O País – A verdade como notícia

Mambas: falta de dinheiro, “greve de fome” e FMF em prantos!

Os jogadores da selecção nacional de futebol boicotaram, hoje, a sessão matinal de treinos, em reivindicação do pagamento de prémios de jogo (concretamente do jogo com a Zâmbia). A Federação Moçambicana de Futebol (FMF), envolta em polémicas nos últimos dias, dá a mão à palmatória e diz que vai pagar aos atletas nos próximos dias. Um problema não vem só, até porque, recentemente, a FMF anunciou a desistência dos Mambinhas de provas internacionais, por alegada falta de fundos, decisão criticada dias depois pela Secretaria de Estado de Desporto.

Ambiente de “cortar à faca!” Um país desportivo a andar em contramão! Nas vésperas de decisivos jogos com o Malawi (o primeiro, agendado para sábado, em Lilongwe, e o segundo para o dia 3 de Setembro, no Estádio Nacional do Zimpeto), emergiu mais um dos vários problemas que afectam os Mambas, agora em estado de graça com a raça demonstrada nos últimos jogos. Resultados encorajadores, acima de tudo, para uma selecção habituada a desaires.

A roçarem à presença, oito anos depois, numa fase final do Campeonato Africano das Nações para jogadores internos (CHAN-2023), os jogadores, que deviam estar única e exclusivamente focados nos treinos, reclamam o pagamento de prémios de jogo e diárias.

Porque, segundo apurou o “O País”, os ânimos exacerbaram-se e o silêncio era ensurdecedor por parte da Federação Moçambicana de Futebol, os jogadores decidiram “boicotar”, hoje, o treino matinal previsto para o Complexo Desportivo da Black Bulls. Os jogadores evidenciaram ter pilhas extras fora das quatro linhas.

Mais ainda: entraram numa “greve de fome” ao recusarem-se a jantar (na noite de terça-feira) e tomar o pequeno-almoço hoje.  

Numa verdadeira maratona, e corrida contra o relógio, a direcção-executiva da Federação Moçambicana de Futebol encetou negociações com os atletas. E, ao cabo de aturadas horas de negociações, com mediação da Secretaria de Estado de Desporto, chegou-se a um entendimento. Os jogadores terão o valor até sexta-feira, 26 de Agosto. Pelo menos foi esta a promessa da FMF.

E, neste processo negocial, é preciso recordar que a Secretaria de Estado de Desporto tem estado, nos últimos tempos, a assumir protagonismo, não só ao passar certificado de incompetência a algumas federações, assim como a encarregar-se publicamente de assumir as despesas de participação das equipas em provas.

Sabe “O País” que a falta de pagamento de ajudas de custo vem desde a participação da selecção nacional de futebol no Torneio Internacional de Nouakchott, na capital da Mauritânia, prova realizada entre os dias 23 e 26 de Março. São cinco dias de permanência naquele país, não compensados monetariamente. Geriu-se em “banho-maria” o barulho, e, estranhamente, foi-se ao extremo de deixar a bomba estourar.

Havia, por parte do seleccionador nacional, Chiquinho Conde, a perspectiva de realizar cinco sessões de treino em solo pátrio, mas tal já não será possível.

FMF ASSUME PAGAR NOS PRÓXIMOS DIAS…

Não era seguramente uma acção que a Federação Moçambicana de Futebol estivesse à espera; era, antes disso, uma atitude que o elenco de Feizal Sidat quisesse evitar a todo custo.

Mas, como, face às incertezas, a reivindicação dos atletas constituía um rastilho de pólvora prestes a explodir, a FMF não se surpreendeu de todo com o boicote da sessão de treinos. E assume estar com dívida para com os jogadores.

“Houve um encontro com a direcção-executiva da Federação Moçambicana de Futebol, no sentido de se dissipar todas as dúvidas em relação a esta questão. Colocava-se a possibilidade, da parte dos próprios jogadores, do valor não vir a ser pago. Há um relativo atraso no que diz respeito aos pagamentos. Isto é normal em instituições do género e não só. Mesmo as instituições públicas têm dificuldades, há atrasos e a federação não está alheia a estas situações. Certo é que há um valor que a federação reconhece que devia ser avançado, mas, neste momento, não tem disponibilidade e a campanha está em curso”, justificou Gervásio de Jesus, vice-presidente da Federação Moçambicana de Futebol para Área de Marketing, em entrevista ao “RM Desporto”.

Há, do lado da Federação Moçambicana de Futebol, um compromisso de fazer os desembolsos que até “já estão em curso” nos próximos tempos. Muitas cautelas, na verdade, e, mais do que isso, muita confiança de ver o problema solucionado. O discurso assim o diz!

“Há que haver aqui uma certa compreensão por parte dos próprios jogadores porque vão ser pagos. Daí que tenha havido este mal-entendido. Há quem tenha dito, dentro do grupo, que não seriam pagos, mas não é isso. Os atletas estavam meio renitentes  em relação às informações que eram passadas por funcionários que estão a trabalhar directamente com a equipa técnica. Chegou-se a um consenso de que a FMF vai pagar nos próximos tempos. Há desembolsos que estão em curso neste momento e, logo que a tesouraria tiver o dinheiro em mão, claro que vamos pagar”, assegurou.

