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“Não escolhemos a guerra de Cabo Delgado, ela foi-nos imposta”, diz PR

Foi a primeira vez que o Presidente da República usou o termo “guerra” para se referir aos ataques a Cabo Delgado. Face aos últimos desenvolvimentos do terrorismo naquela província, Filipe Nyusi, anunciou a convocação do Conselho Nacional de Defesa e Segurança e o envio à Pemba de ministros para apoiar os deslocados e abriu portas para ajuda internacional no combate ao terrorismo.

No dia em que o país parou para celebrar a mulher moçambicana, o Presidente da República abriu o livro e dedicou grande parte do seu discurso à questão do terrorismo em Cabo Delgado e aos recentes ataques à Palma. Filipe Nyusi descreveu o seu arrepio pela forma brutal com que os atacantes fizerem a incursão.

“No dia 24 de Março, pelas 16h00, os terroristas irromperam pela vila sede do distrito de Palma com disparos, abrindo fogo contra alvos civis, alguns dos quais bem seleccionados. Os terroristas mataram brutalmente, com absoluto desprezo pela vida humana, dezenas de pessoas inocentes que trabalhavam de forma heroica para o bem-estar das suas famílias, outras dezenas de pessoas sofreram ferimentos entre graves e ligeiros. A natureza brutal da acção dos terroristas não conhece limites. Os ataques contra as populações indefesas, incluindo crianças, revelam a ausência total de valores de humanismo e civismo”, iniciou o Presidente da República para, em seguida, reconhecer a razão da repercussão dos últimos ataques à aquela vila sede.

“Nas últimas semanas, a situação em Cabo Delgado tem recebido muita atenção nacional e internacional na sequência dos ataques na vila de Palma. Toda essa atenção é legítima”, referiu.

O presidente abordou o impacto que a acção terrorista está a ter nos projectos de exploração de gás e no desenvolvimento acelerado que Palma estava a registar nos últimos tempos. “Esta vila e a península adjacente de Afungi ficam nas proximidades dos jazigos do gás natural. É nessa região em que se está a lançar as bases para exploração desse recurso tão importante para a nossa economia. A vila serve de base para os trabalhos de construção e fornece apoio logístico aos trabalhos em curso em Afungi. Foi assim, que Palma registou, nos últimos anos, uma rápida evolução em termos de infra-estruturas, que incluem hotéis, bancos e empresas de prestação de serviços. A península de Afungi está, igualmente, a ser objecto de construções diversas como acampamentos e zonas residenciais com as estradas de acesso e um aeródromo autónomo”.

“ELES QUEREM-NOS INTIMIDAR”

Face ao cenário que se viveu no distrito de Palma, associado a toda propaganda difundida pelos terroristas, Nyusi disse não ter dúvida que tais acções “visam-nos intimidar” sendo que os malfeitores “querem ser donos do nosso medo. Mais do que ocupar um espaço geográfico, eles (os terroristas) querem ocupar a nossa alma, roubando a esperança e semeando a discórdia e, como Governo, temos a noção da gravidade dessa situação”, acreditou para, depois, acrescentar que “não escolhemos esta guerra, ela foi-nos imposta”, sendo, por isso, que “não temos outra opção, senão trabalhar com determinação para restaurar a ordem e tranquilidade públicas nos distritos afectados”, salientou.

Filipe Nyusi usou da ocasião para recordar o sofrimento vivido pelas populações, que desorientadas, entraram mata a dentro para escapar dos malfeitores. “Para fugir da morte, famílias inteiras lançaram-se pelo mato, com os seus filhos menores, percorrendo longas viagens, cuja única certeza era o medo, a sede e a fome”, descreveu o Chefe de Estado para, depois, chamar atenção à sociedade sobre a gravidade da situação. “Para fugirem a tamanha crueldade dos terroristas, estas pessoas sobreviveram numa condição que nenhum de nós pode imaginar. Não pode existir barbaridade maior, não é concebível crime maior contra a vida e aos direitos humanos que vêm vivendo as populações dos distritos da zona norte de Cabo Delgado”.

TERRORISTAS TREINADOS NO ESTRANGEIRO

Mesmo depois das Forças de Defesa e Segurança terem assumido o controlo da vila de Palma, Filipe Nyusi foi cauteloso quanto à conquista das Forças de Defesa e Segurança e avançou que a luta ainda continua permanente contra este inimigo que, segundo fez saber, é financiado por actos criminosos.

