O passado, o presente e o entre. Este é o título da colectiva que Moçambique leva à 58ª edição da Exposição Internacional de Arte na Bienal de Veneza, Itália. A realizar-se entre 11 de Maio e 24 de Novembro, o programa inclui três artistas nacionais: Gonçalo Mabunda, Filipe Branquinho e Mauro Pinto, os quais vão apresentar as suas obras no Pavilhão Nacional de Moçambique.
De modo que tudo aconteça com o impacto que se pretende, encontra-se em Maputo a curadora da exposição, Lidija Kostic Khachatourian, quem, enquanto trabalha com os artistas, paralelamente, encontrou-se com o Secretário Permanente do Ministério da Cultura e Turismo, Domingos Artur, entidade que apadrinha a ida dos artistas nacionais à Itália.
A primeira vez que Moçambique apresentou-se com um Pavilhão Nacional na Bienal de Veneza foi em 2015, na 56ª edição. Neste ano, a delegação de artistas moçambicanos vai procurar exibir, naquela cidade italiana, uma abordagem do passado conturbado da nação e uma eventual consequência daí resultante. Portanto, a escolha de Gonçalo Mabunda, Filipe Branquinho e Mauro Pinto pela curadora tem que ver com um passado que os três têm comum: “Quisemos juntar a experiência dos artistas que viveram a guerra civil. Com isso, queremos mostrar como eles conseguiram transformar eventos negativos em algo artístico e belo, que será apresentado em Veneza”, explicou Lidija Khachatourian, consultora de arte que produz shows e exposições em Dubai desde 2014, trabalhando também como representante internacional de artistas.
Para Gonçalo Mabunda, diferente dos seus companheiros, esta não será a primeira vez a participar na Bienal de Veneza. Ainda assim, explica o artista, esta edição vai ser especial, até porque estará na qualidade de representante oficial do país, o que não aconteceu há alguns anos. “A primeira vez que estive na Bienal de Veneza não expus no Pavilhão de Moçambique. Então, sinto-me muito feliz por esta oportunidade de poder ir a um evento de topo mundial com o Mauro e o Filipe, artistas que conheço há muitos anos”.
À 58ª edição de Veneza, Gonçalo Mabunda vai levar seis obras, desta vez, sem tronos e sem máscaras. Tudo para se questionar e surpreender os apreciadores da sua arte. No caso de Mauro Pinto, o artista preparou um trabalho que ainda está a ser realizado numa mina de carvão, em Tete. A série do trabalho que problematiza alguns aspectos sociais intitula-se Black money, na qual o fotógrafo pergunta-se como as pessoas que vivem em Moatize vivem sócio e economicamente. “Questiono-me muito sobre esta realidade que, na verdade, não diz respeito apenas a Tete. Este boom de investimentos estrangeiros começa a ter um certo impacto um pouco por todo o país. Sentindo-me intrigado com essa realidade, decidi sair à rua e pôr-me a desenvolver este projecto”, explicou Mauro Pinto.
Os três artistas nunca haviam expostos todos juntos. O máximo possível foi dois deles estarem na mesma colectiva. Também por isso, a bienal de Veneza será marcante, conforme admite Filipe Branquinho: “será uma oportunidade única esta de expor com dois principais promotores das artes visuais em Moçambique, no país e no estrangeiro. O Gonçalo e o Mauro são amigos que, para mim, têm um papel importante como pessoas e como artistas. Há muitas oportunidades, por exemplo, que me surgem por causa dos dois”.
A exposição dos artistas nacionais na 58ª Bienal de Veneza tem apoio e patrocínio da África Legal Network, Abu Dhabi Securities, e o centro criativo Akka, em Dubai e Veneza.