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Rita Chaves acredita que Nós matamos o cão-tinhoso pode ganhar milhares de leitores no Brasil

A pesquisadora brasileira, Rita Chaves, afirmou, esta terça-feira, que a selecção de Nós matamos o cão-tinhoso para as listas de livros de leitura obrigatória, divulgadas pela Fundação Universitária para o Vestibular da Universidade de São Paulo, vai concorrer para que a obra de Luís Bernardo Honwana ganhe dezenas de milhares de leitores no Brasil.

 

Uma das estudiosas brasileiras que se dedica à literatura moçambicana é Rita Chaves. Para a professora da Universidade de São Paulo, Nós matamos o cão-tinhoso é, sem dúvida, um livro decisivo na história da literatura moçambicana. Com a inclusão nas listas de leitura obrigatória da Fundação Universitária para o Vestibular (Fuvest) da Universidade de São Paulo, o livro de contos de Luís Bernardo Honwana pode, agora, ganhar dezenas de milhares de leitores que vão entrar em contacto com um texto produzido ainda antes da independência nacional. Tal ocorrência, acrescentou a pesquisadora, esta terça-feira, vai alargar o horizonte de conhecimento da tradição literária moçambicana no Brasil.

No entendimento de Rita Chaves, além de a inclusão do livro de Honwana nas listas de leitura obrigatória da Fundação Universitária para o Vestibular ser uma forma de consagração de uma obra excepcional, “que estamos com gosto celebrando, penso que podemos ver essa indicação como uma evidência do lugar que a literatura moçambicana vai conquistando no Brasil”.

Ainda esta terça-feira, Rita Chaves explicou que os exames de admissão para a Universidade de São Paulo costumam ter mais de 100 mil inscritos, o que propicia um movimento de divulgação extraordinário aos livros. “As obras são trabalhadas nas escolas e movimentam um mercado realmente robusto. De uns anos para cá, a lista tem contemplado uma obra de Literaturas Africanas. Tivemos o Mayombe, do Pepetela, o Terra Sonâmbula, de Mia Couto, e a gora para os exames entre 2024 e 2026, teremos o Nós matamos o cão-tinhoso, do Luís Bernardo Honwana”.

Até aqui, revelou Rita Chaves, a selecção da Fuvest privilegiou romances, um género muito prestigiado no Brasil. Por isso mesmo, “a escolha de um livro de contos é um sinal de abertura para uma forma de narrativa que é muito cultivada em Moçambique. Parece-me que a qualidade da obra se sobrepôs a um critério formal, o que é excelente”.

Outro factor que a professora da Universidade de São Paulo considera importante tem a ver com o facto de ter sido escolhido um autor de presença rara na mídia. “O livro [Nós matamos o cão-tinhoso] foi publicado no Brasil no final dos anos de 1970 e só veio a ser reeditado há poucos anos pela Editora Kapulana, que tem feito um óptimo trabalho editorial. Essa escolha rompe de certa forma com a chamada lógica do mercado que ainda é restritiva em relação às literaturas africanas de língua portuguesa”.

A Fuvest, instituição responsável pelo exame para a admissão à Universidade de São Paulo, anualmente, apresenta uma lista de leitura obrigatória. “Na verdade, são obras sobre as quais podem ser elaboradas questões nas provas de Língua Portuguesa e Literaturas”, esclareceu Rita Chaves.

 

Perfil de Rita Chaves

Rita Chaves é professora de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa, no Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, da Universidade de São Paulo (Brasil). De igual modo, é pesquisadora do Centro de Estudos das Literaturas e Culturas de Língua Portuguesa. Possui uma Graduação e Mestrado em Letras, pela Universidade Federal Fluminense e Doutoramento em Letras pela Universidade de São Paulo, com dois estágios de Pós-doutorado na Universidade Eduardo Mondlane.

 

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