O escritor e editor Dany Wambire entende que Moçambique só poderá alcançar o nível de leitores desejável se forem implementados instrumentos legais necessários para a promoção do livro ao longo do território nacional. Segundo o autor, o encerramento de livrarias ao nível nacional é sintoma de que o Sistema Nacional de Educação não está bom.
A propósito do Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor que se celebra anualmente a 23 de Abril, o escritor, editor e livreiro, Dany Wambire, referiu-se a alguns questões que, na sua visão, contribuem para que o objecto livro esteja longe de muitos potenciais leitores. Para o autor de A mulher sobressalente, entre os problemas predominantes na indústria do livro constatam-se os que são atinentes à produção, à distribuição e à venda. Por isso, sugeriu: “Precisamos de resolver os problemas sobre esses aspectos de forma estruturada, com intervenções de todos os sectores ligados ao livro”.
De acordo com Dany Wambire, o grande problema, na verdade, é o da falta de leitores. “Se tivermos poucos leitores, as gráficas e as editoras ressentem-se disso, em termos de sustentabilidade de produção e de negócio. As editoras, por exemplo, tendo poucos leitores, imprimem em pequenas quantidades, fazendo com que o livro fique caro”.
A falta de leitores no país, para Wambire, contribui para o desaparecimento de distribuidoras e de livrarias, o que prejudica a própria industria livreira. “Hoje não conhecemos muitas distribuidoras. Temos a Kapicua, mas outras não funcionam porque não temos livrarias pelo país. Não existindo livrarias pelo país, em parte, é sintoma de que o próprio sistema de educação não esta bom. Por isso, é preciso fazer-se mais alguma coisa para a formação de leitores. Esse trabalho precisa de ser feito por todos”. Claro, acrescentou, “há quem tem o dever maior, o Estado, que deve implementar políticas, através do Ministério da Educação e do Ministério da Cultura, para o incentivo à leitura e à formação de leitores”.
Para o editor da Fundza, o país possui muitas políticas, como Politica do Livro e o Plano Nacional de Leitura. O problema é a implementação. “Temos de discutir o que está a acontecer e o que pode ser feito para resolvermos o problema da falta de leitores. Há uma percepção de que o Governo não tem dinheiro, mas há coisas que, mesmo sem dinheiro, podem ser feitas. Por exemplo, a selecção de livros de leitura obrigatória anuais. Esse seria um sinal emitido aos pais e encarregados de educação, dizendo-lhes que há um conjunto de livros que o Ministério da Educação recomenda. Os pais e encarregados de educação iriam atrás desses livros para os seus filhos”.
Não obstante, o Governo tem de incentivar o investimento em negócios de livrarias, importante para formação de leitores. Nesse aspecto, defende, os municípios precisam de ter sensibilidade e ajudar na identificação de espaços, concedendo e dando incentivos, de modo que esses mesmos espaços possam existir nas cidades. No entanto, “Os programas dos municípios estão à leste disso. Estão mais preocupados com saneamento. Não que isso não seja importante, mas esquecem também que as pessoas deitam o lixo no chão porque não têm educação, não têm cultura. Investir na educação não é só construir escolas, também inclui aquisição de livros e formação das pessoas. Não há outra forma de termos conhecimento além dos livros”.
Impressão de livros no estrangeiro
Várias editoras moçambicanas imprimem os seus livros no estrangeiro. A Editorial Fundza, sedeada na Cidade da Beira, é uma dessas editoras que prefere enviar os seus títulos a África do Sul do que os imprimir numa gráfica nacional. A questão que se coloca é: porquê? Dany Wambire esclarece que as gráficas nacionais estão preparadas para imprimir em altas quantidades. Entretanto, “acontece que as editoras, devido à falta de leitores, não podem imprimir em altas quantidades. Logo, imprimir em Moçambique encareceria os nossos livros. Ao tentar-se imprimir fora, estamos à busca de gráficas que possam imprimir em pequenas quantidades, tornando o preço do livro aceitável ao bolso do consumidor”.
À pergunta por que continua no negócio do livro, considerando os vários constrangimentos identificados, Wambire responde: “continuamos no negócio do livro porque acreditamos que não é possível fazer educação sem o livro”.