Conjuntivite hemorrágica: vírus ainda deve ser estudado
A conjuntivite hemorrágica que circula em Nampula, Cabo Delgado e Niassa é transmitida por um vírus da classe de adenovírus e enterovírus, que, apesar de conhecido no mundo, o seu surgimento em Moçambique carece de estudo, pois não há um histórico de ocorrência da doença no passado.
O primeiro caso de conjuntivite hemorrágica foi notificado no dia 13 de Fevereiro passado, na cidade de Nampula, e rapidamente o número de casos evoluiu na província, estando, neste momento, com um cumulativo de 2612 casos.
Júlia Vasco é professora. Teve de deixar a sala de aulas para ir à consulta no departamento de oftalmologia no Hospital Central de Nampula (HCN). “Comecei a sentir comichão no olho esquerdo, quando voltava do serviço. Depois começou com secreções”.
Quase o mesmo quadro que apresentava Janisa Herculano, que também teve de demandar os serviços de oftalmologia para cuidar da saúde.
O número de pacientes que vão ao HCN está estacionário, mas os dados que são reportados ao nível da província mostram uma tendência de alastramento do surto, segundo explicou a médica oftalmologista, Marta Abudo.
“Temos agora 2612 casos ao nível da província, o que está a mostrar uma tendência de aumento dos números. Anteriormente, falávamos apenas de três distritos: Nampula, Monapo e Nacala-Porto; agora há também em Moma e Ilha de Moçambique”.
Nos bairros suburbanos, há muitas pessoas com a doença. Olhos vermelhos, secreções e inchaço nas pálpebras são os sinais mais visíveis. A conjuntivite hemorrágica não escolhe idade e é altamente contagiosa.
Georgina Leonardo vive no bairro de Namiepe e faz parte de um grupo de pessoas da vizinhança que estão infectadas com a doença. “Estamos todos doentes e estamos a nos contaminar”.
Não se sabe se é por desconhecimento ou negligência, mas o facto é que há muitas pessoas nas comunidades que não estão a ir ao hospital, preferindo gerir a conjuntivite em casa, à espera de que passe naturalmente. É o caso de Delfina Alfredo.
“Estamos há cinco dias com a doença. Meu marido tem, mais eu e três crianças. Não fomos ao hospital por falta de dinheiro”.
No centro de saúde de Namiepe, o mais próximo, está afecta uma técnica de oftalmologia que atende em média 20 casos por dia. Mas quando estávamos no terreno a fazer esta reportagem ela não estava a trabalhar havia dois dias porque também foi contaminada.
“O director do centro adoptou o método de dispensar os colegas que estiverem nessa situação para evitar que a conjuntivite se alastre”, confirmou Rossane Mário, responsável da Enfermagem no centro de saúde de Namiepe.
Até aqui, fala-se de uma doença transmitida através de um vírus, por isso os métodos de transmissão são similares aos da COVID-19. Entretanto, o país ainda precisa de saber mais sobre o vírus em causa.
“Na província de Nampula, em que se detectaram os primeiros casos, já se fizeram análises laboratoriais pelo Instituto Nacional de Saúde e os resultados confirmaram que 26% de casos tinham a presença do adenovírus, que é uma das variantes do vírus que provoca a conjuntivite hemorrágica. Então, nós também, como departamento, estamos a trabalhar neste âmbito de fazer estudos para poder perceber como é a característica da conjuntivite hemorrágica a nível do HCN e a nível da província de Nampula”, concluiu Marta Abudo em entrevista à nossa reportagem.
Lavar as mãos com frequência, usar a máscara e evitar estar em aglomerados populacionais são medidas que podem ajudar a cortar a cadeia de transmissão. Para os que já tiveram a doença e fizeram o tratamento, o risco de reinfecção é menor, assegura a oftalmologista, mas adverte que é preciso evitar estar em contacto com pessoas que ainda tenham a doença.