Mal-estar gerou-se entre os atletas e a FMF. Mas não vice-versa, pelo menos a avaliar pelos pronunciamentos de Gervásio Jesus. Aliviado, claramente, pelo regresso dos Mambas aos treinos, feliz pelo consenso alcançado, mas ciente de que o descontentamento dos atletas e o não cumprimento do acordado pela Federação Moçambicana de Futebol não pode colocar uma Nação de prantos! Justamente, agora, que os adeptos voltaram a acreditar numa equipa responsável pelos seus desgostos!

“Eu acho que não há problemas, porque internamente há um trabalho do ponto de vista psicológico que está a ser feito pela equipa técnica e os próprios jogadores que estão focados para este jogo. Eles sabem das responsabilidades que têm de garantir um bom resultado em Lilongwe, e, depois, no jogo da segunda mão que pode levar justamente a selecção de Moçambique novamente a um CHAN. Os jogadores terão que vincar uma postura diferente deste celeuma que se levantou”, apelou, para adiante repisar: “Os atrasos ocorrem em qualquer sítio e a federação não é uma ilha e está ligada a estes procedimentos burocráticos”.

TICO-TICO: “NÃO PODEM HAVER PROMESSAS E NÃO SE CUMPRIR”

Tico-Tico apela sempre ao bom senso entre as partes: “Eu acho que fica mal. A selecção nacional é o clube de todo o país. Partimos do princípio que é sempre um orgulho vestir a camisola nacional. Não estou a dizer que os atletas devem jogar de borla. Não é isso que estou a dizer. Não fica bem que um problema desse venha cá para fora. Fica uma má imagem tanto para a selecção nacional quanto para a federação e os próprios jogadores. Portanto, espero que seja uma situação que possa ser resolvida. Futuramente, espero que encontrem uma solução que não venha a público, porque, se acontecer um mau resultado, as pessoas vão sempre relacionar à situação da greve”, alertou a lenda do futebol moçambicano.

Tico-Tico recuou no tempo, recordando que os atletas souberam reagir em prol da Nação. “Mesmo no passado, houve situações de crise na selecção nacional. Eu penso que nós sabíamos resolver os problemas internamente. Como se diz, lavar a roupa suja internamente e não em público porque não é bom para ninguém”.

O antigo capitão dos Mambas diz ainda que a FMF deve cumprir as suas promessas. “Acima de tudo, penso que, se há compromissos que a Federação Moçambicana de Futebol tem com os jogadores deve cumprir. Penso que os jogadores têm dado o seu litro. Nas últimas campanhas, tenho sempre mencionado que a selecção nacional tem estado a obter bons resultados. É importante que sejam motivados porque estão a ter bons resultados. Não podem haver promessas e não se cumprir”, alertou Tico-Tico.

HENRIQUE ALY SAI EM DEFESA DOS JOGADORES

Um dos mais renomados jornalistas desportivos do país, Henrique “Alito” Haly saiu em defesa dos atletas da selecção nacional de futebol no procedimento por estes tomados em reivindicação de prémios de jogo e diárias.

Num tom sarcástico, Henrique Aly escreveu: “O mais caricato é que, como sociedade, atingimos um ponto tal de Insensibilidade e falta de empatia que a maior parte das intervenções é feita a ‘condenar os aletas’ pela atitude de reivindicação de um ‘direito’ e poucos estão interessados em prestar atenção à causa do protesto levado a cabo com recurso à greve de fome… É esta sociedade que aplaude e inveja os golpistas da tenda da ‘BO’ e perdeu o sentido de indignação, porque convencionou que o errado é que está certo. Os jogadores não receberam o per diem. E, depois, qual é o problema?”

“Eu, sentado no conforto do meu sofá de cabedal, a servir-me de uma bebida que custa um salário mínimo, quero ligar o meu televisor LED de 82 polegadas e vê-los em campo, orgulhosos de vestirem a camisola da nossa selecção” e a darem a vida pelos meus insultos ao seu fraco desempenho. Quem são eles para deixarem de jantar e tomar o pequeno-almoço? Mimados!”

Se aqueles que fizeram nome em África e são conhecidos internacionalmente continuam à espera de terrenos prometidos antes dos seus netos nascerem, quem são esses desconhecidos armados em craques para reclamarem “pocket money”?

“E os Paulitos, Ticos, Rui Évoras, Chissanos, Zé Agustos, Nanas, Nacires, Riquitos, Antoninhos, Nicos e Cia que só recebiam o “pocket Money” meses depois de se terem esquecido do país para onde tinham viajado ao serviço da seleção? Serão esses craques do nosso passado supostamente glorioso, que ficaram anos com alguns prémios monetários por receber, menos importantes do que estes, quase recém-nascidos para o futebol? Arri… deixarem de jantar mesmo? Já se esqueceram que um certo treinador de um clube histórico foi enxovalhado e rebaixado por ter reclamado que os seus atletas foram a jogo sem almoçarem? Por acaso, era a primeira vez que tal acontecia para difamar um clube centenário daquela forma? Outro mimado! Mas esses jogadores da selecção que fizeram greve de fome pensam que representam a selecção de que país mesmo? Tipos que vão aos treinos de ‘my love’ de repente convencidos de que são futebolistas profissionais!”

Partilhe

RELACIONADAS

+ LIDAS

Siga nos