O número de crianças expostas à violência em zonas de conflito armado atingiu 520 milhões em 2024, fixando um novo recorde pelo terceiro ano consecutivo, avançou ontem a organização não governamental (ONG) Save the Children.
De acordo com um relatório, uma em cada cinco crianças no mundo vive numa zona de conflito, sendo África a região mais afectada. Neste continente, 218 milhões de crianças – 32% dos menores no continente – estão expostas à violência armada.
Em média, 78 crianças foram vítimas de graves violações dos direitos humanos por dia em 2024: assassínio, rapto, abuso sexual, mutilação, recrutamento forçado para o combate ou ataques premeditados a escolas.
Estas graves violações totalizaram 41.763 casos verificados pelas Nações Unidas em todo o mundo, um aumento de 30% em relação ao ano anterior.
Os conflitos na Palestina, Níger, Somália e República Democrática do Congo – que faz fronteira com Angola – foram responsáveis por metade de todos os casos de violações dos direitos das crianças.
A Palestina foi o país mais afectado, sendo que uma em cada três crianças mortas ou mutiladas em todo o mundo em 2024 era palestiniana.
A Save the Children sublinhou uma correlação entre a violência contra as crianças e os gastos militares. Os países com maior número de crianças afetadas são também os que mais gastam em armamento.
Os países ricos estão a reduzir o financiamento da ajuda humanitária e a ONU está imersa num período de reformas e medidas de austeridade, fragilizando algumas das actuais medidas de proteção da infância em todo o mundo, alertou a ONG.
A directora executiva da Save the Children International sublinhou que o relatório não é meramente uma compilação de estatísticas, por mais terríveis que sejam, mas antes se centra em pessoas reais com nomes e rostos.
Inger Ashing destacou os casos de Ali, um palestiniano subnutrido que sofre de osteomalacia, também conhecida como “doença dos ossos moles”, que o impede de andar, ou Bahati, uma congolesa que teve de fugir de um ataque à escola que frequentava e caminhar durante dias sob o ruído de balas.
“Estas são as crianças do mundo que vivem e respiram terror, dor, tristeza, fome e sofrimento”, resumiu Ashing, citada num comunicado da Save the Children .
A ONG concluiu apelando aos Estados para que respeitem o direito internacional humanitário, aumentem o financiamento específico para a proteção das crianças e garantam a responsabilização por violações graves dos direitos infantis.
Cerca de 120 mil pessoas permanecem desalojadas em Cuba após furacão
Cerca de 120 mil pessoas permanecem abrigadas em centros de evacuação ou com familiares em Cuba, após a passagem do furacão Melissa pela costa leste da ilha, na quarta-feira passada, segundo dados preliminares.
A informação foi revelada durante uma reunião do Conselho de Defesa Nacional, o órgão máximo de gestão de crises e catástrofes, liderado pelo Presidente Miguel Díaz-Canel e que se tem reunido diariamente nos últimos dias.
De acordo com um balanço divulgado pela Presidência cubana, o furacão danificou quase 45.300 casas, 461 instalações do sector da saúde – incluindo hospitais, e policlínicas – e 1.552 escolas, das quais 200 já foram reparadas.
A governadora da província de Granma (sul), Yanetsy Terry, disse que os danos mais severos se concentraram no município de Río Cauto, onde as fortes inundações provocadas pela cheia do maior rio de Cuba começaram entretanto a recuar.
O fornecimento de energia eléctrica está a começar a ser restabelecido na província de Las Tunas (sul), onde a energia já atingiu 94,5% dos clientes, enquanto o progresso é mais lento nas restantes áreas afetadas pelo furacão.
Na agricultura, foram reportados danos preliminares em 78.700 hectares, dos quais mais de metade são plantações de banana.
O Melissa atravessou a costa leste de Cuba durante sete horas como um furacão de categoria 3 na escala de Saffir-Simpson (cujo valor máximo é 5), com ventos de até 200 quilómetros por hora e precipitação acumulada de até 400 milímetros.
A tempestade provocou inundações, cortes de electricidade e danos significativos. A distribuição de alimentos já alcançou 181 mil pessoas e o objetivo é prestar assistência a um total de 900 mil.
No total, cerca de seis milhões de pessoas foram afectadas pela passagem do Melissa pelas Caraíbas, estimou na segunda-feira a ONU.
Um responsável do Programa Alimentar Mundial (PAM), Alexis Masciarelli, destacou a partir de Kingston, a capital da Jamaica, que “neste momento a prioridade é chegar às zonas mais isoladas”.
O PAM iniciou programas de emergência para a distribuição de alimentos às famílias mais afetadas e espera-se a chegada de abastecimentos adicionais nos próximos dias.
Até ao momento, foram distribuídos kits de alimentos a 1.500 famílias. O objetivo do PAM é prestar assistência a 200 mil pessoas apenas na Jamaica, para responder às necessidades urgentes de alimentos.
No Haiti, o país com mais vítimas, o furacão causou danos significativos nas infraestruturas da região sul. O PAM já entregou assistência a 12.700 pessoas e o objectivo é chegar a 190 mil nas próximas duas semanas, com kits de alimentos para duas semanas.
Na quarta-feira passada, o PAM lançou um pedido de 74 milhões de dólares para ajuda de emergência a 1,1 milhões de pessoas na região caribenha, números que poderão ser insuficientes.

