O escritor Francisco Noa diz que os erros detectados no livro de Ciências Sociais da 6ª classe colocam a nu problemas profundos no Sistema Nacional de Educação. Já Carlos Paradona defende que as erratas são uma solução paliativa e teme que as mesmas contenham novos erros.
Às vozes de indignação em relação aos erros detectados no livro da 6ª classe junta-se a classe de escritores. Francisco Noa defende que o escândalo constitui o auge dos problemas que enfermam o sector da educação no país.
“Nos dias actuais, questiona-se, cada vez mais, a qualidade dos quadros que são colocados no mercado do trabalho depois de terem feito um curso superior. E, se formos a verificar, esses erros começam no ensino primário, no ensino básico. Isso significa que há um trabalho aturado que deverá ser feito. Entendo que esta situação constitui uma oportunidade para pensarmos o sistema educacional em Moçambique. E sabemos que todo o sistema está com problemas a todos os níveis”.
“MINISTÉRIO ESTÁ A OPTAR PELA SOLUÇÃO MAIS FÁCIL”
Para o também professor universitário e doutorado em Literaturas Africanas de Língua Portuguesa, as erratas não irão resolver o problema. “Entendo que o Ministério da Educação está a correr atrás do prejuízo e, obviamente, a solução mais fácil é optar pela errata, mas, pela experiência que tenho, pouca gente lê erratas. Isso significa que possivelmente, não estamos a resolver o problema. Quando temos problemas dessa dimensão, devemos atacar a raiz. Portanto, neste momento, nós estamos a agarrar-nos à superfície. A errata é um problema de superfície”, defendeu o académico para, em seguida, argumentar que “os erros que aparecem neste manual são conceptuais, não são simples gralhas. As erratas funcionam muito bem para gralhas, mas a errata não é uma solução definitiva. Vai resolver o problema do Ministério da Educação, mas não resolverá o problema dos destinatários”.
Questionado sobre o que poderia estar por trás desta situação, o escritor apontou sectores. “Acredito que houve falha no processo de produção, mas também terá havido falhas no processo de controlo. Antes, tínhamos um sistema de produção mais simplificado em que o INDE produzia o livro e a Diname fazia a distribuição e esse processo acabava por ser mais controlado. E, hoje em dia, a produção dos manuais é feita no exterior.”
“PODEM APARECER ERRATAS COM ERROS”, PARADONA
Já Carlos Paradona, secretário-geral da Associação dos Escritores Moçambicanos (AEMO), defende a criação de uma comissão de leitura ou uma comissão nacional do livro didáctico com individualidades credíveis para evitar casos semelhantes. “Além das entidades governamentais, nessa comissão, haveria outras entidades interessadas nesse processo, falo de escritores, professores, as editoras, entre outras individualidades para que os nossos livros tenham qualidade, pois deles dependem os homens do amanhã”.
Paradona junta-se aos que defendem que as erratas não são uma solução definitiva. “Como garantir que as erratas sejam, de facto, erratas. Do jeito que a coisa está pode haver erratas com erros. Defendo que se deve fazer um esforço por parte das entidades responsáveis para a substituição. Para este ano, parece-me impossível que seja possível a substituição do livro. Temos que ser mais responsáveis, os pais e encarregados de educação, os alunos, a sociedade civil, devemos lutar todos juntos para minimizar os impactos dessa situação.”
Os escritores defendem uma reflexão profunda a todos os níveis, pois os efeitos desses erros podem penalizar o futuro das crianças.