A cidade de Pemba, capital de Cabo Delgado, recebe diariamente centenas de deslocados em consequência dos ataques armados que tendem a intensificar e alastrar-se nas zonas centro e norte da província.
Segundo apurou “O País”, a maior parte da população abandonou as suas aldeias depois de supostos terroristas terem assassinado civis, incendiaram as casas e pilharam bens. Na circunstância, algumas famílias fugiram devido ao medo e o clima de terror reportado nas zonas circunvizinhas.
“Eu estou aqui [em Pemba] por causa da guerra dos Alshababe [grupo de insurgentes]” que chegaram ao distrito de Macomia e submeteram pessoas a maus-tratos e assassinaram outras, “em Mucojo, há uma semana”, contou Assane Malik, depois de desembarcar na praia de Paquitequete numa embarcação que vinha de Matemo, na Ilha do Ibo, onde havia se refugiado. Mas acabou saindo para Pemba alegadamente por falta de condições.
Alguns deslocados chegaram a Pemba com alguns bens que conseguiram levar consigo durante os ataques armados. Contudo, maior parte da população chegou à capital de Cabo Delgado de mãos praticamente vazias porque tudo o que tinha foi reduzido a cinzas no momento em que as suas casas foram incendiadas.
“Queimaram todas as casas e nós vimos que já não dava para ficar. Por isso viemos para cá [Pemba]”, explicou Chabane Fundi, um idoso que desembarcou apenas com a sua esposa e quatro netos com quem vivia na aldeia Darumba, distrito de Quissanga.
Alguns deslocados foram recebidos pelos familiares e amigos, mas outros ainda não sabem onde vão viver nem como vão sobreviver.
“Eu venho de Quirambo, na Ilha do Ibo. Não sei para onde vou, muito menos o que vamos comer. Mas é melhor estar aqui do que viver com medo todos dias”, disse Anli Assane, que desembarcou em Pemba com 14 membros da sua família, dos quais duas esposas, seis filhos e cinco netos.
Desde que iniciaram os ataques terroristas em Cabo Delgado em 2017, já foram contabilizados mais de 300 mil deslocados, pouco mais de mil mortos, entre civis, militares e os supostos terroristas.
Milhares de casas e infra-estruturas públicas e privadas também ficaram destruídas e abandonadas. O número das mesmas é ainda indeterminado. As vias de acesso estão cortadas e, actualmente, não há informações oficiais sobre o que está acontecer nas sedes dos distritos de Mocímboa da Praia e Quissanga, que há mais de dois meses estão praticamente isolados do resto da província.