Por David Almeida Francisco Houana
Montagem Teatral: O Tartufo
Montagem: Escola de Comunicação e Artes – UEM
Caros leitores & leitoras,
começamos este texto quase crítico repisando um pensamento já antigo, o da efemeridade do Teatro. Em Dionísio este processo envolve máscaras, representação e purgação das emoções. Em contrapartida, nas terras subsarianas tomadas por religiosidade fervorosa e Tartufos, a arte dramática digladia com a santa Igreja, afinal o público é o mesmo.
Em contra mão, o teatro e a igreja têm mais semelhança do que diferenças, ambas têm um palco onde pode subir o santificado padre/pastor e noutro encontramos personas personagens e preformares, ambas manipulam os estados d’spirito e os seus públicos pagam para assistir as apresentações. No teatro pagamos na entrada, já na igreja pagamos para ir ao céu, na religião podemos pagar com os nossos carros, casas e, por vezes, uma vida inteira doada a uma figura de Deus cujo o seu representante oficial é o tartufo!
No dia 1 de Dezembro, os estudantes da Escola de Comunicação e Artes, II ano Teatro, abriam as portas de uma casa que poderia ser qualquer uma em Moçambique para mostrar a engenharia dos homens de Deus que já avistaram até as sandálias de Abraão.
Dia 1 no calendário cénico, a casa é uma baderna religiosa, literalmente, talvez porque o teatro potencializa a vida e com isso, uma igreja transcende a que temos no nosso tipo ideal e pode se transformar em verdades difíceis de engolir.
Dia 2, enfrentamos o disco musical usado na igreja para levar o povo ao clímax e rimos bastante.
Dia 3, o lugar a apresentar o Tartufo tinha uma Avenida enorme cuja iluminação cénica era convencional e naturalista, só com adereços e sem cenografia.
Dia 4, esta patente que o teatro é um jogo de xadrez, que deve ser dinâmico, contudo, em algum momento das jogadas cénicas as personagens estavam com o saco cheio pela presença de Tartufo na sua casa, deixaram cair cadeiras através da mesa e os filhos de Dionísio ignoram, para os fiscais da estética aquilo era gritante.
Prezados leitores, partindo daqui migramos ao segundo ou terceiro ponto de reflexão.
No teatro as personagens nos roubam tudo, no início emprestamos o corpo, depois a voz, as memórias, essas entidades sempre querem mais, TRASFERÊNCIA, transferimos sonhos e desejos, mesmo com isso, elas sempre querem mais e roubam tudo e mais alguma coisa, até a uma Gota.
No caso do espectáculo supra citado, o tartufo roubou tudo! Entrou pela fé e alegações de curar o diabo que há neles, o Tartufo abusou, cometeu adultério com a dona de casa, apreciou a mulher e a filha do outro, dividiu a família e usurpou a casa, cometeu os sete pecados e desrespeitou os dez mandamentos, típico de personagens que sugam até o talo, nesse processo o Actor que compôs o Tartufo junto com a Sogra, e a Amada esposa carregaram o espectáculo nas costas e, por isso, merecem todo dízimo do mundo.
Tartufo irá para o céu?
RISOS, o espectáculo era risível e domado de caracteres inferiores, isso dá comicidade a qualquer acto. Porém a palmatória vai ao actor que compôs a personagem gay, ESTERIÓTIPO, aquela máscara era desconfortável para ele e este julgava o papel.
Olhando a Dramaturgia, redescobrimos o Molière e a sua comédia dos costumes e percebemos o quão actual é no país de Ngunhunhane e Moça All Bique.
03.12.2022
Ficha Técnica
Dramaturgia
Jean-Baptiste Poquelin O Molière
Adaptação
O Tartufo
Actuantes
Francisco Novunga
Gaspar Napaho
Salomao Nhambule
Argentina Mazuze
Solange Charles
Parcia Arnuario
Encenação
Encenação coletiva, turma do II ano Teatro UEM 2022
Direcção e Supervisão
Maria Atália