Num mês em que se celebram efemérides da criança, cerca de 900 petizes ainda vivem nas ruas. Os problemas, que este grupo enfrenta e o drama de sobrevivência a que está sujeito, são os mesmos de sempre, mas faltam soluções.
Entregues à própria sorte, estas crianças estão dia e noite expostas a intempéries. Neste inverno, não escapam do frio por falta de abrigo e agasalhos.
As circunstâncias da vida que empurraram João Elias para a rua são similares as de tantas outras crianças cujos sonhos foram interrompidos pela ausência de amparo e protecção.
“Eu vivia com a minha avó na província de Gaza, cidade de Xai-Xai. Fugi de casa, porque ela me maltratava e o meu pai nunca quis saber de mim, abandou a minha mãe ainda grávida. A minha mãe foi formar uma nova família e, sempre que procurei por ela para falar sobre a minha situação, se mostrou indisponível e desinteressada”, disse João Elias.
Questionado sobre como faz para sobreviver, João respondeu que “para me alimentar, procuro restos na lata de lixo e peço às pessoas na porta de centros comerciais e restaurantes”.
João tentou regressar à casa, mas não houve abertura para a sua reinserção. “Liguei para minha tia, mas as notícias não foram satisfatórias, soube que minha avó vendeu a casa onde vivíamos por causa de dívidas que tinha com o banco e a minha mãe disse que os filhos de que ela cuida são o suficiente e que já não tinha espaço para mim”.
Apesar de todo sofrimento, João mantém a esperança de dias melhores, sobretudo voltar a estudar, ter trabalho e melhores condições de vida.
A história de Edson Macuácua, companheiro de João Elias, não é muito diferente. Abandonado ainda recém-nascido pelos seus progenitores, Edson foi criado pela sua avó com quem teve desavenças e foi obrigado a sair de casa.
“Os meus pais abandonaram-me ainda bebé, minha avó é quem me criou, mas, ao longo do tempo, as coisas mudaram. Acusava-me de furto, enquanto eu trabalhava para ajudá-la.”
Edson fala, também, das dificuldades que enfrenta no seu dia-a-dia. “Estamos a sofrer, não temos o que comer e cobrir. Em alguns dias, conseguimos virar-nos, porém, quando chove, sofremos muito, não temos nada para nos proteger. Por vezes, ficamos doentes por conta do frio.”