O pão está um metical mais caro nas padarias das cidades de Maputo e Matola e as panificadoras dizem que o preço pode subir mais se o trigo continuar caro. Entretanto, a Associação das Panificadoras não reconhece a subida e diz que foi à revelia.
“Não podemos fazer nada, pois precisamos todos os dias do pão. Só podemos pagar”
É este o sentimento de muitos cidadãos nas cidades de Maputo e Matola em relação ao novo preço do Pão de 200 G, que entrou em vigor na última quarta-feira.
Até a semana passada, o pão de 200 gramas custava entre 8 e 10 Mt. Hoje, o mesmo pão custa entre 9 e 12 Mt, nos balcões das padarias.
Quem precisa comprar este alimento essencial diz que, mesmo sufocado, nada pode fazer, senão pagar o novo preço.
“As crianças nem querem saber se o preço do pão subiu ou não. Elas querem pão todos os dias e nós não temos alternativa. O mais grave é que não há pré-aviso”, disse Simão Manhandze, um dos munícipes que aceitou falar ao “O País”, na fila de uma das padarias de Maputo.
Este agravamento já tem efeito no preço praticado pelos revendedores informais, que antes compravam o pão ao preço de 8 Mt para revender a 10 Mt e a 10 para revender a 12 Mt. Actualmente compram a 9 e revendem a 11 Mt e 11 Mt e revendem a 13 Mt.
No meio a tudo isto, subiu o preço e, consequentemente, baixaram as vendas, como contou a vendedeira Arlinda Francisco.
Dona Arlinda conta que desde que o preço subiu, leva mais tempo para esgotar o stock de pão.
“Antes eu vendia uma caixa e meia de pão, por dia, mas agora mesmo para acabar uma caixa é difícil. Está muito complicado viver em Maputo, com tanta coisa a subir”.
Os panificadores dizem-se sufocados pelos preços das matérias-primas e avisam que se nada for feito corre-se o risco de, em pouco tempo, o preço do pão voltar a subir.
“Nós assistimos uma subida galopante nos principais produtos, com destaque para a farinha, que voltou a subir para 2050 Meticais, quando antes custava 1730 Mt. Ao mesmo tempo temos a subida do combustível que já está a criar grandes constrangimentos. O que nós fizemos não é um agravamento e um reajuste, tendo em conta o preço antigo, aprovado pelo Governo”, disse Idrisse Tembe, um dos gestores de padaria, tendo acrescentado que:
“Nós subimos apenas 1 metical, contra os 2.5 Mt, mas estamos a caminho disso, para atingir os 12.5 Mt do preço do pão de 200 gramas”.
Mas quem não segue a maioria. Esta padaria, por exemplo, baixou o preço do pão, para evitar fechar as portas, por falta de clientes.
Em anonimato, o proprietário de uma padaria reclama o facto de não haver um regulador no mercado, o que faz com que cada padaria aumente o preço de como desejar.
“Eu vendia o pão cacete de 200 gramas a 12 meticais e tinha uma carteira de clientes que vinha no final do dia, mas com a subida do custo de vida, as coisas começaram a mudar. Perdi muito cientes e vendo outra forma senão baixar para 10 Mt e assim abarcar clientes diversos, para não fechar”, disse.
A fonte acrescentou ainda que por várias vezes teve que injectar dinheiro próprio para pagar algumas despesas da padaria. “Só trabalho para manter o meu empreendimento, mas os meus saldos têm sido negativos”.
Mas a Associação Moçambicana de Panificadores, que congrega todas estas padarias, não reconhece este agravamento e diz que ainda vai reunir com o Governo em busca de soluções.
Victor Miguel, Presidente da AMOPÃO, disse que “Nós ainda não recebemos nenhuma informação sobre a subida do preço do pão. O que acordamos com as padarias, para poder fazer face ao alto custo das matérias-primas, foi que eles eliminassem o desconto atribuído aos revendedores, o que faria com que eles agravassem o preço de revenda, porém o preço no balcão matem-se”.
A subida do preço do pão já era previsível com o agravamento dos preços do trigo e do combustível, no mercado internacional, devido à guerra entre a Rússia e a Ucrânia, grandes produtores destes recursos.
Em 2020 o Governo chegou a aprovar uma tabela de preços em que, por exemplo, o pão de 200 gramas devia ser vendido a 12.5 Mt. Porém a tabela não entrou em vigor devido ao subsídio que o Governo concedeu às moageiras, para a redução do preço do trigo.