Na recente reunião dos Ministros dos Negócios Estrangeiros Nórdicos e Africanos, em Victoria Falls, reafirmámos o nosso compromisso comum de defender o sistema multilateral, o direito internacional e os direitos humanos. Num tempo de divisões globais cada vez mais profundas, esta parceria é mais do que simbólica — é essencial.
A relação entre os países nórdicos e africanos assenta em décadas de solidariedade. Para os nórdicos, o colonialismo foi uma ocupação — uma violação do direito internacional e da dignidade humana. Esta compreensão moldou o nosso apoio aos movimentos de libertação em toda a África Austral. A sociedade civil, as igrejas, os estudantes e os sindicatos mobilizaram-se em solidariedade. A minha própria trajectória política começou no movimento anti-apartheid norueguês há cerca de 45 anos.
Este envolvimento entre povos lançou as bases para uma cooperação a longo prazo. Desde o apoio à paz no Sudão até ao respaldo a organizações regionais como a UA, a SADC e a IGAD, a nossa parceria evoluiu. A Noruega continua a ser um parceiro consistente — política e economicamente. Continuamos a destinar 1% do nosso RNB à assistência ao desenvolvimento.
Hoje, a nossa cooperação concentra-se cada vez mais no investimento, no comércio e no desenvolvimento do sector privado. Instituições como o Fundo Norueguês de Investimento para Países em Desenvolvimento (Norfund) e o nosso fundo soberano (Fundo Global de Pensões do Governo) estão activas em todo o continente, reflectindo o nosso compromisso com um envolvimento a longo prazo.
Porém, a nossa reunião em Victoria Falls teve lugar num contexto preocupante. A guerra no Sudão criou a maior crise humanitária do mundo. O Leste da RDC sofre com a violência alimentada por actores internos e externos. O Sahel e o Corno de África permanecem frágeis. O povo da Palestina é vítima de graves violações em larga escala do direito internacional e de níveis extremos de violência. Do mesmo modo, a guerra da Rússia contra a Ucrânia constitui uma violação flagrante da Carta das Nações Unidas.
Estas crises não são isoladas. Reflectem uma erosão mais profunda da ordem internacional baseada em regras. Quando os governos escolhem a dedo quais violações condenar, minam o próprio sistema destinado a proteger-nos a todos. Condenar a agressão da Rússia na Ucrânia enquanto se permanece em silêncio sobre os bombardeamentos de Israel em Gaza é inconsistente. O inverso é igualmente perigoso. O mesmo se aplica a críticas selectivas no Sudão ou no Leste da RDC.
A posição da Noruega é clara. Condenamos violações do direito internacional onde quer que ocorram — seja na Ucrânia, na Palestina ou em África. Rejeitamos duplos critérios, não apenas nos conflitos, mas também no financiamento ao desenvolvimento e na justiça fiscal global. A credibilidade do sistema multilateral depende da coerência e da justiça.
Construir confiança entre regiões não é fácil, mas é necessário. A parceria nórdico-africana é um modelo do que a cooperação global pode ser: alicerçada no respeito mútuo, na responsabilidade partilhada e na convicção de que a justiça deve ser universal.
A Noruega continuará a desempenhar um papel de ponte — entre Norte e Sul, entre regiões e instituições. Na verdade, a divisão do mundo em blocos regionais como “Norte” e “Sul” faz hoje menos sentido. O mundo está cheio de desafios que só podem ser resolvidos em conjunto, como as alterações climáticas e as pandemias. Talvez a divisão mais importante entre os países não seja geográfica, mas sim baseada em saber se procuram defender princípios fundamentais do direito internacional e encontrar soluções comuns. Acreditamos que o multilateralismo não é apenas uma ferramenta diplomática, mas sim um imperativo moral. Juntos, devemos defendê-lo.