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Na Galeria da Fundação Fernando Leite Couto – Mauro Pinto com a exposição de Fotografia “Dá Licença”

A escolha de Mauro Pinto (Maputo, 1974) para esta extraordinária colecção de fotografias é o icónico bairro da Mafalala. Uma celebração às suas gentes, a todos aqueles que ali viveram e aos que ali vivem ainda hoje.

Nas imagens altamente provocatórias, as casas de madeira e zinco, despidas de ausências, enchem-se de histórias. Histórias, tão reais e tão próximas que podemos sentir no pescoço, o leve sussurrar da voz de uma Avó, ou o vento nas frinchas da janela que nos embala ao adormecer, e que, devagar, muito devagar, traz com ele o sono, que nos abraça.

O fotógrafo partiu à descoberta de um passado e traz-nos um Mundo ao redor de outro Mundo. Ou será antes, uma memória, intensa e permanente que entra no presente?

É a mesma Mafalala que conheceu de tanto ser falada, e que reconhece agora, vagueando nas suas ruas estreitas, onde submerge em sentimentos, retidos em cada imagem numa brutal realidade.

Um bairro nascido no tempo colonial, criado por gentes vindas das mais diversas partes do Índico, a Mafalala ganhou vida própria, respira, e vive no gap imperativo entre o passado e o presente, transbordando de orgulho dos seus filhos.

Contou-nos Mauro Pinto que, “uns vêm-me, abrem e deixam-me entrar, e eu automaticamente deixo que penetrem o meu ser cobrindo-me de memórias”.

A violência exibida nas imagens de Mauro, arrasa-nos, em episódios emocionantes de um passado traumático articulado no presente.  Na pobreza das casas de madeira e zinco, vemos confrontados, com uma força interior que clama ainda pelos efeitos de todo um movimento anti-colonial, pela igualdade e justiça social.

Mauro Pinto vive em Maputo e é testemunha da ironia entre a riqueza e a humildade existente nos bairros periféricos da sua cidade.  A modéstia das casas de madeira e zinco, contrasta com os anseios e a franqueza de quem lá vive.

Cada casa tem seu cheiro, ruído, por vezes com um silêncio ligeiro, e a musicalidade do bairro tem estas misturas de culturas, religiões e luz… a luz neste trabalho tem individualidade própria, como as pessoas que vivem nestas casas”, observou Mauro Pinto

O fotógrafo mostra-nos a cidade numa nova prespectiva, vindo a público com um diálogo entre a fotografia e a luz, num conceito de apresentação criativo que transborda para o exterior.  Um jogo que integra a técnica, a comunicação atractiva da imagem e o ambiente que a rodeia.

 

 

 

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