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Que estratégias adoptar para tornar as indústrias culturais e criativas sustentáveis?

Proponho-me a abordar a prior os conceitos de “indústria”, “cultura” e de “sustentabilidade” de forma separada, e de seguida, conjugar estes conceitos. E, por fim, sugerir alguns pontos para a estratégias de sustentabilidade da indústria cultural e criativa.

O conceito de “indústrias”, muito resumidamente, são locais de produtividade onde ocorrem transformações de matérias-primas em produtos elaborados para fins comerciais. As indústrias são consideradas o barómetro do nível do desenvolvimento sócio-económico de um país. A revolução industrial que teve início na Inglaterra em finais do século XVIII, não parou de evoluir, e tem seguido ritmos frenéticos onde a criatividade e a inovação são proporcionadas por equipas com elevada escolaridade e formação contínua capazes de propor soluções eficazes e de ponta para os problemas do dia-a-dia. Nessas sociedades, as indústrias, ou seja, o “culto” das indústrias é bastante elevado. Daí surge o conceito de países industrializados! É pertinente questionarmo-nos sobre a nossa saúde do “culto” das indústrias no país. Temos a cultura das indústrias? Como a cultivamos? Aspiramos, sem dúvida! Por isso designam-nos “países em via de desenvolvimento.  Ora, temos aqui um ponto focal importante  a considerar; as indústrias em geral. Pois, na minha óptica, a cultura e a indústria cultural e criativa constitui de forma independente o barómetro do desenvolvimento de uma sociedade.

Por outro lado, temos a Cultura, que é todo o complexo que inclui o conhecimento, as crenças, o saber, a arte, a moral, a lei, os usos e costumes e todos os outros hábitos e capacidades adquiridas pelo homem como membro da sociedade. Em outras palavras, a cultura é a essência e identidade de cada um de nós.

A sustentabilidade, vem do latim “sustentare” que significa, sustentar, apoiar, conservar e cuidar. Assim, o conceito de sustentabilidade está ligado ao desenvolvimento socio-económico, político e cultural, atrelado à preservação do meio ambiente.

A questão que se coloca é: Que estratégias adoptar para tornar as indústrias culturais e criativas sustentáveis?

O que são Indústrias Culturais e Criativas? De onde vem essa ideia e conceito? Porquê, para quê?… Para percebermos os conceitos que não inventamos é importante perceber os “porquês”. Não porque não os inventamos, mas sim, para que possamos nos apropriar com convicção partilhada e reinventar os nossos próprios conceitos que nos identifiquem como cultura e sociedade.

 

Não sou especialista em indústria culturais, mas a minha cultura geral e curiosidade na matéria levou-me a saber que o conceito das indústrias culturais nasce na famosa “Escola de Frankfurt”, na Alemanha, no início do século XX, ora, muito recente, como um projecto de intelectuais vinculados à Universidade de Frankfurt. A escola de Frankfurt foi uma escola de pensamento filosófico e sociológico, filiada ao instituto de pesquisa social. As teorias e conceitos da Indústria Cultural está mais intimamente associado ao trabalho de Max Horkheimer e Theodor W. Adorno. Para quem deseja saber mais aconselho os livros: “A dialética do esclarecimento – Theodor Adorno e Max Horkheimer”, “Indústria Cultural e sociedade – Theodor Adorno” e tenho muito apreço ao trabalho relevante da Moçambicana Matilde Muocha; Industrias Culturais e Criativas – O que são? Como gerir?

Peritas na matéria concluíram que a Indústria Cultural busca padronizar e homogeneizar os produtos artísticos, para que possam ser consumidos pela maioria das pessoas. Assim, as manifestações das artes são principalmente comerciáveis – o que suscita a relação “a arte e o capital”.

A relação entre estratégias económicas e cultura é bastante delicada. Muitos artistas não gostam de relacionar os seus trabalhos com a economia, considerando um perigo para sua liberdade artística. Por outro lado, muitos economistas tratam a cultura como uma actividade irrelevante ou simplesmente como tema que deva ser abordado por outras ciências. Controversamente, os economistas mais progressistas de países desenvolvidos veem nas artes um potencial socio-económico relevante.

A primeiríssima matéria-prima de qualquer indústria é o Recurso Humano. A indústria Cultural e Criativa não foge esta regra. Como vemos, a história nos ensina que todas estas correntes de pensamentos e conceitos nascem nas Escolas, no meio intelectual. Ora, a indústria cultural refere-se às várias empresas que produzem, distribuem, comercializam ou vendem produtos que pertencem categoricamente às artes criativas. Esses produtos podem incluir, livros, filmes, música, roupas, material decorativo para casas, programas de televisão, artesanato, pintura, escultura, arquitetura, etc.

Assim, a EDUCAÇÃO é a sustentabilidade de qualquer indústria. Não há indústria sem ESCOLAS de qualidade e sustentáveis para cada sector, e a indústria cultural não foge desta regra.

Faço advocacia nos seguintes pontos como fundamentais para que a Indústria Cultural seja sustentável:

  1. a) Priorizar a formação profissional de qualidade que resulte em recursos humanos de alta qualidade e, consequentemente, estruturar, apoiar, estimular a criação de Escolas Vocacionais e profissionais de qualidade sem limites. Esta solução, por mim, não passa só pelo Governo, mas também pelo sector privado. Aliás, todos sabemos que não há sociedade que possa desenvolver sem um sector privado forte e que trabalhe de mãos dadas com os reguladores das estratégias comuns;
  2. b) Criação de mecanismos e acessibilidade de oportunidades de empregos e capacitação permanente;
  3. c) Criar mecanismos e políticas culturais sustentáveis, simples, progressistas, inclusivas, adequada à nossa realidade, tendo em conta as disparidades do desenvolvimento regional; d) Criar mecanismos de advocacia do valor e consumo das artes, dando valor ao trabalho dos artistas;
  4. e) Educar o grande público a importância das artes;
  5. f) Criar referências de preços que regulem o mercado versus qualidade;
  6. g) Proteger o património cultural e criar redes de valorização do consumo da nossa arte além fronteiras;
  7. h) Criar instituições que promovam e representem o artista no mercado internacional;
  8. i) Estudar, preservar, inovar e proteger artigos que representem o património cultural sustentável para as gerações vindouras;
  9. j) Utilizar de forma sustentável as matérias-primas para construção de instrumentos, por exemplo a Mwenge, utilizado pelo Machopes está em vias de desaparição porque é decimado para o carvão…;
  10. l) Criação de estratégias que apoiem a capacitação dos artistas mais vulneráveis nos diversos sectores: artesãos, pintores, jovens arquitetos, músicos que vivem fora das grandes cidades…; m) Investir em estudos e pesquisas sustentáveis…

Estas são algumas das soluções que posso sugerir. Claro, é um tema rico, novo, interessante e merece toda a nossa atenção, estudo e reflexão estruturada. A criação de normas e políticas da indústria cultural e criativa não devem ser levadas à ligeira, ou seja, devem ser discutidas e feitas com profissionais e peritas das diversas áreas sob pena de termos legislações e enquadramento fracos, inaplicáveis e isolados à nível regional e internacional.

Não há negócios sustentáveis sem conhecimento prévio, sem profissionalização, sensibilização aos consumidores e valorização do produto a ser comercializado. Sensibilizar a nossa sociedade do valor de uma obra de arte versus uma caixa de cerveja, é todo um percurso a percorrermos.

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