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O Rei vai nu

 

“O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons”, Martin Luther King

 

A manifesta incapacidade de gerirmos infra-estruturas desportivas no país sempre se revelou um rastilho para “pegar” fogo em palha seca. Herdamos e gerimos à socapa. Resgatamos e perpectuamos o improviso. Há, regra-geral, uma tentativa encapotada de fingir que fazemos o que…não fazemos. E a  má gestão do  Estádio Nacional do Zimpeto, construído na perspectiva falhada de acolhermos o CAN-2010 e os malfadados  Jogos Africanos Maputo 2011, reforça a ideia de que estamos perante um jogo de sombras. Em que cada um acha que, se outro não souber que cedeu, está tudo bem!  Desde logo, e agora sofremos as consequências,  denunciámos um vazio de  ideias e projectos  para melhor rentabilizar a infra-estrutura, e pagamos caro pela incompetência e desgraça colectiva.

Não conseguimos assegurar que o Estádio Nacional do Zimpeto tenha dignidade para acolher jogos internacionais. De  grande dimensão, o ENZ resvala para um Elefante Branco. Deixamos um crocodilo crescer. E isso tem efeitos para a escala nacional. A Confederação Africana de Futebol deixou ficar recomendações para que se melhorasse a infra-estrutura. Não levamos a sério. Falhámos nos “timings” para intervenções no ENZ.

Efeito-causa: os Mambas são agora uns ambulantes, que rimam com titubeantes. São obrigados a jogar fora, em processos tão pouquíssimo claros. Com requintes de “boladas”! São órfãos de pais!  Não têm casa própria. Não têm calor nem carinho do seu próprio público que agregaria outro valor. Tudo por negligência!  Pior: o contribuinte, o humilde cidadão moçambicano não  escapa à tamanha irresponsabilidade, azia e falta de vergonha de alguns dirigentes desportivos. Pagam bem caro. É só rebobinar o filme de uma cotação de ZAR 280.787,50 (duzentos e oitenta mil, setecentos e oitenta e sete rands e cinquenta cêntimos), correspondente a 1.207.386,25 Meticais (um milhão, duzentos e sete mil, trezentos e oitenta e seis Meticais e 25 cêntimos) ao câmbio do dia,  enviada pela Federação Moçambicana de Futebol à  Secretaria de Estado de Desporto (SED) para os Mambas jogarem com o Ruanda no FNB Stadium (África do Sul) sem público.

E com espectadores nas bancadas,  o fardo é ainda mais pesado: 597.854,50 (quinhentos e noventa e sete mil, oitocentos e cinquenta e quatro rands e cinquenta cêntimos), correspondente a 2.569.613,35 Meticais (dois milhões, quinhentos e sessenta e nove mil, seiscentos e treze Meticais e trinta e cinco cêntimos) ao câmbio do dia.

Ora, este valor sai do bolso dos contribuintes, e não é pouco. Sem contar com o que vai ser gasto em despesas de transporte aéreo de Maputo a Joanesburgo, alimentação, acomodação, entre outras. É preciso muita coragem! Que dignidade estamos a dar à selecção nacional quando não criarmos as melhores condições para que tenha resultados positivos? E ainda produzimos e imprimimos folhetos com promessas de levar os Mambas ao CAN! Como materializar este sonho a jogar fora (que tem os seus contras) sem organização interna?

E organização interna passa por evitar situações cómicas e vergonhosas,  como aquela que aconteceu com Zainadine Jr., profissional exemplar  que e esteve retido no aeroporto de Nouakchott, na Mauritânia, onde ia representar a selecção nacional. Tudo isto porque a validade do seu passaporte expirava em cinco meses, enquanto, naquele país, se exige um mínimo de seis meses para se entrar. Há, aqui, claramente, responsabilidade de quem gere o futebol moçambicano, que deve aferir a documentação dos atletas!

Como levar os Mambas ao Campeonato Africano das Nações quando interesses obscuros se sobrepõem à Nação? O disco riscado de encontrar nos treinadores a razão do crónico  insucesso é, por todos, conhecido. E, a este ritmo, Chiquinho Conde perfila-se ou mesmo se candidata a ser mais uma vítima do sistema. O tempo é mestre e dar-nos-á respostas.  Enquanto isso, outra fábula de baixo nível distrai e alimenta debates nas putativas redes sociais e órgãos de comunicação social. Relva sintética desalfandegada e sem compradores em hasta pública desaparece misteriosamente no Estádio Nacional do Zimpeto.

Num diálogo de surdos e mudos, Federação Moçambicana de Futebol e  Secretaria de Estado do Desporto travam argumentos com o fito de obterem ganhos de causas para consumo interno.

E nem um pio de quem devia impor ordem! Ordem tal que, há muito, deixou de fazer escola numa nação desportivamente improvisada!  Rady Gramane e Alcinda Panguana, com brilharete no Mundial de Boxe e tantas outras provas, fintam a desorganização organizada internamente. Salvam a “nau”! Dirigentes jubilam. E já perspectivam, em Dezembro próximo, alguns parágrafos de exultação no informe à nação.  Mas os atletas, de várias modalidades, minguam e reivindicam o  pagamento, pelo  Governo, de um valor de treze milhões, duzentos e dez mil meticais referente à premiação desportiva, um instrumento legal aprovado em 2007, que estabelece a atribuição de valores monetários aos atletas e respectivos acompanhantes que conquistem medalhas nas competições internacionais de carácter oficial. Passam cinco anos sem ver as “verdinhas”. “MOZ” anima…

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