Os mais de 2100 deslocados internos que estão no centro de reassentamento de Corane, em Nampula, correm sérios riscos de fome. Por um lado, a falta de chuva está a prejudicar a produção agrícola, e por outro lado, o PMA pode cortar a ajuda alimentar mensal a partir de Abril. Em toda província há 60 mil necessitados.
Passam dois meses após ter iniciado o processo de reassentamento dos deslocados internos que saem das zonas de conflito, em Cabo Delgado, e buscam segurança na vizinha província de Nampula.
A mudança é notória: muitos estão a construir as casas transitórias, para saírem das tendas que deverão beneficiar outros necessitados. A reinserção social está a acontecer, mas não faltam queixas, principalmente ligadas à assistência alimentar.
Lucinda Afonso faz parte de um agregado de quatro pessoas. São deslocados. “Por exemplo, recebemos no mês passado e até agora não tivemos mais comida. Estamos a passar fome”, diz.
Para além de um terreno habitacional, cada agregado familiar deverá receber uma parcela para fazer machamba. Os primeiros beneficiários lançaram as sementes por duas vezes, só que o sol intenso que se faz sentir nos últimos dias em Nampula, assim como a falta de chuva, está a afectar o desenvolvimento das culturas.
Alex Khaunda, 22 anos de idade, de enxada nos ombros conta que por estas alturas já devia estar a tirar massaroca da machamba. Todavia, as culturas de milho que resistem não têm mais de 30 centímetros de altura. “A produção não está indo bem. Não há chuva”.
Sadique Assamo, outro deslocado agricultor, sublinha que a fome que enfrenta com a sua família podia ser mitigada se a natureza colaborasse. “Se fosse chovesse não teria fome na minha casa porque teria algo para comer, com as crianças”.
O Programa Mundial de Alimentação (PAM) anunciou muito recentemente que não tem orçamento para comprar alimentos para de Abril em diante – uma atitude que pode ser entendida como sendo o soar de alarme para que o mundo possa se compadecer e ajudar no que é necessário, de forma antecipada para evitar uma calamidade pública. No entanto, oficialmente, o Instituto Nacional de Gestão de Redução do Risco de Desastres (INGD).
“Por exemplo, agora estamos a planificar para uma média de 60 mil deslocados. Para se ter uma ideia, isto equivale a mais ou menos 600 toneladas de cereais; 60 mil litros de óleo; 120 toneladas de leguminosas como ervilha ou feijão. Esta é a estimativa da ração alimentar mensal”, Alberto Armando, delegado do INGD em Nampula.