O País – A verdade como notícia

Moçambicanos vítimas de malfeitores na África do Sul vivem um verdadeiro calvário

Foto: O País

O jornal “O País” ouviu histórias de moçambicanos que sobreviveram a ataques e queima de suas viaturas na África do Sul. As vítimas contam o momento de terror que passaram, já que os malfeitores estavam armados e disseram que aquela era a mensagem para o Governo, sem especificá-lo.

O casal Mamad David e Suneia Habibo e os seus três filhos viajavam numa viatura de marca Toyota Prado, no dia 28 de Janeiro, de regresso a Moçambique, depois de terem estado na cidade sul-africana de Durban a trabalhar e a passar férias. No percurso, foram seguidos por malfeitores que se faziam transportar em duas viaturas empunhando armas de fogo.

“Da minha parte, o que sucedeu é uma perseguição de 20 quilómetros antes da vila de Sodwana e fui andando e alertei à minha esposa que este carro sem matrícula de repente entrou na estrada e está a seguir-me, mas não levei aquilo a sério, fui andando e, de repente, o carro ultrapassa-nos em boa velocidade, achei que fosse minha intuição errada”, contou Mamad David.

Mamad achava que a intuição errada transformou-se num autêntico terror. O seu carro foi queimado por malfeitores em número de 12, todos eles armados. “Logo de seguida, tiraram-me do carro, fizeram-me desligar o carro e puseram gasolina e incendiaram todo o carro. Eles não tiveram nenhuma compaixão, o objectivo deles era queimar os carros. Até ao último caso, eu a pedir para que não fizesse aquilo, foi quando ele me empurrou e mostrou-me uma arma de fogo e foi quando incendiou a viatura, pôs directamente a gasolina, incendiou e esperaram uns cinco minutos até não poder aproveitar nada.”

E os homens armados deixaram uma mensagem: “Este é um problema do Governo. Não é nada convosco. Problema do Governo”, sem especific­á-lo.

Foi um momento de pânico e muita dor. Suneia esposa de Mamad David viu todos pertences da família adquiridos na terra do rand a serem consumidos pelo fogo, sem poder fazer nada. Os seus filhos estão traumatizados. “É muito triste o que está a acontecer connosco desde que isso se passou, nós tentamos pedir, imploramos, eu ofereci telefones, disse até que tirasse tudo o que estava no carro para que nos deixassem ir, mas eles não tiveram compaixão cosco, incluindo as crianças que eram volta de oito, eles não quiseram saber, foram bruto, foram animais, posso dizer, os sul-africanos não têm nada a ver com moçambicanos.”

Ayman Calu viajava com a família numa outra viatura de marca Nissan Patrol emprestado que terminou queimado, depois de uma longa perseguição com malfeitores e escapou aos disparos de armas de fogo.

“E quando viram que eu não estava a ceder, eles começaram a disparar para a minha viatura. Naquele momento de aflição, eu pude contar pelos ruídos do carro sete a oito balas. Eu estava atento à estrada e ao retrovisor e vi que ele tirou da cintura de dentro das calças mais um carregador e carregou a arma de novo e voltou a disparar por aí sete a oito balas, foi o que consegui contar e umas das balas atravessou a porta, foi a bala que provavelmente atingiu o pneu dianteiro do lado direito do meu carro”.

E aquelas famílias sentem a ausência do Governo moçambicano perante esta tragédia. “O nosso Governo deve dar a cara uma vez mais para nos proteger. Se isso fosse com os sul-africanos, o Governo sul-africano faria de tudo para que os seus cidadãos se sentissem confortáveis. Graças a Deus que não perdemos a vida, mas o nosso Governo deve proteger-nos e deve fazer perceber ao Governo sul-africano que deve ressarcir-nos.”

Ao todo, são seis carros imobilizados e cercados por malfeitores, mas dois conseguiram escapar e os quatros terminaram em chamas. Nestas famílias, ficaram marcas que talvez o tempo possa apagar.

Partilhe

RELACIONADAS

+ LIDAS

Siga nos