O Município de Maputo dá um ultimato de sete dias para que os vendedores informais abandonem os passeios na Praça dos Combatentes. Se não o fizerem de forma voluntária, a edilidade diz que vai procurar formas de proibir a venda. Os comerciantes pedem que lhes seja indicado um espaço para exercerem a sua actividade.
Da Praça dos Combatentes à praça dos que estão no combate diário para ganhar dinheiro e sobreviver a todo o custo, onde quer que seja. E no meio disto, a postura municipal da Cidade de Maputo não é respeitada.
O comércio informal voltou aos passeios da Praça dos Combatentes, depois de terem sido quase desactivado entre 2020 e 2021. E o número de comerciantes que cá está cresce à velocidade da luz…tudo está abarrotado.
E as razões que os levam a vender nos passeios são as de costume. “Não tenho condições para continuar os meus estudos. Não tenho casa própria. Minha mãe criou-me com base nesse negócio. Cresci nisto. Gostaríamos de sair para o mercado, mas não existe outro mercado. Por isso, estamos nos passeios”, refere Maida António, comerciante nos passeios da Praça dos Combatentes, secundada por Emília, que afirma que: “se nós estamos aqui (nos passeios), não é por falta de algo a fazer lá em casa, mas é porque precisamos de dinheiro para sustentar os nossos filhos”.
Muitas vezes é na companhia de filhos menores que homens e mulheres buscam sustento nos passeios da Cidade de Maputo. “Estou aqui na Praça desde 2021 a vender porque não trabalho, não tenho marido. Vivo com base no comércio. Tenho dois filhos. O mais novo tem dois anos e o pai faleceu enquanto ele tinha quatro meses na gravidez. De lá a esta parte, estou aqui na Praça”, contou Lurdes Bié, comerciante nos passeios de Xiquelene, Praça dos Combatentes.
Aqui na Praça há, também, comerciantes que se formaram em algumas áreas, mas, por falta de oportunidades de emprego, argumentam eles, se refugiaram no comércio. “Sou formada em electricidade e gestão de recursos humanos, mas estou em casa sentada. No ano passado, eu tentei submeter documentos na contratação de agentes sazonais, mas disseram que este ano não vão contratar ninguém. Estou aqui (nos passeios) a vender para poder dar de comer ao meu filho e pai”, justificou Sónia Pedro, comerciante.
Mas isto, entende o Município de Maputo, não deve colocar em causa a postura municipal. É, por isso, que nesta segunda-feira entrou para a última fase de sensibilização para a retirada dos vendedores que estão nos passeios.
“A Praça dos Combatentes, vulgo Xiquelene, está ocupada até aos passeios e uma parte da faixa de rodagem e na prossecução do objectivo de devolver a Praça dos Combatentes em condição de circulação livre de pessoas e, por isso, estamos a fazer a última fase de sensibilização”, revelou Naftal Lay, porta-voz da Polícia Municipal da Cidade de Maputo.
E esta última fase de sensibilização terá a duração de sete dias. Depois disso, revela o porta-voz da Polícia Municipal na Cidade de Maputo, serão tomadas outras medidas.
“Haverá uma segunda fase e, nela, a Polícia vai proibir a venda neste local. A sensibilização nunca vai faltar e a atribuição de espaços nos mercados, também não vai faltar, mas a Polícia não vai permitir que as condições de venda sejam as que se vivem neste momento”, sentenciou Naftal Lay.
Para que os comerciantes abandonem os passeios, Natfal Lay garante que o Município de Maputo já identificou alguns mercados para albergar os vendedores. “O mercado Mo Coreano não é o único. Mesmo a 100 metros da Praça dos Combatentes, temos o mercado 01 de Junho que, também tem lá condições para os vendedores exercerem a sua actividade. Temos o mercado compone e outros que dispõem de espaços”, garantiu o Polícia Municipal da Cidade de Maputo.
Entretanto, os comerciantes não têm o mesmo entendimento. Dizem que os referidos mercados não estão em condições. “Não é só dizerem saiam e contactem o mercado mais próximo. Os mercados estão cheios. Se é para nós sairmos dos passeios, que nos levem onde há condições e que permita que nós trabalhemos”, rebateu Emília, com um argumento reforçado por Sónia Pedro: “Vai ser difícil para a gente sair dos passeios. No mercado mocoreano não vamos caber todos. Esse mercado é longe da paragem. Os nossos clientes são passageiros. Não há clientes que irão até lá”.
“O País” esteve nos dois mercados mais próximos da Praça dos Combatentes. O primeiro, mais conhecido por senta-baixo, já não tem espaço para acolher comerciantes.
“O mercado está cheio, mas também passamos mal quando chove. Os que vivem nos arredores, abrem a água das suas casas de banho”, confirma Glória Castigo, comerciante que está no mercado senta-baixo.
O outro mercado, o Coreano, está sem comerciantes….Tudo porque dizem que preferem correr riscos na estrada, que é onde conseguem vender.
Lembre-se, a edilidade de Maputo tinha dito que não ia retirar os informais das ruas, enquanto as condições não estivessem criadas para o efeito.