey, mulher com ar simpático, enérgica e com um francês falado de forma muito acelerada. Vive o trabalho com muita intensidade e, esta terça-feira, aparentou ser do tipo que faz várias coisas simultaneamente. Já o marido, na Ilha Reunião, trabalha como médico neurologista num hospital.

Além de gerir a Run Run Records, Florence Poey está a tornar-se uma consultar do negócio dos vinis e revelou estar predisposta a colaborar com possíveis investidores moçambicanos. Enquanto isso não acontece, a visão da fábrica de vinil é produzir discos para toda região do Oceano Índico. Por enquanto, a Run Run Records tem fornecido muitos discos a África do Sul. Nunca vendeu para Moçambique os 60 álbuns traduzidos em 22 mil discos. Contudo, o que Florence Poey não sabe é que um desses álbuns editados é da autoria dos Kombo, banda constituída por duas francesas (Melanie Bourire e Lise Van Dooren) e por um moçambicano (Frank Paco), sedeados na Ilha Reunião. De algum modo, parece que Moçambique já consome o produto dessa fábrica que funciona num espaço equiparado a um garagem, num lugar montanhoso de Saint-Pierre, mas que tem vencido as fronteiras de um pequeno território para se afirmar em África.

 

 

 

 

 

 

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