As exportações de Moçambique para a União Europeia cresceram em mais de três mil milhões de dólares, de 2020 para 2021. O facto, segundo o ministro da Indústria e Comércio, deve-se ao incremento da produção interna através de projectos governamentais e investimentos directos, envolvendo investidores privados de 18 países da União Europeia, avaliados em 300 milhões de dólares.
A informação foi tornada pública esta quinta-feira, durante a realização da quarta mesa-redonda económica entre a União Europeia e Moçambique, evento este realizado anualmente, fruto de uma parceria entre o Ministério da Indústria e Comércio e a Associação das Câmaras de Comércio Europeias (EUROCAM).
Durante o seu discurso, o responsável pela pasta da Indústria e Comércio destacou o facto de os eventos externos terem desafiado a continuidade de muitos empreendimentos, com destaque para a COVID-19 e a instabilidade nas zonas Centro e Norte.
Factor directo ou não, o facto é que o nível de transacções comerciais entre Moçambique e os países africanos tem sido bastante fraco, havendo registo de cerca de 2%, sendo a sua maioria concentrada na SADC, que corresponde a 24% do total das exportações e 29% das importações.
Porém, contrariamente a este factor, as relações entre Moçambique e os países da União Europeia têm sido cada vez mais fortes, principalmente nos últimos cinco anos.
“Particularmente em 2021, as exportações cifraram-se em mais de 16 mil milhões de dólares, o que corresponde a 38% sobre o total das exportações de Moçambique, com um crescimento de 3% em relação ao ano 2020, que foi de cerca de 13.5 mil milhões de dólares”, disse o ministro da Indústria e Comércio, Silvino Moreno.
O dirigente disse ainda que, no mesmo período, foram aprovados 219 projectos de investimento envolvendo investidores privados de 18 países da União Europeia, avaliados em mais de 320.9 milhões de dólares.
Tal crescimento, segundo Silvino Moreno, deveu-se ao incremento dos investimentos directos provenientes daquele bloco económico em mais de 320 milhões de dólares, principalmente nas áreas de agricultura, pecuária, agro-processamento, indústria extractiva e energética.
“Ancorados no Made In e no Created In Mozambique, o nosso Governo definiu prioridades sectoriais económicas existentes no mosaico e ecossistema competitivo do país, que estão abertos à capitalização e parcerias externas, numa abordagem integrada e sustentável que vai desde a dinamização das cadeias de valor agrícolas através do Sustenta, os projectos-piloto do PRONAI, alguns dos quais têm uma abordagem local no recém- lançado Projecto da Zona Especial de Processamento e Agro-indústria do Corredor de Desenvolvimento Integrado de Pemba-Lichinga (ZEPA), onde a energia, turismo, infra-estruturas e logística são a maior base”, referiu o governante.
Sobre estes projectos governamentais, o Governo diz que já há resultados inquestionáveis, mas pretende-se fazer mais, com o envolvimento de vários actores sociais.
“A partir do Sustenta e do PRONAI, elegemos os condomínios agrícolas e a aposta no modelo de infra-estruturas de rápido crescimento industrial, através da implantação em regime de parceria público-privada das Zonas Francas e Parques Industriais, sempre privilegiando a sustentabilidade em linha com o nosso compromisso de assegurar o cumprimento do Objectivo de Desenvolvimento Sustentável número 9, dentro da agenda 2063.”
O ministro da Indústria e Comércio apelou para o envolvimento do sector privado para a revitalização e alavancagem da economia nacional após a COVID-19 e eventos climáticos, com recurso a inovações tecnológicas.
UE VAI DISPONIBILIZAR MAIS DE 200 MILHÕES DE EUROS PARA FINANCIAR PROJECTOS
A União Europeia, no âmbito da parceria económica com Moçambique, prometeu disponibilizar mais de 200 milhões de euros, para projectos ecológicos, com foco na transformação de energias renováveis, um valor a ser aplicado em Moçambique, nos próximos quatro anos.
O facto é avançado pelo Embaixador e Chefe da Delegação da União Europeia em Moçambique, António Sánchez-Benedito Gaspar, que indica, porém, que este valor ainda será mobilizado junto dos países-membros da UE.
“O programa de cooperação da União Europeia para Moçambique, nos próximos quatro anos, tem um impacto importante no pacto ecológico verde, com estes mais de 200 milhões de euros que vão ser destinados, por exemplo, na protecção do capital natural, transformação ecológica, nos sectores da agricultura, pesca, silvicultura, também para uma infra-estrutura mais resiliente”, declarou António Sánchez-Benedito Gaspar.
Gaspar fala ainda de um programa, chamado Global Gataway, a ser concebido para o continente africano, que vai ajudar a encontrar apoios e fundos, orçado em mais de 300 mil milhões de euros, sendo a metade (150 mil milhões de euros), destinada a projectos na África Subsaariana e apelou ao Governo de Moçambique para ficar atento às oportunidades que podem surgir.
E para que o país consiga tirar proveito destes projectos, apela-se para o envolvimento do sector privado, mas este fala de barreiras.
“Neste momento, o acesso ao financiamento é um desafio para as empresas, então a transição tecnológica é uma plataforma que pode ajudar ou facilitar o acesso ao financiamento”, disse o Presidente da Associação das Câmaras de Comércio Europeias (EUROCAM), Simone Santi, tendo acrescentado que “o desenvolvimento do sector energético precisa de um sector privado que tem benefícios, com um sistema com legislação clara e fora de sistemas de controlo difíceis de cumprir”.
A mesa-redonda entre a União Europeia e Moçambique acontece no âmbito da Semana da Europa e está subordinada ao tema “Oportunidades para o sector privado numa sociedade em transição ecológica e digital”.