Os médicos ameaçam fazer greve se a revisão da Tabela Salarial Única não resolver as suas preocupações. Aliás, iam avançar para isso se não tivesse havido recuo por parte do Governo.
Era para os médicos e todos os outros funcionários do Estado já estarem a receber de acordo com a Tabela Salarial Única, mas não aconteceu. Na terça-feira, o Governo decidiu recuar parcialmente da implementação da reforma salarial para resolver as incongruências identificadas.
Com esta decisão, o Executivo salvou o país de ter de lidar com a greve dos médicos, sobretudo os especialistas, isso porque se sentiam injustiçados. O bastonário da Ordem dos Médicos, Gilberto Manhiça, revelou que já até existia o modo de operação da greve.
“Alguns colegas chegaram ao extremo de, para manifestarem o seu desagrado, dizerem que, se efectivamente, o clínico geral e o especialista são iguais, então, quando surgem os casos que precisem dos especialistas, vamos remeter ao clínico geral para que ele resolva. Não há necessidade de especialidade. Isso é um absurdo”, revela.
Esse extremo poderia ser atingido porque, segundo a Ordem dos Médicos, um especialista e um clínico geral passariam a receber o mesmo salário. Ora, “isso representa uma preocupação porque se fica com a impressão de que quem está na gestão, no dia que não tiver médico, pode substituir por um técnico de laboratório com uma formação superior, que não é a mesma coisa”.
E mais, Manhiça recorre a exemplos internacionais para dizer que, normalmente, “os especialistas recebem duas, três, quatro ou cinco vezes mais. Isso mostra que quem gere (nesses países) quer incentivar a especialização dos médicos, mas aqui não se verificava isso”.
Outra questão errada, na óptica dos médicos, é que quem trabalha em zonas distantes da cidade ganhe o mesmo que aquele que não precisou de fazer nenhuma deslocação.
“O médico que trabalha em Maputo e o que trabalha em Cuamba, mesmo que sejam da mesma categoria, não podem receber da mesma maneira”, defende a Ordem dos Médicos, justificando pelo facto de que, normalmente, os médicos têm maior tendência de ficar na cidade do que ir a zonas recônditas, daí que era necessário um incentivo para os que se deslocam.
Porém, não é só isso, há mais. E os médicos dizem ter exposto isso, mesmo antes de a proposta ir à Assembleia da República, mas as suas contribuições foram ignoradas. “Fomos consultados apenas para constar do relatório e, depois, as nossas contribuições foram deitadas na lata de lixo”. Bem, o bastonário espera que essa sua percepção “seja apenas especulação”.
E, agora, fica um aviso: aquilo que não aconteceu por ter havido recuo, pode ter lugar no futuro. “Se a situação se mantiver como estava, manifestações de desagrado não faltarão”.