O bailarino e coreógrafo Ídio Chichava defendeu, este sábado, na Cidade de Maputo, que a estratégia de promoção e divulgação da dança moçambicana no país e no estrangeiro é frágil. Segundo o artista, é fundamental investir na formação, certificação e no intercâmbio dos bailarinos nacionais.
“A nossa formação em dança está mal”. Segundo Ídio Chichava, assim é porque a instituição artístico-cultural moçambicana “não está a funcionar com todos os pistões em dia, no sentido de actualizar o currículo. O que nós, os bailarinos, estamos a tentar fazer é criar comunidades que podem continuar com essa formação e inspirar novas gerações. Penso que há ausência de uma robustez institucional, no que diz respeito ao fomento da dança no país”.
Para Ídio Chichava, é importante que Moçambique pense como é que a partir da formação institucional em dança pode-se certificar pessoas capazes de integrar grandes companhias e grandes escolas internacionais. Na óptica do artista, actualmente, o país não está a contribuir para exportar ou colocar bailarinos nos mais interessantes palcos mundiais. “Acho que esse é um desafio de todos nós, começarmos a reflectir numa forma de reinstitucionalizar a dança para certificar os bailarinos para o mundo profissional ou para serem professores de dança”.
Ídio Chichava vive e trabalha em França há 15 anos. Quando pensa em colaborações com os seus colegas moçambicanos naquele país ou no velho continente, em geral, afirma: “É difícil encontrarmo-nos na Europa para colaborarmos sobre alguma coisa que é de Moçambique. A nossa base, no país, está desequilibrada e, enquanto não formos uma estrutura, ao nível individual e colectivo, será difícil eu colaborar com outros bailarinos e coreógrafos moçambicanos com regularidade. Precisamos de colaborações mais fortes e consolidadas. Isso é totalmente difícil porque a maior parte dos artistas que viaja para a Europa vai como freelancer e sem estrutura. Os artistas precisam de ser instituições consolidadas, de modo a que possam colaborar com instituições estrangeiras e com outros bailarinos moçambicanos”.
Chichava tem a certeza de que os moçambicanos são bailarinos talentosos, no entanto, na sua visão, é preciso que o Governo, através do Ministério da Cultura e Turismo, crie possibilidades e incentivos para que a produção e promoção da arte no país e no estrangeiro aconteça frequentemente.
Ainda de acordo com Ídio Chichava, na Europa, é mais fácil colaborar com bailarinos de outras nacionalidades do que com outros moçambicanos que lá vão trabalhar. Geralmente, “eu tenho de passar por uma outra instituição para poder colaborar com um bailarino ou coreógrafo nacional”, rematou Ídio Chichava, artista que, recentemente, teve duas digressões nos Países Baixos e em França.