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Morreu a defensora de direitos humanos Alice Mabota

A advogada e activista social, Maria Alice Mabota, perdeu a vida na África do Sul, onde se encontrava internada, devido a uma doença. Alice Mabota foi, durante mais de 20 anos, presidente da Liga Moçambicana dos Direitos Humanos, onde se destacou pela sua forte intervenção social.

Termina a história de uma mulher que atravessou a história da luta pelos direitos humanos. A mais conhecida defensora de direitos humanos em Moçambique  lutava, há meses, contra uma doença, que a levou à África do Sul para receber tratamento.

O percurso de Maria Alice Mabota na defesa dos direitos humanos iniciou-se em 1993, quando participou numa conferência de direitos humanos em Viena, na Áustria, onde permaneceu por 45 dias.

Impolgada com os ensinamentos, Mabota, junto de outros activistas e intelectuais moçambicanos, decidiu fundar a Liga Moçambicana dos Direitos Humanos. Em 1999, assumiu a presidência do organismo, que deixou 25 anos depois.

Com uma entrega e percurso reconhecidos dentro e fora do país, Alice Mabota destacou-se na denúncia de violação de direitos humanos e corrupção. “Nós falamos aqui dentro sobre a dívida moçambicana, negou-se até no Parlamento, onde as pessoas foram votadas, prometeram que iam servir o povo, recusaram-se. Hoje, estamos com as calças na mão, as pessoas não sabem o que esta dívida representa para as gerações mais jovens. As pessoas não fazem uma ligação entre esta dívida e os direitos humanos”.

Liderou várias manifestações em defesa da paz e contra as desigualdades sociais, tendo sido, várias vezes, ameaçada. “O alvo principal, neste momento, sou eu. O medo que têm é que as pessoas dizem que eu tenho de ser candidata presidencial. E, como sabem,sou capaz de lhes roubar bons votos, criar-lhes problemas, estão com medo”.

Durante anos, participou e foi convidada residente em programas de análise e de debate da Stv. Num deles, criticou a inoperância das autoridades em relação aos crimes.

A vida de uma humanista, no poder ou fora dele, foi a marca dos últimos anos, vividos com energia possível. Defendia, sobretudo, que as mulheres fossem valorizadas.

Dos direitos humanos à política, Alice Mabota mostrou intenção, em 2014, de se candidatar à Ponta Vermelha, mas só em 2019 avançou como candidata presidencial, tornando-se a primeira mulher a concorrer ao cargo no país. Dizia que era para incentivar os jovens.
Mabota apresentou a sua candidatura à Presidência da República, nas eleições gerais que se realizaram a 15 de Outubro. A formalização foi feita através da Coligação Aliança Democrática (CAD).

A antiga presidente da Liga dos Direitos Humanos de Moçambique prometia implantar bases para um verdadeiro Estado de Direito Democrático no país, caso fosse eleita Presidente da República.

A activista dos direitos humanos prometeu, igualmente, lutar pela “despartidarização” do Estado moçambicano, considerando que se assiste a um controlo das instituições públicas.

Uma das suas últimas aparições, em público, ocorreu em 2022, em que se destacou como uma das advogadas de um dos 19 arguidos do “caso dívidas ocultas”. O seu constituinte, Khessaujee Pulchand, foi absolvido.

Ao seu estilo frontal, Alice Mabota, numa das audições, confrontou o juiz, Efigénio Baptista, por causa do tempo de duração dos trabalhos na cadeia de máxima segurança da Machava.

Por causa das suas lutas, Mabota foi distinguida pelos Estados Unidos da América, com o prémio internacional de Mulheres de Coragem.

A advogada e defensora dos direitos humanos morreu aos 74 anos. Maria Alice Mabota nasceu a 08 de Abril de 1949, no Hospital Geral José Macamo, na Cidade de Maputo.

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