A Ordem dos Médicos reagiu com preocupação ao facto de haver distribuição das vacinas nas províncias sem a publicação do plano de vacinação. O organismo diz que alertou o Ministério da Saúde sobre a relevância da apresentação do plano, pois uma vacinação “não pode ser feita de forma desordenada e sem critérios claros”.
Trata-se de um assunto que está a dominar a atenção dos moçambicanos: dias depois da chegada do primeiro lote das 200 mil vacinas oferecidas pela China, as autoridades de saúde começaram a distribuir as doses pelas províncias, sem um plano de vacinação, um facto que não encaixa na mente da Ordem dos Médicos.
“Sem dúvidas que a distribuição não deveria ocorrer sem um plano de vacinação. Isso é inquestionável; não é possível pensar que a vacinação tenha que ocorrer de forma atabalhoada. É necessário que haja organização”, reagiu Gilberto Manhiça, bastonário da classe dos médicos, que revelou ainda que “não foi por falta de aviso ou aconselhamento que o MISAU agiu dessa maneira”.
“Já tínhamos levantado essa questão nos encontros que temos tido no ministério. Falamos sobre a necessidade de termos um plano muito claro sobre esta vacinação e, na altura, o MISAU prometeu que assim seria feito”, avançou o bastonário.
“Tivemos informação que a vacina iria chegar ao país com mais de um mês de antecedência. Nessa mesma altura, colocámos em cima da mesa a questão do plano, mas até hoje nada foi apresentado e isso nos preocupa”, acrescentou Manhiça.
Mesmo sem um plano de vacinação apresentado, a ordem tem seu posicionamento sobre como deve acontecer o processo.
“Acho que os primeiros a vacinar são os que lidam com os pacientes que contraíram a doença. Faz também todo o sentido que os profissionais que fazem o rastreio estejam na dianteira da vacinação. Sem me esquecer dos que têm idades mais avançadas, que estejam disponíveis para prestar o seu conhecimento, também devem estar neste primeiro lote dos que serão vacinados”, defendeu.
ENFERMEIROS MENOS PREOCUPADOS COM PLANO
Em reação a esta polémica, a Ordem dos Enfermeiros desdramatizou a situação e disse acreditar que o MISAU já tem um plano.
“Quero acreditar que o plano existe. A operacionalização de um plano obedece sempre a passos. Tenho conhecimento, por exemplo, que há um grupo de profissionais que estão a ser formados para esta questão de vacinação”, disse Maria Lourenço, bastonária da Ordem dos Enfermeiros.
A responsável da agremiação que junta os enfermeiros disse entender que os alaridos que existem se deve ao facto do processo ser novo no país.
“No seio dos profissionais de enfermagem a sensibilização começou há bastante tempo, só que pode não ter sido abrangente porque estas acções têm a sua logística. Esta questão da COVID-19 é um assunto novo e traz consigo muitos mitos e alguma desinformação”, expressou.
A Ordem dos Enfermeiros defende ainda a desconstrução da ideia segundo a qual a vacina irá resolver todos os problemas.
“A vacina não cura, mas ela ajuda com que a pessoa vacinada tenha um risco menor de desenvolver doença grave ou mesmo morte. Isto quer dizer que não se pode, nem se deve relaxar em relação às medidas de prevenção contra esta vacina”, disse.
As duas ordens foram unânimes em defender que é preciso dotar os profissionais de saúde de toda a informação sobre a vacina para tirar o receio que existe sobre a aplicação da mesma.