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População de Cabo Delgado continua à procura de respostas sobre o terrorismo

Foto: RFI

Oito anos após o primeiro ataque terrorista em Mocímboa da Praia, ocorrido a 5 de outubro de 2017, a população de Cabo Delgado continua sem respostas claras sobre a origem e as motivações do grupo armado responsável pela violência que devastou a província.

“Perdemos família, amigos e quase tudo o que tínhamos. Milhares de pessoas abandonaram as suas zonas de origem. O que está realmente a acontecer? Quem são eles? O que querem e até quando vamos viver assim?”, questiona Momade Insa, deslocado de Macomia, que vive em Pemba há quase cinco anos com parte da família que sobreviveu aos ataques.

Popularmente conhecido por Al-Shabab— termo árabe que significa “jovens” — o grupo armado continua a ser um enigma. Oficialmente, pouco se sabe sobre a sua composição e motivações. Algumas vozes atribuem o início do conflito à descoberta de recursos naturais na província, mas o grupo tem negado essa relação, afirmando em vídeos divulgados nas redes sociais que o seu objetivo é instalar um Estado Islâmico, uma espécie de califado em Cabo Delgado.

“Na verdade, ninguém sabe o que está a acontecer. Só vemos imagens de pessoas decapitadas, aldeias queimadas, infraestruturas destruídas e vídeos nas redes sociais, especialmente no WhatsApp, onde o grupo aparece a falar com populações, dizendo querer criar um Estado Islâmico. Se é verdade ou não, eu não sei”, conta Omar Selemane, deslocado de Mocímboa da Praia que agora vive numa aldeia de reassentamento em Chiure, no sul da província.

Desde o início da insurgência, cerca de mil pessoas de várias nacionalidades foram detidas por suspeitas de envolvimento em crimes que vão desde homicídio e posse ilegal de armas até incitação à desobediência e terrorismo. Contudo, as autoridades ainda não revelaram publicamente a origem nem as motivações reais do grupo armado.

“Estamos muito preocupados. Sem sabermos quem são essas pessoas nem o que pretendem, será difícil, ou até impossível, resolver este problema que, além de causar mortes e destruição, está a deixar a população profundamente traumatizada”, lamenta Saide Invita, sobrevivente do ataque à vila de Quissanga — um dos distritos classificados como de alto risco.

Alguns académicos têm procurado explicar o fenómeno através de estudos que apontam para fatores como a ausência do Estado, a pobreza extrema e a disputa pelos recursos naturais. No entanto, essas teorias, embora fundamentadas, não convenceram totalmente a população, que continua sem compreender as verdadeiras causas da violência que já se expandiu para as províncias vizinhas de Nampula e Niassa.

Desde 2017, estima-se que cerca de cinco mil pessoas perderam a vida e quase dois milhões foram deslocadas devido ao conflito. Apesar da forte presença militar das Forças de Defesa e Segurança de Moçambique, com apoio do Ruanda, Tanzânia e forças locais, o fim do terrorismo em Cabo Delgado ainda parece distante.

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