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Mais de 50 mil alunos estudam ao “ar livre” na província de Maputo

Foto: O País

Mais de 50 mil alunos do ensino primário, na província de Maputo, estudam ao ar livre, sentadas no chão. O problema faz com que mais crianças com doenças respiratórias deem entrada nas unidades sanitárias, devido à exposição ao frio. A Direcção Provincial da Educação prevê até finais deste ano construir mais 100 salas de aulas.

Estudar numa sala de aulas, sentado na carteira, é o sonho de Luís Inácio, aluno da 6a classe da Escola Primária de Malhampsene, no município da Matola. Enquanto isso não acontece, o menor e os seus colegas assistem aulas nas sombras das árvores.

“Gostaria que a escola tivesse salas suficientes para todos os alunos para que nenhum de nós estude fora. É muito cansativo estudar desta forma porque temos apanhado muita poeira. Aqui estamos expostos, sem paredes para nos proteger”, disse Luís Inácio.

Os alunos assistem as aulas sentados no chão durante pelo menos cinco horas, nos dias úteis da semana. O resultado, segundo contaram ao “O País”, é dor nas costas.

“As minhas costas doem todos os dias. Quando chego a casa geralmente o meu uniforme está muito sujo e a minha pasta também”, lamentou Cesaltino Arnaldo, aluno da 6a classe.

Na Escola Primária há 35 turmas que ainda estudam ao relento porque as salas de aula não são suficientes para todos os alunos.

Para tentar evitar o contacto directo com a areia, nas suas pastas, além do material escolar os alunos devem carregar capulanas.

“Quem não tem a capulana deve sentar na areia. Os que têm, quando chegam a escola, depois de varrer, estendemos as nossas capulanas. Quando vamos para casa, sacudimos e levamos para lavar porque saímos daqui muito sujos”, explicou Manuela Ubisse, aluna da Escola Primária da Matola “A”, onde há 12 turmas que estudam ao ar livre.

Porque não há carteiras, os alunos devem apoiar-se no joelho ou inventar posturas para escrever.

“O aproveitamento dos alunos não chega a ser o esperado, isto porque a própria caligrafia do aluno não é boa, uma vez que eles sentam no chão. A maneira de copiar não se assemelha a de quem está sentado na carteira”, explicou a professora Helena Alberto, que acrescentou que o problema, tem desafiado os professores a adoptarem medidas com vista a prender a concentração dos alunos.

“A todo o momento devemos chamar atenção aos alunos, criando actividades para que estes possam se concentrar. Aqui fora, qualquer coisa distrai a criança, por isso mesmo defendemos que uma criança aprende melhor no interior de uma sala de aulas”.

Além do processo de ensino e aprendizagem comprometido, está também em causa a saúde.

Os alunos queixam-se de doenças respiratórias, devido a temperaturas baixas que se registam às primeiras horas do dia.

“Com este frio sofremos muito, saímos de casa muito cedo e sentido frio, chegamos aqui e estudamos fora, sentados no chão, não é fácil para nós. Temos tido gripes, tosse e outras doenças”, lamentou Manuela Ubisse.

Facto confirmado pelo sector da saúde, que fala de pelo menos 2 600 crianças dos 6 aos 15 anos, que deram entrada nas unidades sanitárias do distrito da Matola, só em três meses, por doenças associadas a exposição ao frio. Daí que, Amélia Tembe fala de reforço das medidas para proteger as crianças.

“As crianças as primeiras horas devem ser devidamente agasalhadas. É importante que sempre tenham goros, cachecol, luvas, camisolas e meias em tempos de frio, para protege-las”, disse Amélia Tembe, directora distrital da Saúde na Matola.

Na província de Maputo, há pelo menos 54 000 alunos que estudam ao ar livre.

“Nós usamos o termo turma ao ar livre para nos referir a aquelas, cujos alunos não têm salas para assistir as aulas e por conta disso estudam nas sombras de árvores. Neste momento contamos com 888 turmas nesta situação em toda a província de Maputo”, explicou José Luís, porta-voz da direcção da Educação naquele ponto do país.

O problema é mais agravante no distrito da Matola, com 618 turmas ao relento, seguido de Marracuene com 76 turmas e distrito da Manhiça com 68 turmas ao ar livre.

Para minimizar o problema, a Direcção da Educação da província de Maputo avançou que está prevista para este ano, a construção de pelo menos 100 salas de aulas até o mês de Dezembro, das quais 15 já foram concluídas.

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