“Nós estamos a superar uma condição de décadas, de anos sem investimentos sólidos dirigidos ao sector de defesa e segurança. Reiteramos que a conquista, em Palma, não pode ser entendida como a proclamação da vitória final. Foi uma conquista importante, mas a vitória sobre o terrorismo exige uma vigilância permanente e de todos nós. Muitos que estão nas fileiras do terrorismo, em Cabo Delgado, foram treinados e ideologicamente instrumentalizados no estrangeiro e as suas actividades são essencialmente financiadas por meios ilícitos e pelo crime organizado”.

“OS QUE VIEREM DE FORA NÃO SERÃO PARA NOS SUBSTITUIR”

No seu discurso, o Presidente da República fez saber que o governo solicitou ajuda internacional para fazer frente aos ataques terroristas, sendo que neste momento, este pedido está a ser avaliado para que se saiba quais as áreas em que os parceiros podem apoiar o país. “Os que chegarem de fora, não virão para nos substituir, virão para nos apoiar, não se trata de um discurso vazio, trata-se de sentido de soberania, trata-se de saber que nenhuma guerra é vencida senão for clara desde o início.”

Depois de fazer a radiografia da actual situação, o Comandante-em-Chefe das Forças de Defesa e Segurança avançou medidas a serem todas a curto, médio e longo prazos para enfrentar esta ameaça.

“Com toda informação recolhida e consolidada no terreno, o Governo criou o grupo de trabalho, que será composto por ministros que vão, imediatamente, lidar com o problema de deslocados, nas suas várias vertentes. A nível da nossa região, nos próximos dias, voltaremos a juntar experiências para formar uma frente unida para a prevenção e combate ao terrorismo. É nesse contexto que convocamos para manhã (hoje) a cimeira da dupla “troika” da SADC para avaliar a situação da segurança em Moçambique. Foi, igualmente, convocado o Conselho Nacional de Defesa e Segurança, cuja reunião esteve dependente de informação de base e da disponibilidade de alguns membros que estavam no terreno”, destacou.

No final, o Chefe de Estado reiterou que o Governo não tolera e não irá tolerar acções que coloquem em causa os direitos humanos das populações em Cabo Delgado e que todos os eventuais casos de suspeita serão alvo de investigação e de sanções.

Graça Machel: Activista Social

“Sobre o país, o Presidente da República disse tudo. Eu estou feliz que ela aconteceu neste contexto de celebração do engajamento, da determinação das mulheres moçambicanas. Sobre o dia de hoje, são 50 anos sem Josina Machel. Ela é uma fonte de inspiração dos valores da minha família, que eu devo conservar”.

Samora Machel Júnior: Político

“As mulheres em Moçambique não podem celebrar, não podem estar em festa dado o sofrimento que elas estão a passar, de perdas muito grandes. É momento de unirmo-nos e darmos mais força as nossas mulheres. A mulher é o rosto mais visível do conflito em Cabo Delgado. Temos de dar esperança as mulheres, temos de dar esperanças a este país e todos nós devemos trabalhar e proteger a mulher por ser o pilar da sociedade”.

Nyelete Mondlane: Ministra do Género, Criança e Acção Social

“O Presidente da República falou muito bem sobre os nossos desafios para o futuro. Falando em perspectivas, vamos dedicar-nos, com a necessária união e serenidade, na solução do problema do terrorismo em Cabo Delgado. Em relação a mulher e a rapariga, de forma particular, continuemos a prover oportunidades de empoderamento económico das nossas mulheres. Protejamos as nossas raparigas para que elas continuem na escola!”

Verónica Macamo: Ministra dos Negócios Estrangeiros e Cooperação

“Temos que nos unir para derrotar o inimigo que invade a nossa terra, mata, destrói e quer-nos desmoralizar com objectivos até aqui desconhecidos. Às mulheres que estão a sofrer neste momento vão os nossos votos de muita força, muita coragem. É difícil viver numa situação de aflição, de tristeza, de ter perdido todo o esforço de uma vida, de não saber onde está o seu companheiro ou o seu filho. E, para as outras mulheres, que celebremos em solidariedade com aqueles que sofrem”.

Mariazinha Niquice – Secretária-Geral da OMM

“Nós juntamo-nos aos movimentos de solidariedade para que possamos contribuir na ajuda aos nossos irmãos que estão a passar por situações difíceis. A situação real é triste, o local de acomodação nunca será como em casa. E, porque estamos em momento de pandemia, continuamos a disseminar a mensagem de prevenção do novo Coronavírus. Nós estamos implantados a todos os níveis, inclusive nos centros de acolhimento, onde começamos a produzir máscaras há algum tempo.”

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