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Paquitequete (Pemba) tem casas com mais de 60 pessoas acomodadas

Foto: O País

A situação humanitária em Pemba, em cabo Delgado, é bastante preocupante. No bairro de Paquitequete há casas que albergam mais de 60 pessoas. A alimentação, as condições de higiene e até sítio para dormir constituem um desafio diário.

Os becos do bairro de Paquitequete, na periferia da cidade de Pemba, levam-nos a uma realidade social degradante, resultante da chegada massiva de deslocados das zonas afectadas pelo terrorismo no norte da província de Cabo Delgado. Numa das casas que escalamos viviam cinco pessoas, mas de um momento para o outro o número disparou para 58.

Muitos chegaram na última semana, fugindo da violência, com a intensificação das incursões dos terroristas. A casa é pequena para acomodar tanta gente, por isso, o recurso encontrado foi improvisar cabanas no quintal para garantir o mínimo de protecção durante a noite.

A falta de saneamento do meio cria condições propícias para a eclosão de doenças diarreicas. Ninguém quis falar por temer represálias, mas soubemos que famílias acolhedoras como as tantas existentes em Paquitequete não recebem apoio em produtos alimentares e passam por enormes dificuldades.

“Conheço uma família que tem 58 pessoas e aqui onde estamos contabilizei 35 pessoas e tem outras casas que têm um número maior”, disse Atija Mamudo, activista voluntária e residente do bairro de Paquitequete.

O dia nasce. A expectativa toma conta das pessoas. A tarde chega e no fundo é mais um dia que passa, sem trazer nada de novo – esse é o dia-a-dia de muitas famílias hospedeiras.

Chegou à cidade de Pemba, juntamente com outros parentes e perfazem 23 pessoas albergadas numa mesma casa. Chama-se Argentina Paulo e tem 19 anos.

Ela conta que por falta de espaço no interior da casa, muitos dormem no quintal. Conseguir comida é também uma batalha diária e nem sempre bem-sucedida. “Às vezes comemos arroz branco por falta de caril”.

Mas esse não é o maior drama que já viveu: ela deu a luz ao seu primeiro filho, em Fevereiro, num mangal, quando fugia do conflito em Quissanga.

Encontramos outra mulher que foi acolhida com a sua família naquele bairro periférico de Pemba. Tem seis filhos, o último nasceu há dias, durante a viagem de fuga numa das ilhas.

“Este filho viria a nascer entre os mangais da região de Matemué. Tiveram que interromper a viagem para ela poder descer, porque o barco estava cheio de crianças, e ela dar o parto no mangal”, explicou um activista social que lidera um grupo que dá assistência aos deslocados que chegam a Paquitequete.

A cidade de Pemba é a porta de entrada de muitos deslocados, mas não tem um centro de acolhimento. Os que não têm familiares por aqui passam uns três dias ao relento, na praia de Paquitequete e depois devem abandonar o local, rumo a uma aventura sem destino certo.

“Oficialmente não temos nenhum centro perto. Neste momento estamos a trabalhar com o governo provincial para tentarmos arranjar um centro próximo da cidade de Pemba porque esta cidade não tem espaço”, disse Florete Mutarua, edil de Pemba.

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