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Nyusi revela “o último segredo” sobre os ataques

A lógica até pode estar na mesma linha do romance de José Rodrigues dos Santos que leva o título em aspas nesta reportagem, o qual relata mortes misteriosos por degolação das vítimas, mas Filipe Nyusi falou dos ataques reais que há um ano semeiam terror em alguns distritos de Cabo Delgado e avisou: “continua a haver actos de ataques a aldeias, queimam casas e matam pessoas aqui nesta província, em Nangade, em Palma, Macomia, Mocímboa, até estão naquela zona de Quiterajo. Parem com isso”, ordenou o Presidente da República, com uma expressão facial carregada, seguido de um silêncio típico de quem dá ultimato ao seu adversário.

O propósito até não era esse. Nyusi, como se sabe, estava no planalto de Mueda a cumprir uma agenda oficial que incluía o lançamento de obras públicas, mas, estando em Cabo Delgado, não podia passar à margem de um conflito, sem rostos nem motivação aparente, que já custou a vida a dezenas de civis, militares e polícias.

Mas parece que o comandante-em-chefe das Forcas Armadas de Defesa tem informação classificada sobre a situação em Cabo Delgado e apenas vai lançando algumas pontas soltas. Ora, no comício de ontem, em Mueda, Nyusi deu a entender quatro coisas: há moçambicanos instrumentalizados; são estrangeiros que recrutam jovens e crianças moçambicanas para esse conflito; não são muçulmanos envolvidos; e não quer os autores mortos.

“Já avisei as Forças de Defesa e Segurança para que apanhem os jovens, não matem. São moçambicanos. São instrumentalizados, mandados por pessoas que não querem o desenvolvimento deste país e desta província. Outros jovens quando foram apanhados disseram ‘podem matar-nos, nós já juramos, vamos viver melhor lá no céu. Podem matar-nos, não há problemas’. Foram instrumentalizados. Depois dizem que são muçulmanos, não são”, vincou o Chefe de Estado, para de seguida referir que nem sabem expressar-se em árabe e, mais do que isso, como disse, “Moçambique sempre viveu bem entre muçulmanos e cristãos, nunca houve problemas. Não inventem história de que são muçulmanos, não são”, sentenciou.

Mas, afinal, quem são os que perpetram ataques naquela província? A resposta remete-nos novamente à intervenção de Filipe Nyusi, ontem, em Mueda que parece ter o horizonte mais desanuviado: “um dos que enganam as crianças apanhámos. eu até queria trazê-lo aqui, os meus ministros disseram que está em Nampula – um dos que carregam crianças em Pebane, Nacala, Memba e em Mocímboa. Ele fica lá em Nampula a comer bem e essas crianças estão aqui a morrer”, concluiu, mas antes disse ter ficado sentido quando soube que num grupo recentemente abatido em Cabo Delgado havia crianças recrutadas para incursões naquela província do norte de Moçambique.

Ainda ontem, Filipe Nyusi lançou a primeira pedra das obras de reabilitação e asfaltagem da estrada Negomano-Mueda, na província de Cabo Delgado, uma via que faz parte do traçado do histórico sonho de ligação das cidades de Cabo e Cairo.

 

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