O País – A verdade como notícia

Maria Gadú: a poesia no Festival AZGO

Ne me quite pas. O título da música interpretada por uma das vozes respeitáveis do Brasil transpareceu o que cada um do público no Campus da UEM, sábado, desejava dizer: “Não me deixe”, no caso – e num francês catastrófico –, como se Maria Gadú tivesse que actuar num espectáculo infinito. A brasileira sabia que nenhuma recompensa a conseguiria manter no palco a noite toda, por isso orou ao tempo para que a permitisse ser eterna na memória das pessoas. Para o efeito, acompanhada de “três putinhos” (no violino, na bateria e no baixo) fez o AZGO viajar na poesia das suas letras, nesta 7ª edição do Festival cantadas ao ritmo rock, sempre com aquele encanto metafórico. Particular.  

Maria Gadú subiu ao palco quase 21h, vestida feito um Axl Rose, James Hetfield ou Per Gessle. No rosto, sempre o sorriso meio envergonhando, que desaparece, quando a alma é possuída pela música. E entre os temas escolhidos para este primeiro encontro com o país, a brasileira trouxe “Bela flor”, a melancolia contida em “Dona Cila” e “Extranjero”, e, mesmo sem Leandro Leo, cantou “Laranja”, sem o azedume que em muitos casos caracteriza a fruta. Nada que satisfizesse, o público queria mais. Logo, a cantora convidou a todos a passear pelo seu “Lounge” e pelo mundo doente além da conta em “Axé Acappella”. Em forma, Gadú tocou as notas dos corações e deixou o melhor para o fim. Então não se ouviu mais nada na UEM, além de “Shimbalaie”, tão aguardada. Aí a emoção ganhou outras vozes e o auditório “viveu anos em segundos”, algo incontrolável quanto a vontade de negociar com o tempo para que os segundos durassem mais. Sem efeito. Gadú, depois de deixar os espectadores aos delírios, foi-se embora, feliz “por finalmente ter vindo a Moçambique, depois de vários encontros adiados”, disse.

Não obstante, a 7ª edição do AZGO não terminou com actuação da brasileira. Antes, no palco Fany Mpfumo, já haviam estado Freshlyground, grupo sul-africano que conta com um moçambicano na guitarra: Julinho Sigauque. Pela segunda vez no AZGO, os “bafanas” liderados por Zolani Mahola foram o pretexto para danças improvisadas. Com “Doo be doo”, “Pot belly” ou “Waka waka” Freshlyground foi “fresh”, actuando num território que bem conhece, no qual, a barreira linguística resume-se em nada. Por isso, todos entenderam o sarcasmo de “Banana republic”, e apoiaram.

Ainda no palco Fany Mpfumo, estiveram duas grandes lendas do hip-hop em português. O primeiro foi “O manda chuva”, com Mambas às costas numa camiseta que é Moçambique. Boss AC foi ao palco por volta das 22h, tendo, como enorme suporte para a sua actuação, o cantor TC. AC cantou temas como “Sexta-feira”. Depois, o rapper recuou no tempo e foi buscar no passado temas badalados como “Anda cá ao papá”, “A carta que eu nunca te escrevi”, “Lena” e “Hip-Hop (sou eu e és tu)”. A sua hora ficou feita, e, antes de se ir embora, ainda reconheceu que “o Hip-Hop moçambicano está num bom caminho, com grandes rappers como Azagaia e Ivety”.

Porque não se pode falar no Diabo, que aparece, horas depois, à semelhança da edição passada do AZGO, no Fany Mpfumo, Azagaia foi leal à causa revolucionária que Os Cortadores de Lenha defendem. Em pouco tempo que esteve no palco, Azagaia começou com “Cubaliwa”. Trajado a Samora, cantou “A marcha”, “Povo no poder” e apagou actuação de Boss AC, tanto que, depois dos punhos no ar voltarem à posição natural, um mar de gente deixou o Campus. Empolgado. Mas com os punhos em silêncio.

Quanto ao Gil Vicente, outro palco montado no AZGO, destacaram-se “Os bons rapazes”, o monstruoso Ray Phiri, com seu eterno “Zwakala” e “Fire, Passion and Ecstacy”. Naquele palco, a grande voz feminina foi Xixel Langa, numa performance limpa, convite perfeito para que se compre o seu “Inside me”. Os amantes do reggae, bem, eles tiveram Ras Haitrm como pretexto para se agitarem em câmara lenta.

 

 

Partilhe

RELACIONADAS

+ LIDAS

Siga nos