Escritor e poeta morreu na manhã de sábado e o seu velório será na Capela 1 do Hospital Central de Maputo, às 10h desta segunda-feira.
Escreveu sobre várias vidas, como poeta, escritor ou amante do cinema. Durante anos, por volta da década de 80, por exemplo, Guilherme Afonso assinou imensos textos na Gazeta de Artes e Letras da prestigiada revista Tempo. Este homem que amou Moçambique, país que escolheu para ser sua pátria, ao fim de 90 anos de vida, morreu às 9h50 deste sábado, numa clínica privada, na cidade de Maputo.
De acordo com a família, o autor começou sentir-se mal terça-feira. Diagnosticado um problema de respiração, Guilherme Afonso foi levado à uma clínica privada. O autor de Circuito (1988), livro de contos publicado pela Associação dos Escritores Moçambicanos (AEMO), resistiu como pôde, mas, com o peso da idade, tinha 90 anos, cedeu à morte onde esteve internado durante quatro noites.
Infeliz com a perda, entretanto, a família do escritor sente que este não é um momento para chorar Guilherme Afonso. Longe disso, o que os dois filhos, Afonso e Carlos dos Santos, vários netos e bisnetos estão a fazer é celebrar a vida e a obra do autor cujo velório irá realizar-se às 10 horas desta segunda-feira, na Capela 1 do Hospital Central de Maputo. Meia hora depois, o corpo de Guilherme Afonso será cremado no Cemitério de Lhanguene, igualmente na capital do país.
Guilherme Afonso nasceu a 10 de Novembro de 1929, no Concelho de Santarém, em Portugal. Chegou a Moçambique em Outubro de 1959, a fim de ingressar no corpo de Polícia, onde desempenhou as funções de guarda, escriturário e arquivista no Comando-Geral durante a administração colonial e o Governo de Transição. Depois da independência nacional, no Instituto Nacional de Cinema, desempenhou as funções de Chefe do Sector de Documentação e Informação Cinematográfica, até 1988. Guilherme Afonso foi ainda apresentador do programa “Vamos falar de cinema”, na televisão pública.
Igualmente autor de Memória inconsumível (2007), livro de poesia publicado pela Imprensa Universitária, Guilherme Afonso foi o único distinguido com Menção Honrosa no primeiro prémio literário de Moçambique independente, promovido pela revista Tempo, em 1980/ 81, evento que estimulou acesos debates sobre o que é literatura moçambicana e quem são os autores moçambicanos. Guilherme Afonso foi um dos grandes rostos desse debate, logo a seguir a divulgação da decisão do júri em não premiar nenhum autor. Ao concurso da Tempo foram submetidos 93 trabalhos, os quais, cada, não deviam ultrapassar 100 linhas. Guilherme Afonso ultrapassou. Ao invés de uma centena, o conto “Abatido ao efectivo” do escritor, Menção Honrosa, mais tarde incluindo no livro Circuito (colecção Karingana da AEMO) teve 103 linhas. E daí surgiu o pseudónimo para o prémio literário: 103 linhas apesar de tudo.
Guilherme Afonso colaborou imenso com a imprensa, tendo publicado muitos textos, alguns com o pseudónimo Amadeu Soquiço, no A Tribuna, Notícias da Beira, Notícias e Domingo.
O último livro publicado por Guilherme Afonso foi Pão amargo (2010), livro de teatro com a chancela da Alcance Editores. No entanto, é com um excerto do poema do autor, “Perseverança”, de Memória inconsumível, que termina este texto: “Venda-se quem se vender/ Traia quem trair/ Subverta-se o que se subverter// Porque tão tranquilamente/ como tenho vivido/ quero morrer// Que não será morrer/ mas ir-me embora/ so(bria)mente”.