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O que desmotiva a velha geração?

Há trinta e poucos anos, vivíamos motivados em fazer evoluir “a nossa dama” que é o desporto, com vigor e patriotismo, por África e pelo Mundo. Era o fervor pela recém-proclamada Independência Nacional. Com pouco dinheiro, na chamada época do carapau, “moviam-se montanhas”, apesar da inexperiência.

Se os estádios enchiam em dias de treino, imaginem nos grandes jogos, tanto internos como internacionais.

Agora, tudo mudou. Nos rostos onde fervilhavam sonhos de evoluir, só resta estampada a desmotivação, talvez mesmo desilusão. O fervor que alimentava a alma e contagiava os mais novos desapareceu. Agora vive-se e vibra-se só com as “importações”, de terras e lugares longínquos, nalguns casos por vezes “nunca navegados”.
E é ao sucesso dos outros, que antigos atletas, dirigentes do futebol, boxe, basquetebol, atletismo e outras modalidades vão buscar as suas emoções e referências. E pouco importa que a nossa criançada, devido a este corte na nossa auto-estima, vá vivendo de “play-station”, definhando paredes-meias com este novo paradigma assumido, de viver como seus os sucessos dos outros.

A frustração parece ser total. A excepção vai para a meia-dúzia de “teimosos e persistentes”, que por acreditarem e apoiarem o medíocre desporto indígena, não escapam ao epíteto de… medíocres.

Sinais dos novos tempos…

Os que pertencem à elite urbana, com possibilidade de pequenas fugas à Europa, por lá “tiram a barriga de misérias”. Os menos ou nada abastados, vão criando movimentações de veteranos, como forma e razão para a realização da “3ª parte”, onde demonstram que continuam craques, numa competição em que os adversários são as médias ou as bebidas espirituosas.

Na busca dos culpados para esta realidade que não pode ser vista nem sentida como normal, são identificados todos factores, menos os que moram em cada um de nós. A primeira explicação aponta para a baixa qualidade do nosso desporto. Como se a eles, que acumularam experiência, não coubesse qualquer obrigação de participar, para reverter o cenário; depois, a falta de “oportunidade e espaço”, que se diz ocupado por oportunistas e infiltrados. Seguem-se: Governo, que não prioriza a actividade desportiva, clubes que se esqueceram deles e por aí fora.

Será que no desporto, em crescendo em todo o mundo, considerado o maior e melhor remédio contra as doenças previníveis, combate à droga e por aí em diante, a geração que sentiu e viveu o despertar pujante das modalidades neste país, não consegue encontrar outro tipo de resposta que não seja a indiferença e um virar costas que tanto prejudicará esta e as próximas gerações?

Sente-se que quem ergueu as bases para o percurso do desporto até hoje, claramente atirou a toalha ao chão. Mas é sempre tempo de a reerguer e, de mãos dadas com os mais novos, voltarmos a (re)jubilarmo-nos com triunfos dos novos talentos. O “furacão Mutola”, que tanto nos encheu de orgulho, é para replicar em várias modalidades!

É por estas e por outras que estou a pensar em candidatar-me a sócio do Ferroviário da Beira…

 

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