Depois de perder os pais na infância e passar por dificuldades, uma professora criou, na Cidade de Maputo, o projecto “No semáforo se aprende”. O objetivo é resgatar crianças e jovens das ruas para a escola através do ensino.
Na Cidade de Maputo, os semáforos são uma oportunidade para jovens e adolescentes. Limpam vidros e vendem artigos de carros como forma de garantir seu sustento.
Nunca lhes tinha passado pela cabeça que no semáforo também se aprende, até conhecerem a professora Catarina Sive.
Catarina Sive tem 25 anos de idade e é professora e estudante de Matemática. Ela perdeu os pais quando criança. Através do projecto “No semáforo se aprende”, Sive procura retribuir a ajuda que teve para se formar.
“Eu passei por necessidade e vejo a necessidade de ajudar o outro. Por isso abracei esta causa e não me desvio. Eu estou nisso”, declarou.
As aulas arrancaram em Fevereiro deste ano. No início, não era fácil reter os alunos, por isso a professora teve uma ideia. Ela desafiava os alunos a resolverem problemas matemáticos em troca de peças de roupa. A metodologia resultou. Em oito meses, o projecto conseguiu formar três turmas em três avenidas da Cidade de Maputo.
Na iniciativa, estão dois professores de Matemática, dois de Língua Portuguesa e um psicólogo. Todos voluntários.
O material didáctico vem de doações. A começar pelo portão da casa de Énia Zandamela, que serve de quadro.
“É de louvar. São poucas as pessoas com ideias de ajudar os outros. Então eu aceitei sem pensar”, disse.
Com três turmas, “No semáforo se aprende” tem 21 alunos, na sua maioria rapazes. As raparigas são difíceis de encontrar. Mas já há um plano para as resgatar, e consiste em criar uma turma nos mercados. Nos mercados, há muitas raparigas que não vão à escola”, explicou a professora.
A ideia não é permanecer no semáforo para sempre. Catarina Sive diz que o próximo passo do projecto é regularizar a documentação dos alunos de modo a reintegrá-los nas escolas. No entanto, enfrenta dificuldades pois a maioria dos seus alunos é fruto do êxodo rural, por isso, mesmo depois de fazer o levantamento dos nomes e a última classe a frequentar, se torna difícil obter os dados a partir da escola de origem de cada aluno.
No Semáforo, a jovem professora leva a escola para aqueles que não tiveram a oportunidade de frequentar uma, ou que abandonaram os estudos por falta de condições. É o caso de Benigno Sive, que limpa vidros e vende artigos para carros.
Natural da província de Gaza, distrito de Chongoene, o jovem de 23 anos de idade dirigiu-se à capital em busca de melhores condições de vida.
“Estudei até à 9a classe e passei para décima, mas, no ensino secundário, é preciso dinheiro para fichas”, disse o jovem.
A falta desse dinheiro levou-o a abandonar os estudos, mas, com as aulas no semáforo, aprendeu que os sonhos nunca devem morrer, por isso espera poder voltar à escola e, no futuro, tornar-se Presidente da República de Moçambique.
Apesar da luta da professora Catarina Sive em levar mais pessoas à escola, Cecília Malave, docente reformada e com 43 anos de experiência no ensino, diz que não é suficiente haver iniciativas individuais, tendo em conta que mais de 2 milhões de crianças em idade escolar estão fora do sistema de ensino.
“O investimento feito não era suficiente para demandas do sector da educação. Para exigirmos do estudante, também temos que fornecer material ao estudante. Ainda há uma necessidade de investirmos na política educacional do país. Tem que ser esta a aposta. Formação de qualidade”, defendeu a professora.
A aposta nas tecnologias de informação e comunicação seria outra forma de garantir mais qualidade no sector, na opinião de Elsa Mambero, professora há mais de 20 anos.
“Que os professores ou o ministério da educação nos capacite de modo a ganharmos mais conhecimento das tecnologias de informação para estarmos melhor inseridos no mundo da globalização, da internet”, apelou.
Apesar dos desafios, estas três professoras, com três histórias que convergem na missão nobre – formar pessoas – desejam aos colegas um feliz Dia dos Professores.