O Presidente da República e Comandante-em-Chefe das Forças de Defesa e Segurança (FDS) disse, este sábado, em Pemba, que a partir desta semana vai capacitar mais e reforçar o comando no teatro operacional-norte “para perseguir de forma estruturada o inimigo”. Filipe Nyusi sobrevoou alguns distritos afectados pelo terrorismo, falou com a população e com os militares.
O momento é decisivo e pode mudar o rumo dos acontecimentos na luta (armada) contra os terroristas que actuam na parte norte da província de Cabo Delgado, assim como nas ilhas, forçando a saída massiva da população para a cidade de Pemba, assim como para as províncias vizinhas de Nampula e Niassa.
Este sábado, o Chefe de Estado esteve a bordo de um helicóptero juntamente com o comandante-geral da Polícia da República de Moçambique, sobrevoou dos distritos mais afectados pelo terrorismo, aterrou em Macomia e Ibo, onde dialogou com a população e manteve contacto com os militares.
No distrito de Macomia ouviu o desespero de um homem que falando como porta-voz da população pediu ao Presidente algo que é mais importante neste momento: “pedimos carros para poderem nos tirar também. Não estamos a conseguir fugir com as crianças. Então, é sentimental”.
Mas essa não é a perspectiva ideal de Filipe Nyusi, que retorquiu, nesse diálogo improvisado com a população, explicando que “algumas pessoas que conversei com elas preferem que acabe a guerra, não sair daqui. E depois outro tipo de apoio, sobretudo [para] defender”.
Na mesma conversa, o Chefe de Estado acrescentou: “enquanto a guerra não acaba, pelo menos haver força para defender a população e vocês também estão a sentir. Quando eles [os terroristas] tentaram entrar aqui, muitos morreram. Morreram muitos ali em Cagembe. Antes de ontem morreram muitos em Diaca e morreram muitos em Matemo. São estes jovens [militares] que estão a fazer… então, logo, estamos a fazer [de tudo] para ver se eles [os terroristas] acabam. Mas como eles são organizados, uns vêm de fora e levam as nossas crianças as põem à frente para serem os primeiros a morrerem. Por isso, crianças, jovens, é melhor não irem”.
O reforço da segurança é o principal foco do Chefe de Estado. Na visita que efectuou a uma posição militar, ainda no distrito de Macomia, moralizou a tropa e falou que “Viermos aqui simplesmente para dizer que estamos atentos àquilo que está a acontecer. Estamos atentos à vossa manobra no teatro [operacional]. Estamos diariamente a acompanhar, sobretudo este palco de Macomia, quando fazem desdobramento e apoiam Quissanga, Muidumbe e mesmo quando for preciso, Meluco. Sobrevoei muito baixo nas zonas onde vocês operam, algumas com o mato muito denso, incluindo em Cagembe lá na base deles, vi. Mais uma vez, dizer que estão de parabéns porque o inimigo está em debandada. Normalmente, numa guerra como esta, pequena operação que o inimigo faz parce que fez grande porque camufla-se, esconde-se, enquanto podem ser três, quatro, cinco pessoas”.
Entretanto, “os golpes” que as FDS “infligem ao inimigo são conhecidos e reconhecidos. Aquele que não reconhece é exactamente por maldade e conhecemos esses casos e as intenções que têm”, disse o Presidente da República e acrescentou: “o Governo está convosco, o povo está convosco. As últimas operações é a população que me reporta”.
A mesma população, de acordo com o Comandante-em-Chefe das FDS, fala sobre os lugares onde os militares estiveram, o que fizeram e o que precisam para melhor debelar o terrorismo em Cabo Delgado.
Prosseguindo, Filipe Nyusi garantiu à tropa que “estamos atentos, estamos a progredir. Naturalmente que vocês não hão-de sentir de uma única só vez, mas estamos a progredir no sentido de prover recursos para podermos colocar para poderem trabalhar melhor”.
O reforço das condições no teatro operacional-norte foi um dos temas discutidos pelo partido Frelimo no retiro de dois dias, na sexta e no sábado, em Pemba, onde se pretendia analisar a situação política, económica, social, com particular destaque para a segurança.
Foi a partir daquele ponto, depois de ter vivido o calor do trabalho no terreno, que saiu a grande decisão: “para além de capacitar mais a operação no norte, e isso toda a gente sabe, vou reforçar o comando do teatro-norte. Vou reforçar, já a partir da próxima semana , o comando do teatro norte para continuarmos a perseguir de uma forma estruturada o adversário, o inimigo. Nesta fase é crucial”, afirmou Filipe Nyusi.
Uma decisão crucial, três anos depois de terem começado os ataques e que nas últimas semanas têm provocado a deslocação massiva da população para a cidade de Pemba. O que fica por saber é o tipo de reforço, se será em termos de homens no terreno, condições logísticas das posições que estão na linha da frente ou se serão as duas coisas na mesma proporção e à dimensão da realidade no terreno.
Além de reconhecer o trabalho das FDS e felicitá-los pela entrega no combate ao terrorismo em Cabo Delgado, o Chefe do Estado recorreu à seguinte metáfora para dizer que enquanto os insurgentes não forem desalojados das bases onde se escondem e neutralizados, a perseguição a eles não vai cessar, de modo a devolver sossego à população e ao país: “a cobra só morre quando não tem cabeça. Pelo rabo não morre”.
Filipe Nyusi orientou as FDS no sentido de amarem a pátria e o povo, serem leais, corajosas e disciplinadas, conforme o juramento feito aquando a formação. O Executivo está a mobilizar recursos para melhorar as condições de trabalho das Forças de Defesa e Segurança, pese embora este grupo eventualmente não se aperceba disso.
Nyusi terminou a interacção com as Forças de Defesa e Segurança afirmando que é preciso “bater duro no inimigo”.