Um Papa que a partir das ruas que fazem o dia a dia do nosso povo, ensinou-nos, acenando as mãos e com o rosto afável, a abraçar com os olhos, e a ser igreja caminhante, uma igreja viva e que a todos chama para sonhar juntos, sem se esquecer das nossas raízes, as bibliotecas do amor e da vida.
“Perante a crise de identidade …, talvez tenhamos que sair dos lugares importantes e solenes; temos de voltar aos lugares onde fomos chamados, onde era evidente que a iniciativa e o poder eram de Deus. Irmãos e irmãs, voltar a Nazaré, voltar à Galileia pode ser o caminho para enfrentar a crise de identidade. Depois da sua ressurreição, Jesus convida-nos a voltar à Galileia, para O encontrar. Voltar a Nazaré, à primeira chamada, voltar à Galileia para solucionar a crise de identidade, para nos renovarmos”. Papa Francisco.
Moçambique _ maningue nice, _ é como é carinhosamente tratada esta terra que, no assobio luminoso das águas do Índico, ganhou a mania de acordar sem vergar aos desafios de, aos poucos, ir consolidando-se Nação, onde cabemos todos e todos preenchemos. É Moçambique a mania nossa de ser, a certeza de que amanhã o sopro melancólico das casuarinas terão se diluído na sonoridade da timbila e dos tambores que os rasgões da alma nos ensinaram a tocar; primeiro em silêncio e sem nenhum gesto, depois, gritando e movendo o corpo, é Moçambique o sol que nos aquece as veias e nos faz nutrir a alegria de viver no “alegre canto das andorinhas” que por vezes somos quando nos deixamos ser a força do encontro.
É esse Moçambique que se moveu em 2019, no acenar das mãos do Papa Francisco e se dilatou enorme, chorou de emoção e soube, no abraço tenro do Papa, ser canção do tempo que vestiu a memória da “malta” de todas as idades que saiu à rua para viver a presença do Papa em solo moçambicano.
Quando em 2019 o Papa pisou o pavilhão do Maxaquene, um enorme frio foi ali gerado, o corpo e as vozes tremiam, gritava-se reconciliação, reconciliação, reconciliação, depois, ouviu-se em uníssono, um cantar que nos une sem limite das religiões, cantávamos e dizíamos arrepiados no caminhar lento e dócil do Papa Francisco, que somos os Jovens da Paz, que a nossa missão é a reconciliação, cantamos com alma, força e Moçambicanidade.
Quando os jovens Católicos subiram ao palco, para apresentar a sua mensagem ao Papa, num texto que viajou entre Idai, Kenneth e depois os ataques de Cabo Delgado, algo me veio a cabeça, conhecia aqueles jovens, aquelas vozes, aquele fluxo, o gesticular remetia-me aos festivais juvenis da Arquidiocese de Maputo; são bons no que fazem, têm vida e movimento. Senti que aquela apresentação era uma sutura, uma cirurgia social, e porquê não uma reconciliação com aqueles que sabem fazer bem o que fazem. A juventude não se “autodiminuiu” deu espaço aos melhores, e os melhores foram o eco da elevação de uma juventude que, no calor do Papa se faz enorme, madura e consciente, o texto vestido de alma partilhada foi escrito por jovens moçambicanos, tendo a sua representação feito o Papa Francisco, mover as mãos para um bater de palmas que nos arrefecia a alma e nos vestia de um espírito renovado, paz, esperança e reconciliação.
Quando o Papa falou, percorreu-nos de alma descalça um dos maiores exemplos da juventude, falou-nos da Lurdes Mutola, como poucos falamos sentimos e pensamos, falou da sua infância difícil, das suas conquistas e de como depois de ganhar tudo e ser referência nos 800m, não deixou de ser moçambicana e vestiu sempre as cores que corporizam o peito desta terra, o Papa elevou Lurdes ao nível de exemplo para juventude Moçambicana, e aconselhou-a a caminhar unida “juntos” sempre que pretenda chegar longe, a não desistir na primeira queda, que a juventude não perca a alegria de viver, e por fim pediu que se continuasse a rezar por Ele e que o Senhor nos abençoe.
Este foi e continuará sendo o Papa Francisco que se nos existe presente abraçando-nos a essência caminhante de uma igreja que quer sempre sonhar juntos.