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Recentes ataques no centro levam transportadores interprovinciais ao desespero

A intensificação dos ataques na Zona Centro do país está a deixar os transportadores interprovinciais desesperados. Só no passado domingo foram quatro autocarros e dois camiões atacados por homens armados, em Sofala, facto que causou a morte de duas pessoas e o ferimento de 8.

No terminal rodoviário interprovincial da Junta, “O País” interpelou Nelson Florindo. Cobrador de um autocarro que faz o troço Maputo-Chimoio há 12 anos contou que os dias estão cada vez mais difíceis.
“Este negócio já não dá dinheiro. Na última viagem de Chimoio para cá, viemos com apenas 15 passageiros. Isso faz com que tenhamos dificuldades básicas de abastecer o autocarro”, lamentou Florindo para depois acrescentar que “vivemos dois dilemas. Se antes eram apenas os ataques que retraiam os passageiros, agora temos a COVID-19 que veio agudizar a situação. Temos notado que tendencialmente viajam passageiros que têm compromissos inadiáveis como casamentos e funerais. As poucas pessoas que viajam têm medo, porque ninguém quer morrer”, contou.

Sobrevivente em dois ataques em 2014, Florindo recordou de um que não lhe sai da cabeça.

“Estávamos numa coluna, de repente, ouvimos os tiros. No autocarro que nos seguia houve uma morte e no nosso um ferido. Foi aterrorizante, são memórias que não me saem da cabeça. Agora voltamos a ter escoltas, mas ainda não sofri ataque, graças à Deus”, confortou-se.

Pai de 8 filhos, Florindo confessou que não pensa em abandonar a actividade porque não tem outra fonte de rendimento.

“A minha família, os meus filhos vivem preocupados. Mas que posso eu fazer, dependo desse negócio para alimentar a eles. Se seu deixar de trabalhar será difícil ter outra fonte de renda para garantir o sustento da minha família. Se o meu destino é ser morto num desses ataques não tempo como impedir. Às vezes os meus filhos dizem papá não vai, mas eu não tenho como ficar porque eles precisam comer, eu preciso trabalhar e o único trabalho que tenho é este”, entristeceu.

Gestores da “junta” dizem que negócio corre risco de colapsar

Reagindo aos últimos ataques, a gestão do terminal rodoviário interprovincial da Junta descreveu a situação como sendo crítica.
“Posso dizer que o nosso esforço está reduzido a zero. Não temos passageiros que nos satisfaçam. A situação está crítica, mas o que não posso lhe dizer é até quando vamos conseguir suportar o negócio”, introduziu Gil Zunguze, adjunto chefe do terminal, para depois descrever o drama vivido pelas empresas de transporte.

“A cada ataque que sofremos é um bem que está a ser danificado e o número de passageiros transportados não compensa esses prejuízos. Maior parte destes carros foram adquiridos através de créditos bancários, associados às despesas dos ataques, os donos das empresas têm que pagar a dívida que têm com os bancos. A banca não quer saber se o carro foi atacado ou queimado naquelas circunstâncias, eles querem o dinheiro deles de volta. Acho que chegaremos ao extremo de não ter carros para colocar as pessoas a viajar porque a situação não está boa”, reiterou.

Segundo Zunguze, clima de insegurança está ter impacto noutras rotas onde não se registam ataques.

“Do jeito que os atacantes actuam quem nos garante que não chegarão a Inhambane ou a outros locais?, questionou para depois acrescentar que “as pessoas têm medo de viajar. Vive-se num clima de insegurança, ninguém quer se arriscar e isso tem graves impactos na nossa actividade”, lamentou para depois lançar um grito de socorro.
“Pedimos ao nosso Governo que faça algo para acabar com esta situação. Porque merecemos paz, merecemos circular livremente no nosso país”, concluiu.

Devido à intensificação dos ataques, os autocarros não conseguem atingir metade da sua lotação.

 

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