Na quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025, a pacata Vila de Homoíne, na província de Inhambane, foi abalada por manifestações intensas que reflectiram o crescente descontentamento da população, face ao elevado custo de vida e outras questões sociais. O que começou como um protesto pacífico rapidamente escalou para episódios de violência e vandalismo, deixando marcas na comunidade local.
Fontes locais indicam que os tumultos foram desencadeados por três factores principais:
A inflação dos preços dos bens essenciais tornou-se insustentável para grande parte da população, que já não consegue suprir as necessidades básicas.
Na Escola Secundária Joaquim Chissano de Homoíne, os alunos eram obrigados a pagar taxas adicionais para a segurança (dinheiro do guarda) e a adquirir uniformes escolares exclusivamente na instituição, ao preço de 1 500,00 Meticais, valores considerados exorbitantes pelos encarregados de educação.
A imposição de aquisição dos uniformes na própria escola gerou revolta entre os pais, que viam na prática uma forma de exploração económica.
A insatisfação culminou quando um grupo de manifestantes se dirigiu à Escola Secundária Joaquim Chissano de Homoíne, para exigir a devolução das taxas pagas e a revisão das políticas de uniformes. Perante a recusa das autoridades escolares, os ânimos exaltaram-se, resultando no incêndio da viatura do diretor da instituição. O veículo, adquirido recentemente através de um financiamento bancário, foi completamente consumido pelas chamas, simbolizando a fúria e o desespero dos manifestantes.
Paralelamente, outros grupos de protestatários concentraram-se no centro da vila, onde invadiram o edifício do Conselho Municipal local. As autoridades, incluindo o Administrador, foram obrigadas a abandonar as instalações e a procurar refúgio, temendo pela sua integridade física. A sede distrital do partido Frelimo também não escapou à onda de vandalismo, reflectindo a extensão do descontentamento popular.
Na quinta-feira, 20 de fevereiro, o cenário comercial de Homoíne sofreu alterações drásticas. Após um frente a frente entre a população e os comerciantes, especialmente os armazenistas de origem indiana, houve uma redução significativa nos preços dos produtos de primeira necessidade. Inicialmente, os comerciantes resistiram às exigências populares, mas perante ameaças de saque e destruição dos seus estabelecimentos, cederam e ajustaram os preços. Por exemplo, o saco de 25 kg de arroz, que anteriormente custava entre 1 600,00 e 1 700,00 Meticais, passou a ser vendido por valores entre 890,00 e 1 300,00 Meticais. O feijão-manteiga, cujo preço era de 150,00 Meticais por quilograma, foi reduzido para 80,00 Meticais.
Estas reduções provocaram uma afluência massiva de consumidores aos estabelecimentos comerciais, com centenas de pessoas a enfrentar longas filas, mesmo sob condições meteorológicas adversas, na esperança de adquirir produtos a preços mais acessíveis.
No entanto, os comerciantes alertam para a insustentabilidade desses preços reduzidos, indicando que vender abaixo do custo poderia levar ao desabastecimento e eventual falência dos negócios locais.