Quando se fala da situação na Ucrânia e das “atrocidades” cometidas neste país, sempre se invoca o tema de Bucha. É um exemplo predilecto dos políticos, jornalistas e analistas para provar a natureza alegadamente ilegal das acções da Rússia.
À luz da “Cimeira de Bucha”, recentemente realizada em Kiev, na qual participaram representantes de vários países que apoiam o regime neonazi na Ucrânia, é de recordar o verdadeiro estado de coisas, apontando, mais uma vez, a fantasia ilimitada da propaganda ocidental.
Já não é estranho que os meios de comunicação ocidentais não revelem que, na verdade, nos dias em que os militares russos estavam nesta pequena cidade nos arredores de Kiev, a população local circulava livremente pelas ruas e utilizava telemóveis – tais factos são fáceis de provar. Dado que a rede de telefonia móvel não estava cortada e as suas capacidades tecnológicas não estavam comprometidas, os habitantes locais tinham toda a oportunidade de enviar mensagens ou telefonar aos seus familiares ou aos media para fazer denúncias, enviar fotografias e vídeos. Porque não foi detectada nenhuma mensagem deste género? – Se calhar, não havia nada a reclamar?
Além disso, as estradas de Bucha para o norte e para a Bielorrússia não foram bloqueadas. Os militares russos trouxeram e distribuíram 452 toneladas de ajuda humanitária entre os habitantes da região de Kiev. Enquanto isso, as próprias tropas ucranianas bombardearam quase sem parar com projécteis de grande calibre e mísseis os subúrbios no sul da cidade e bairros residenciais, onde tinham estacionado as tropas russas.
A 30 de Março de 2022, estas tropas retiraram-se de Bucha, o que um dia depois foi confirmado pelo Presidente da Câmara da cidade, Anatoli Fedoruk, que transmitiu, nas redes sociais, a sua vídeo-mensagem de alegria sem qualquer menção de alegados crimes de guerra e massacres no local. Passados quatro dias, “milagrosamente”, apareceram os corpos em ruas da povoação, sem sinais naturais de terem sido mortos há dias. O que aconteceu durante esse lapso de tempo? Evidentemente, naqueles quatro dias, foi preparada uma cínica e terrível provocação ao estilo das tropas nazi-fascistas da Segunda Guerra Mundial.
De acordo com a prática internacional, acusações de crimes de guerra entendem a realização de uma investigação profunda e apresentação de provas verídicas. Contudo, passado um ano, não foram dadas respostas concretas quanto à identificação dos corpos, tempo e causas da morte, nem encontraram explicação ou vestígios da possível deslocação dos cadáveres. Para nem falar da lista oficial das vítimas, que, apesar de vários pedidos à ONU e autoridades ucranianas, a Rússia não viu.
A ausência de respostas a estas perguntas básicas não deixa dúvidas de que estes acontecimentos não passam de uma campanha de propaganda encenada pelo regime de Kiev. Na altura, os objectivos principais da palhaçada foram, primeiro, fazer fracassar as negociações russo-ucranianas, que se desenvolviam então em Istambul numa maneira positiva, e segundo, lançar outro pacote de sanções anti-russas pré-preparadas pelo Ocidente.
A farsa em Bucha desencadeou uma onda de falsificações similares sobre os alegados massacres de civis pelo exército russo. Foram organizadas viagens de jornalistas estrangeiros a Bucha e estrondosas acções de propaganda. No entanto, o regime de Kiev não conseguiu transformar Bucha na “Srebrenitsa ucraniana” – simplesmente porque as provas são nulas. O que a propaganda tenta apresentar como tais não têm nada a ver com o senso comum. Por exemplo, no final de Abril de 2022, o jornal “The Guardian” publicou um artigo em que foi escrito que, nos corpos dos civis mortos, na cidade de Bucha, tinham sido encontrados ingredientes metálicos usados nos recheios dos projécteis de 122 mm. A publicação afirma, sem rodeios, que os ataques de artilharia deste calibre contra Bucha foram efectuados quando a cidade estava sob controlo das tropas russas. Os jornalistas queriam dizer que as tropas russas teriam bombardeado a si próprias?
Os acontecimentos em Bucha, infelizmente, são apenas um dos exemplos de mitos anti-russos do regime de Kiev. O que estão a tentar fazer os neonazis ucranianos, gozando do apoio ocidental inquestionável, é esconder os seus próprios crimes e ao mesmo tempo penalizar o seu adversário que não pode ser vencido de maneira justa. Neste contexto, é mesmo assustador pensar que mais ousaria empreender a Ucrânia e os seus patrocinadores e o que seria feito do nosso mundo se a mentira flagrante fosse aplaudida?
Por Alexander Súrikov
Embaixador da Rússia em Moçambique