Morreu, hoje à tarde, em casa, o músico Dimas. O autor de Txotxoloza encontrava-se doente há vários anos e não resistiu à enfermidade que o afligia.
Para os mais novos, o nome Dimas até pode não dizer nada. No entanto, para aqueles que nos anos 90 já ouviam rádio e ligavam a televisão, certamente, deve dizer muita coisa. Na verdade, Augusto Samuel Dimande, nome de registo, começou a cantar mais cedo, muito provavelmente nos anos 70. 20 anos depois, já era aquela voz vibrante que se destacava pela sua precisão musical e colocação vocal. Dimas cantou de forma particular, exprimindo, através da música, sentimentos verosímeis e acutilantes. Txotxoloza, eventualmente o seu maior êxito de sempre, é exemplo dessa capacidade que o autor teve na representação de uma época e de um povo. A música, por isso, continua actual, com aquele teor moral e educativo.
Dimas abandonou os palcos lá vai um bom tempo. A saúde foi-lhe um bem muito precioso, difícil de manter. Nos últimos cinco anos, mal se ouvia a sua voz. O artista recolheu-se ao seu lar para recuperar o vigor de outros tempos. Lutou uma vida inteira. Cinco anos doente é uma vida inteira. Por isso, enquanto lutava pela vida, essa coisa efémera, os mais novos não viram e nem ouviram Txotxoloza. Talvez, porque a música não é abundante no YouTube, mas o tema até se refere ao destino que esses mupfanas (rapazes) podem ter se não souberem ouvir e aprender.
Dimas não cantava apenas, interpretava a vida no mais profundo sentido da palavra. As notas altas e prolongadas eram suas. Com ele parece que cantar era fácil e, não poucas vezes, a música parecia uma recriação da dor. Esse terreno também era seu. Originalmente seu. Também por isso fazia de temas taciturnos uma receita para a arte de interpretar o que pode ser âmago de um sofredor. Hlomulo – outro hit dele, diriam os mais novos, aqui opta-se por clássico – encontra-se nessa fronteira entre o drama, o trágico, a frustração e a catarse. Nyandayeho! (Do rhonga, socorro em português). Na música se ouve essa palavra intensa, dita apenas em momentos muito específicos. Essa também é uma palavra actual e continuará a ser enquanto houver sofrimento.
Dimas cantou o sofrimento e com a música expurgou-o, de certo modo. Quando abandonou os palcos, muitos sentiram a sua falta. – Por onde anda o Dimas? Perguntavam os mais velhos, esses cuja memória atravessava séculos na ansiedade de recuperar, no passado, parte do que Moçambique teve de encantador ao nível musical.
Dimas morreu 15 dias antes de completar o seu 65º aniversário. O artista nasceu no dia 13 de Agosto de 1956, no Distrito de Manhiça, Província de Maputo. Muito provavelmente, começa a cantar nos 70, mas foi nos anos 90 que se destacou. Além de cantar, foi Presidente da Mesa da Associação dos Músicos Moçambicanos, funcionário público, empresário na área musical e fundador da editora Diamante. Com este sumiço eterno, o autor do célebre Txotxoloza deixa viúva e seis filhos.