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Políticos, confissões religiosas e sociedade devem reconciliar-se

O antigo Presidente da República apela às igrejas para abandonarem as diferenças e partilharem uma mensagem única de apelo ao entendimento. Joaquim Chissano, que falava ontem, numa reunião inter-religiosa, disse que a sociedade precisa de se reconciliar.

“As religiões podem construir paz e educar por ela. As religiões não podem ser usadas para a guerra. Só a paz é santa; e que ninguém use o nome de Deus para ‘abençoar’ o terror e a violência”.

Foi este o cerne das mensagens partilhadas, esta terça-feira, no recinto da Sé Catedral, em Maputo, num encontro de diferentes religiões.

Techa Nanja, da Comunidade de Santo Egídio, organizadora do evento, foi quem leu o apelo de paz, um documento que foi posteriormente assinado pelas confissões religiosas presentes no encontro.

O documento apresenta uma série de compromissos que as igrejas devem assumir para, internamente, partilhar o amor, compaixão e tolerância.

O encontro decorreu numa altura em que o país celebra os 30 anos da assinatura do acordo de paz e reconciliação, uma palavra (reconciliação) que o antigo Presidente da República diz ter muito significado.

Segundo Joaquim Chissano, a sociedade está rompida, por várias razões, mas ela não pode continuar assim, se quisermos alcançar a verdadeira paz, e as igrejas são fundamentais neste processo.

“As igrejas e mesquitas estão muito mais propensas a encontrar situações em que são chamadas a dirimir conflitos familiares, porque estão em toda a parte, estão em contacto com as famílias e sabem onde houve ruptura da sociedade”, disse Chissano, durante a sua intervenção.

O antigo dirigente afirmou que “o tecido social foi rasgado ao meio”, por isso urge a sua reconstituição, muito mais do que dirimir conflitos entre “Frelimo e Renamo”.

“Não haverá reconstituição, se ela não abranger os pedaços do tecido social que estão dispersos”, disse.

Para Joaquim Chissano, além do terrorismo, o consumo excessivo do álcool, os acidentes de viação e a violência contra idosos são também desafios da paz que devem ser combatidos.

“Se somarmos os acidentes de viação que ocorrem em cada província, veremos que há muitos acidentes e morrem dezenas de pessoas. Há violência entre filho e avó, acusada de feitiçaria, que mata, incendeia casas… Há violência em todo o lado, por isso somos nós, reunidos hoje, que devemos ir a essas casas e falar palavras simples, directas e que afectam a vida dessas pessoas”.

Os apelos à paz também vieram do Vaticano, através de uma mensagem do Papa Francisco, interpretada pelo Núncio Apostólico.

Na sua mensagem, Papa Francisco apela ao povo moçambicano (crianças, jovens, adultos e idosos, políticos, académicos, estivadores e farmeiros) a assemelhar-se ao “bom samaritano”, que, vendo um carenciado, não hesitou em ajudá-lo.

Com esta parábola, segundo Dom Piergiorgio Bertoldi, o Papa apela à interajuda, sentimento de irmandade, compaixão e não discriminação, pois o seu oposto abre espaço para as desavenças que culminam em conflitos.

Na ocasião, o conselho cristão apelou ao desenvolvimento de acções concretas para a mudança do comportamento da sociedade, tendo destacado os vários tipos de violência, com destaque para os crimes de rapto.

Já a comunidade Hindu defendeu que o amor, paciência, tolerância e compaixão sejam sempre partilhados em todo lugar, para o alcance da paz.

“Receba a sua parte sem roubar a dos outros; preencha as suas necessidades sem privar as dos outros; satisfaça os seus desejos sem impedir que os outros alcancem as suas ambições; resolva os seus problemas, sem criar problemas aos outros; a paz é a única forma de nos sentirmos moçambicanos”.

A reunião inter-religiosa, realizada por ocasião dos 30 anos da assinatura do Acordo Geral de Paz, juntou as comunidades cristã, mahometana, hindu, governantes e políticos, com intuito de definir acções concretas das confissões religiosas na busca da paz.

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