Noel Langa nasceu há 81 anos, no distrito de Manjacaze, em Gaza. Da mãe, aprendeu a apreciar a cerâmica, ainda na tenra idade. Novo veio a então Lourenço Marques, onde se afirmou como um símbolo do bairro Indígena, agora bairro da Munhuana, no subúrbio de Maputo.
Ao longo de várias décadas, Noel Langa pintou vidas, lugares e toda uma visão sobre a sua gente e a forma como compreende Moçambique. Por se ter notabilizado durante o seu percurso artístico, a Universidade Pedagógica de Maputo, a UniMaputo, homenageou, na manhã de hoje, na sua Biblioteca Central, o artista plástico que aos 81 anos de vida ainda se comunica com ca ultura por via da arte.
A cerimónia de homenagem durou três horas e contou com a presença de pessoas chegadas ao artista. Uma delas foi o antigo Presidente da República, Joaquim Chissano, que, muitas vezes, procurou comprar as obras de Langa para oferecer aos seus homólogos, quando ainda era Ministro dos Negócios Estrangeiros.
Na sua intervenção, na cerimónia de homenagem ao artista da Munhuana, Chissano enalteceu as contribuições que Noel Langa deu e continua a dar na construção da moçambicanidade e da sua própria identidade. Segundo afirmou o antigo Presidente da República, as telas de Noel Langa, desde cedo, contribuíram para vincar a originalidade da arte dos moçambicanos, diferenciando-a da maneira como, por exemplo, os pintores europeus produzem as suas telas. Para Chissano, Noel Langa integra a lista dos artistas plásticos clássicos de Moçambique.
À volta desta percepção de Joaquim Chissano, girou a intervenção do Ministro da Cultura e Turismo. Intervindo na cerimónia de homenagem, Silva Dunduro, ele próprio artista plástico, afirmou que o seu colega Noel Langa faz parte de uma geração de artistas que iniciaram uma perspectiva artística muito ligada à cultura africana, “aquela que muitas vezes resulta de ensinamentos à volta da fogueira (debaixo de frondosas árvores) e dos contos sobre os nhamussoros. Noel transporta esses ensinamentos para as telas, dando-os um sentido universal”.
Dunduro defendeu que pessoas como Langa merecem ser enaltecidas neste tipo de iniciativa que a Universidade de Maputo iniciou a algum tempo: a de reconhecer o contributo do trabalho dos artistas ainda vivos. Sobre isso, Calane da Silva, poeta, professor da UniMaputo, lembrou que a função da Universidade não é apenas de ensinar conhecimentos técnicos ou científicos, mas também a de valorizar os artistas e as culturas de um país. O poeta e escritor, há dias homenageado na Feira do Livro de Maputo, contou peripécias vividas com o pintor e recuou ao passado para contextualizar a amizade que lhes une já desde os tempos colonias. “Teria feito tantos textos sobre Noel Langa. Um deles, lembro-me tão bem, quando o apresentei no Instituto Camões, dizia assim: “Noel, langa, Noel. Era para ele escolher.
E ele escolheu pintar cada vez mais”.
Uma das artistas que vibrou na cerimónia de homenagem foi Evira Viegas, que cantou, dançou e, enfim, celebrou… Para a cantora, Noel Langa é um ícone da cultura moçambicana na vertente pintura, à imagem de Malangatana ou Mankeu. Por isso, acrescentou o poeta e escritor que muitas vezes recebeu dicas do pintor quando se iniciou na arte da escrita, Juvenal Bucuane: “esta é uma homenagem merecida. Noel Langa é um homem grande, e quando digo grande não é pelo tamanho, é grande de espírito, por aquilo que sabe pensar e transmitir aos seus próximos”.
Marcelo Panguana é um dos amigos de Noel Langa que também esteve na Biblioteca Central da UniMaputo. O escritor realçou que, além de pintor, Langa é um grande homem. “Numa altura como esta, em que escasseiam pessoas com grande dimensão humana, Noel Langa traz-nos essa virtude que falta na nossa sociedade”. Deve ser por isso que José Mucavele admira o pintor: “Noel Langa completa toda a minha pessoa como inspiração. Quando tenho alguma dificuldade, vou ter com ele”.
Na cerimónia de homenagem, Jorge ferrão, Reitor da UniMaputo, sublinhou: “reservamos este momento especial para celebrar o aniversário do artista Noel Langa. A nossa universidade quis, deste modo, exprimir que reconhece não apenas a sua veia artística, mas, sobretudo, a sua entrega às causas sociais, culturais, e, se me permite, à consolidação da pátria e da unidade nacional”.