Um jovem de 34 anos de idade foi alvejado mortalmente pela Polícia supostamente por ter partido o vidro do carro dos agentes, na cidade de Maputo. O facto deu-se no passado dia 19 de Junho e o corpo só foi achado no dia 29, na morgue do Hospital Central de Maputo, depois de várias buscas da família da vítima. A Polícia diz que ainda vai apurar mais informações sobre o caso e só depois disso vai reagir.
Ouvem-se cantos de luto na família Fumo. Olhos estão mergulhados em lágrimas. Os que são, aparentemente, fortes tentam, consolar os outros. Tudo para tentar esquecer a morte de César Fumo, de 34 anos, alvejado pela Polícia da República de Moçambique, na Cidade de Maputo.
O incidente deu-se na noite do dia 19 de Junho, por volta das 21 horas no bairro Magoanine, para onde o jovem se dirigiu depois de sair do trabalho com intuito de se divertir, mas nem tudo correu como o planeado.
“Por volta das 21h40, falou com a mãe para informar que já havia saído do trabalho e que estava num sítio habitual a brincar um pouco e daquela hora, desapareceu”, contou Ramiro Sitoe, tio da vítima.
Mas antes de desaparecer, segundo relatos da família, César Fumo terá atirado uma pedra contra o carro da Polícia, tendo causado danos na viatura. Um acto que lhe custou a vida.
“Quando soubemos do caso de baleamento fomos até à Direcção do Serviço Nacional de Investigação Criminal para buscar explicações, e lá disseram-nos que ele levou uma pedra e atirou contra o carro da Polícia, porque estava embriagado. Por isso, a Polícia, de repente, baleou, mortalmente, ao jovem num dos membros do corpo”, reconstituiu Felimone Mucavel.
Depois do sucedido, ninguém comunicou a família sobre o facto. “Faltou comunicação por parte das autoridades, porque se espalhassem a informação nos outros postos policiais, acho que não teríamos levado tanto tempo nas buscas”, observou Ramiro Sitoe.
Ou seja, depois do baleamento mortal, a Polícia não comunicou a ninguém sobre o sucedido e, notando o desaparecimento do seu filho, os familiares começaram com as buscas que duraram 10 dias. O corpo foi encontrado na morgue do Hospital Central de Maputo, com marcas de baleamento, que foi levado pelos agentes do Serviço Nacional de Investigação Criminal.
“Quando lá chegamos, o corpo já estava num estado avançado de decomposição e ouvimos que ele foi espancado pela Polícia. Aliás, isso só aconteceu depois de muitas buscas e, por sorte, achamos o nosso filho”.
Tiveram a sorte de achar o corpo e o azar de ter perdido seu ente querido para a morte causada pelos agentes da PRM por uma razão, aparentemente, banal.
“Dizem que partiu vidro de carro de Polícia, mas a viatura da Polícia é do Estado. Se, ao menos, eles tivessem pedido para pagarmos, nós o teríamos feito”, afirmou o pai da vítima, num tom carregado de tristeza.
Já não vai a tempo de pagar o vidro que, supostamente, foi o motivo do assassinato do jovem de 34 anos, mas ainda pode se exigir justiça. É o mínimo que os familiares exigem.
“Eu a falar porque sou homem, mas eu estou há alguns dias sem comer porque sinto muita dor”, desabafou Fernando Fumo. Em meio a apelos para que se faça algo. “Que a justiça seja feita, porque o desaparecimento físico de uma pessoa é doloroso”, apelou uma familiar da vítima, secundada por Felimone Mucavel. “A Polícia não pode trabalhar assim, matando pessoas. Podiam algemar, menos assassinar”.
Até aqui, ainda não se sabe quantos agentes da Polícia estão envolvidos na morte do jovem de 34 anos, o local exacto onde tudo aconteceu e muito menos as reais motivações que culminaram com o assassinato de César Fumo.
Para ter mais detalhes sobre o caso, “O País” contactou o Serviço Nacional de Investigação, que removeu o corpo para a morgue do Hospital Central de Maputo, que submeteu-nos ao comando da PRM na cidade de Maputo e este último prometeu se pronunciar, oportunamente, depois de se inteirar sobre o caso.
Os restos mortais de César Fumo foram a enterrar esta quinta-feira.