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O “gestor” das transformações económicas no pós-independência

A 1 de Dezembro de 1940, a cidade da Maxixe testemunhava o nascimento de Mário Fernandes da Graça Machungo. Já na década de 50, na então Lourenço Marques, o jovem estudante Mário Machungo já se indignava e participava em movimentos anticoloniais.

“A discriminação racial e as injustiças eram algo que estávamos contra no âmbito no Núcleo de Estudantes Secundários Africanos em Moçambique e Mário Machungo era volgal”, explica Joaquim Chissano, antigo Presidente da República, que desempenhou função de Presidente daquele núcleo.

Na década de 60, Machungo deixa o país e vai estudar para Portugal, onde forma-se em economia no Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras da Universidade Técnica de Lisboa. E em Lisboa espírito de combatente na clandestinidade manteve-se. “Ele vinha ao lar onde eu e Pascoal Mucumbe estávamos e ficava maravilhado quando falávamos do sonho de liberdade”, acrescenta Chissano. É essa sede por liberdade que em Portugal o torna mais uma vez líder de mais um movimento de estudantes, contra o colonialismo português. “Mário Machungo era o coordenador da rede clandestina da Frelimo em Portugal”, detalha Joaquim Carvalho, antigo governante e amigo de Machungo desde os tempos da formação superior em economia.

Terminado o curso, em 1969, regressa a então Lourenço Marques onde dedica-se a docência em diferentes instituições até ao início do fim do regime colonial. Em Setembro de 1974 são assinados os Acordos de Lusaka e Mário Machungo integra o Governo de Transição chefiado por Joaquim Chissano, sendo confiado o pelouro da Coordenação Económica. “Calhava bem na linha popular e socialista que tínhamos adoptado”, diz Chissano. Proclamada a independência em 1975, Machungo integra o Governo de Samora Machel, como Ministro da Indústria e Comércio. Tratava-se de um período difícil para o sector industrial com muitos técnicos e gestores industriais portugueses a abandonarem o país. O economista e docente universitário, José Chichava explica que Machungo já estava bastante abalizado sobre a economia do país e era a pessoas mais indicada para alavancar o sector industrial que entrava em crise. “Podemos considerar Mário Machungo um gestor das principais transições económicas que o país atravessou no período pós-independência”, afirma José Chichava.

É que depois de dirigir a industria e energia, entre 1978 e 1980 torna-se titular da pasta da agricultura. “A nossa primeira constituição definia a agricultura como a base de desenvolvimento do nosso país e era preciso ter alguém conhecedor, alguém que pudesse vir emprestar ao governo esta necessidade de se imprimir um ímpeto na área da agricultura”, diz Chichava. Nessa altura desempenha um grande papel no apoio aos agricultores congregados em associações, denominadas cooperativas. Mais conhecido como músico, Dilon Ndjindji foi gestor da Cooperativa Popular de Marracuene, com cerca de 320 agricultores e recebeu apoio de Mário Machungo. “Chegou uma altura em que eu queria comprar um trator e ele ajudou-me a comprar esse trator. Ajudou-nos bastante naqueles tempos difíceis”, diz o ícone da marrabenta. Já de 1980 a 1986 ocupa o cargo de Ministro da Planificação Económica e cumulativamente Governador da Zambézia entre 1983 e 1986. Enquanto ministro residente na Zambézia também contribuiu para recuperar a histórica companhia do boror num dos seus momentos de crise. O antigo director da companhia testemunha. “Fez-se uma proposta que ele aprovou, segundo a qual nas exportações uma parte era reservada as empresas e isso funcionou”, reconhece João Forte, antigo director daquela companhia.

Em 1986 foi nomeado por Samora Machel, Primeiro-Ministro, sendo o primeiro moçambicano a ocupar este cargo. “Era uma função cujas competências não estava ainda bem definidas mas ele fez o seu trabalho mestria”, diz Chissano. E geriu igualmente com mestria, o conturbado período de transição de Moçambique do regime de economia socialista para economia de mercado, onde esteve na linha da frente da elaboração do Programa de Reabilitação Económica e Social. Mário Machungo desempenhou as funções de Primeiro-Ministro até 1994, altura em que deixa a função pública para abraçar o sector privado.

 

 

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