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Militares invadem televisão pública no Zimbabwe

Explosões foram ouvidas, na noite de ontem,  na capital do Zimabwe, Harare, e os funcionários da televisão nacional, ZBC, disseram que as instalações foram ocupadas por militares, escreve o Diário de Notícias.

O habitual serviço noticioso nocturno da ZBC não foi emitido.

Ao longo do dia de ontem, tinham-se produzido movimentações militares e surgiram rumores de um golpe de Estado. Colunas militares foram vistas a convergir para Harare.

Ao início da noite, os militares controlavam algumas das entradas na cidade.

Pouco depois, a embaixada dos EUA no Zimbabwe informou que estaria fechada ao público devido à "incerteza persistente" na capital do país, Harare. A embaixada anunciou o encerramento através da sua conta na rede social Twitter ao início do dia, pouco depois de terem sido ouvidas pelo menos três fortes explosões em Harare, onde foram vistos veículos.

O partido do presidente Robert Mugabe acusara no início da semana o general Constantino Chiwenga, responsável máximo das forças armadas, de "comportamento traiçoeiro" depois de este ter sugerido que os militares poderiam ver-se forçados a intervir na vida política do país.

Chiwenga fez as declarações num momento em que estão a ser afastados da ZANU-PF os elementos considerados seus próximos pelos seguidores de Mugabe. A crise no partido está aliada ao afastamento do vice-presidente Emmerson Mnangagwa, até há pouco considerado o favorito para suceder a Mugabe, de 93 anos, na chefia do país.

Quer Mnangagwa quer Chiwenga são veteranos da guerrilha contra o regime da minoria branca na então Rodésia. O primeiro foi criticado há meses por Grace Mugabe, que o acusou de estar a preparar um golpe. Mnangagwa foi demitido de funções no início de Novembro, acusado de "deslealdade" e saiu do país.

Mnangagwa foi afastado do cargo há poucas semanas naquilo que foi considerado um movimento abrindo caminho à candidatura da mulher de Mugabe, Grace Mugabe, de 52 anos, para lhe suceder. Esta já tem o apoio de importantes dirigentes do partido, além do marido, para se candidatar nas presidenciais marcadas para o próximo ano. Isto apesar de, oficialmente, Mugabe ter sido designado como candidato, mas com o seu estado de saúde a deteriorar-se, a hipótese de Grace avançar tem ganho maior probabilidade. O ainda presidente tem-se deslocado frequentemente a Singapura para tratamentos médicos.

Grace Mugabe, que declarou em 2014 ter "todo o direito" a candidatar-se à presidência, esteve envolvida nesse ano no afastamento da então vice-presidente Joice Mujuru, próxima do presidente.

Mugabe dirige o Zimbabwe desde a independência em 1980. Segundo a Reuters, na terça-feira presidiu a uma reunião do governo onde acusou Chiwenga de insubordinação e "apelo à insurreição".

A ala juvenil da ZANU-PF divulgou ao final de terça-feira um longo comunicado em que apelava à mobilização "quando chegar o momento" para defender "a revolução e o nosso líder e presidente", estando "preparados para morrer", caso necessário.

O choque entre o presidente e o general Mnangagwa é o primeiro conflito aberto entre os militares e Mugabe desde que este chegou à liderança do Zimbabwe. Tradicionalmente, as forças armadas sempre se mantiveram a seu lado em momentos de crise política.

Ouvido pela Reuters terça-feira à tarde, o embaixador do Zimbabwe na África do Sul desmentira a existência de tentativas de golpe, afirmando que "nada está a acontecer" e que o poder permaneceria "intacto" nas mãos do presidente e da ZANU-PF.

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