O representante da comunidade moçambicana na África do Sul diz que há muitos nacionais envolvidos na onda de pilhagem que durou cerca de duas semanas no país vizinho. Gabriel Chaúque diz que ainda não há números concretos, mas, dentro em breve, arranca um trabalho de visitas pelos estabelecimentos penitenciários para apurar informações.
Até aqui, Fernando Benezário Francisco Vilanculos, que morreu tentando pilhar bens de um contentor de mercadorias, é o único nome público de moçambicanos envolvidos na onda de escaramuças que duraram duas semanas e geraram crise na África do Sul.
Quando esta notícia foi avançada, o representante da Federação das Comunidades Moçambicanas na África do Sul, Gabriel Chaúque disse que “podem existir outros moçambicanos envolvidos, até porque os que fizeram chegar a informação da morte de Fernando estavam com ele no assalto”.
Antes era só uma suspeita, mas agora há certeza – há muito mais moçambicanos envolvidos. “Infelizmente, ainda não sabemos quantos concretamente estão nas cadeias e quantos estão mortos, mas existem mais envolvidos”, diz Chaúque.
E é para ter números concretos que a Federação das Comunidades Moçambicanas na África do Sul vai começar com trabalhos de busca nos próximos dias, sendo o ponto de partida visitas pelos estabelecimentos penitenciários para onde foram encaminhados os mais de três mil detidos.
“Mantemos contactos com as autoridades das jurisdições de Gauteng, Kwazulu-Natal e Johannesburg. Estamos a formar uma equipa para visitar todos os sítios onde foram encaminhados todos os que foram encontrados a cometer crimes de vandalização e saque. Depois desse trabalho, teremos dados”, avançou o presidente da Federação das Comunidades Moçambicanas na África do Sul.
Enquanto a campanha de identificação dos detidos não começa, as atenções das autoridades sul-africanas estão viradas na recuperação dos bens que foram saqueados na terra do rand.
É por isso que Gabriel Chaúque lança um alerta aos transportadores que fazem a rota dos dois países, no sentido de não transportarem mercadorias suspeitas, porque alguns compatriotas envolvidos podem querer encaminhar esses produtos para Moçambique.
“É preciso garantir que tudo que levam tenha recibo, porque podem cair num roadblock e a viagem acabar por aí”, esclareceu.
Em duas semanas, as escaramuças, que começaram como campanhas contra a detenção de Jacob Zuma, resultaram na vandalização e saque em mais de 200 centros comerciais nas províncias de Gauteng, Kwazulu-Natal e Johannesburg.
No dia em que anunciou o fim da violência, Cyril Ramaphosa garantiu que todos os envolvidos serão responsabilizados – “Tomaremos medidas para proteger todas as pessoas neste país contra a ameaça de violência, intimidação, roubo e pilhagem”, frisou Ramaphosa.
Um total de 276 pessoas morreram durante os dias de escaramuças, de acordo com o balanço das autoridades sul-africanas, feito no dia 21 de Julho passado. A África do Sul, que já estava numa crise recentemente agravada pela pandemia da COVID-19, viu-se a ter de rever as suas estimativas de recuperação económica. Aliás, dias depois dos tumultos, vários sul-africanos não tinham bens básicos para consumo.
A par do Governo, diversos actores sociais continuam a avaliar os danos milionários — que incluem supermercados, fábricas e armazéns, pequenas empresas e até escolas — e os instrumentos de ajuda económica aos afectados.
O surto de violência foi alimentado por problemas sociais pré-existentes, como extrema desigualdade, desemprego, altos níveis de criminalidade geral no país e má gestão da pandemia da COVID-19.