Terminou, na terça-feira, a odisseia da selecção nacional de futebol de praia no Campeonato Africano da modalidade, prova que decorre na turística cidade de Hurghada, no Egipto. Naquela que foi a sua terceira presença na elite do futebol de praia africano, Moçambique entrou com o pé direito na competição vencendo o Malawi, por 4-3.
Depois derrotou a Mauritânia por 4-3, resultado alcançado nas grandes penalidades depois do empate a três bolas no tempo regulamentar. Os resultados, diga-se, positivos contra o Malawi e Mauritânia colocavam Moçambique a tocar o céu e sonhando, naturalmente, com uma possível presença nas meias-finais da competição.
Havia, no entanto, uma selecção chamada Senegal pela frente, uma intransponível e autêntica muralha para o combinado nacional. E voltámos a cair! Desta vez, por 3-6. Moçambique vinha de um ciclo de três derrotas contra o Senegal, duas no CAN em 2021 e 2022 e uma na COSAFA, também em 2022.
A queda do país no “africano” não deve, de forma alguma, ser tratada como um mero assunto e algo que se circunscreve apenas na delegação que esteve no Egipto. É, para mim, um assunto de Estado.
Como nação, somos chamados a reflectir sobre o rumo que queremos dar ao nosso desporto, particularmente o futebol de praia. Há, neste momento, mais quedas que conquistas. Sempre terminamos no quase e nunca chegamos lá. E sempre esbarramos num muro de betão que se chama Senegal e nunca no muro da nossa vergonha.
Enquanto pessoas do bem e desportivamente cultas, há imperativas e inevitáveis perguntas que nos devemos fazer. De onde viemos e onde pretendemos chegar? Qual é projecto para o futebol de praia? Essas perguntas ajudar-nos-ão a reflectir sobre o quanto o caminho das vitórias precisa de planificação, diga-se, muito séria.
Temos de repensar a modalidade no país. É urgente! Não se justifica, por exemplo, que, num país com 2800 quilómetros de costa, o futebol de praia seja praticado apenas na Cidade de Maputo e, como senão bastasse, de forma amadora e fruto de iniciativas de algumas empresas que usam a modalidade para promover os seus produtos.
É, no mínimo, estapafúrdico. Já temos exemplos de fracasso do hóquei em patins, cuja modalidade é também praticada na capital do país, gravitando em quatro clubes, Estrela Vermelha, Académica, Desportivo e Ferroviário de Maputo.
A Federação Moçambicana de Futebol (FMF) sempre vendeu a ideia de que há um projecto de massificação do futebol de praia à escala nacional, algo que nunca passou da teoria à prática.
Enquanto isso não acontece, continuaremos a viver de conquistas esporádicas e continuaremos, acima de tudo, a ver os países da região a agigantar-se na modalidade, tal como o Malawi.
Em 2022, exibimo-nos à África, ao acolhermos o “africano”, em Vilankulo. Dois anos depois, a arena construída para sediar a competição virou um elefante branco. É mais um investimento subvalorizado no desporto. Ainda assim, a FMF pretende construir mais uma arena, em Maputo, com o argumento de piscar o olho às competições internacionais.
Parece-me que somos exímios em organizar competições e em estendermos o tapete vermelho para os outros brilharem. Essa é, se calhar, a única coisa que as futuras gerações poderão tirar da gaveta das memórias quando um corajoso mal-aventurado decidir falar da história do futebol de praia em Moçambique.
Repensemos o futebol de praia, meus senhores!