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Revisitando o 5 de Maio e os caminhos da língua portuguesa em Moçambique

No dia 25 de Novembro de 2019, a UNESCO instituiu o dia 5 de Maio como o Dia Mundial da Língua Portuguesa. A nossa língua foi, assim, o primeiro idioma a ter uma data oficial reconhecida por esta importantíssima organização das Nações Unidas.

Esta decisão inédita da UNESCO deve encher os moçambicanos de orgulho, pois deveu-se a um conjunto de factores para os quais Moçambique muito contribuiu. É considerável o contributo de Moçambique para o crescimento de uma língua que, hoje, está entre as cinco mais utilizadas na internet e é a mais falada no Hemisfério Sul. Pela sua dispersão geográfica, a língua portuguesa dá voz (e letra) a muitas culturas e a sua grandeza tem projectado os nossos escritores, os nossos músicos, os nossos académicos, mas também eles têm ajudado a projectar a língua portuguesa.

Vivemos na sociedade do conhecimento e o conhecimento vem até nós, essencialmente, através da língua e do texto. Não importa se o texto nos chega num suporte tradicional ou digital, importa que o consigamos ler, entender e dele tirar a informação necessária para o nosso progresso pessoal e colectivo.

Sabemos, igualmente, que as línguas podem ter um papel preponderante na aquisição das ferramentas necessárias a um bom desempenho profissional e académico, podendo, consequentemente, contribuir para uma melhor adaptação dos nossos jovens aos desafios que a sociedade lhes apresenta. Neste sentido, a tarefa dos investigadores, dos linguistas, dos professores, de uma forma geral, e dos professores de língua portuguesa, de forma particular, é bastante complexa e necessita do empenho e apoio de todos.

São muitos os desafios com que as nossas sociedades se deparam e as respostas a estes mesmos desafios vão exigir conhecimentos, competências diversas e soluções criativas. Para tal, é necessário que a leitura, a escrita, o trabalho colaborativo, o pensamento crítico, a adopção de estratégias de resolução de problemas, a utilização das tecnologias de informação e comunicação, a pesquisa, a produção e a difusão do conhecimento científico sejam uma prática efectiva na academia.

Os professores, um pouco por todo o mundo, queixam-se que os seus alunos não lêem. Mas por que é que os alunos não lêem? Imediatamente pensamos na atracção que a internet, o Youtube, o Facebook, o Instagram e os videojogos exercem sobre os nossos jovens e como as novas tecnologias podem afastar os nossos jovens da leitura. A estes factores, acrescentamos, em Moçambique, o custo do livro e a inexistência de uma rede pública de bibliotecas. Mas será que é só por isto que os nossos estudantes não lêem? Não estará a escola a falhar na tarefa de formar leitores competentes e apaixonados pela leitura? Considero que um dos papéis, talvez o papel mais importante da escola, seja motivar para a leitura e formar leitores.

A língua portuguesa é, pois, um activo que nos pertence e que devemos saber valorizar. Ela permite-nos comunicar e construir projectos comuns na riqueza da diversidade cultural moçambicana e concede-nos, igualmente, o privilégio de podermos comunicar, sem tradutores nem intérpretes, com povos irmãos, espalhados pelos diversos continentes.

A Universidade Pedagógica está inquestionavelmente ligada a esta história de sucesso da língua portuguesa. Milhões de moçambicanos aprenderam português com professores formados nesta universidade. É, por isso, legítimo que os profissionais formados pela UP reclamem para si uma parte do sucesso da língua portuguesa no nosso país.

Num momento em que a língua portuguesa assume um relevo cada vez maior na região e no mundo, é necessário que os seus falantes tenham consciência da importância que esta língua tem na sua vida pessoal e comunitária, assim como das oportunidades locais e globais que o domínio do português proporciona. É igualmente necessário que se assumam e implementem políticas de ensino e de promoção do português, que tornem a sua aprendizagem acessível a todos os moçambicanos.

Sendo a língua portuguesa uma língua que une povos de diferentes geografias e culturas, ela tem tido um papel determinante no estabelecimento e desenvolvimento muitas das parcerias da Universidade Pedagógica. Os inúmeros protocolos que temos vindo a firmar com universidades portuguesas, brasileiras e angolanas e a cooperação com instituições como o Camões, Instituto da Cooperação e da Língua, a Embaixada do Brasil …. têm, na sua base, o estímulo de falarmos a mesma língua. Num momento em que o conhecimento é global e se desenvolve através da partilha, a língua portuguesa será, cada vez mais, uma ponte que liga a UPM às academias e aos centros de investigação do mundo lusófono.

Celebremos, pois, a diversidade que enriquece a língua portuguesa e as oportunidades que ela nos oferece!

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