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Lula da Silva apela a uma educação acessível para todos

Ninguém pode ser impedido de estudar devido ao lugar onde nasceu ou religião que professa, ou ainda pela condição financeira da sua família, disse o Presidente do Brasil, nesta segunda-feira, na outorga do título Doutor Honoris Causa em “Ciência Política, Desenvolvimento e Cooperação”. Lula da Silva vincou que é papel do Estado garantir as mesmas oportunidades de ensino para todos.

Abarrotada. É como estava a sala do Centro Internacional de Conferências Joaquim Chissano onde se realizou a cerimónia de Outorga do Título Doutor Honoris Causa ao Presidente da República Federativa do Brasil, Lula da Silva, em “Ciência Política, Desenvolvimento e Cooperação” pela Universidade Pedagógica de Maputo (UP-Maputo). 

“Aos 80 anos de idade, depois de passar por tantas coisas, eu jamais imaginei que poderia ficar emocionado outras vez”. Foram algumas das primeiras palavras do discurso de ocasião, que literalmente se traduziu numa aula sobre como governar para prosperar uma nação e o seu povo, mormente através da educação.

“Na verdade, eu sou um chorão por natureza. Quero dizer ao corpo docente desta universidade e a todos que colaboraram para me dar este prémio que já tenho muitos títulos Doutor Honoris Causa”, disse Lula da Silva e explicou que, porém, nenhuma das distinções o emocionou como a que a UP-Maputo lhe atribuiu, porque não sentia nenhuma diferença entre ele e os docentes da instituição.

“Eu sinto que somos iguais. Sinto-me orgulhoso” pela honra da UP-Maputo. “Recebo-o com imensa alegria e honra (…)” e trata-se de um título que “simboliza a compreensão compartilhada de que o desenvolvimento verdadeiro não pode ser imposto de fora. Deve nascer da vontade e da inteligência dos povos. A cooperação internacional só é justa quando é feita com base na solidariedade e no respeito à dignidade e soberania de cada país. É nesse modelo que o Brasil acredita”.

Lula da Silva afirmou que sempre se guiou por essa convicção e acredita que o combate à pobreza e à fome deve estar no centro do projecto de desenvolvimento de um país. “A fome não é falta de comida, é falta de justiça. É o resultado de decisões políticas equivocadas, de desigualdades históricas, de sistemas económicos” que não têm em conta as oportunidades existentes.

O Presidente brasileiro disse não compreender a razão de haver tanta gente a passar fome no mundo, mas acredita que a situação se deve às más políticas dos governantes. “Não podemos aceitar que o povo pobre seja tratado como se fosse invisível”. 

O Brasil fez do combate à fome uma obsessão, afirmou Lula da Silva, que assegurou ter a mesma obsessão pela educação. Segundo explicou, após ser proclamado Presidente do Brasil, determinou que “era proibido falar em gasto com a educação”, pois ela é um investimento, e o melhor que um governo faz.

A seguir à declaração, ouviram-se aplausos estrondosos. A classe académica e demais personalidades colocaram-se em pé, ovacionando Lula da Silva.

A UP-Maputo “traduz os sonhos de uma nação”. O Presidente brasileiro orientou o seu discurso, diga-se profundo e emocionante, para o sector da Educação: “A educação foi uma das primeiras trincheiras da construção de Moçambique”.   

“Universidade Pedagógica de Maputo é símbolo da esperança de um país ainda jovem, que apostou no saber para transformar a sua trajectória. (…) Os ensinamentos de Paulo Freire encontraram solo fértil.”

Paulo Reglus Neves Freire, de nacionalidade brasileira, foi, entre outras formações, um educador e filósofo. É considerado um dos pensadores mais notáveis na história da pedagogia mundial e influenciou um movimento chamado pedagogia crítica. 

Segundo Lula da Silva, Paulo Freire mostrou que a verdadeira educação deve ser libertadora. “Não apenas para ensinar a ler as palavras, mas também a ler o mundo. Os seus métodos e a sua filosofia ajudaram a formar gerações de professores alfabetizadores e líderes comunitários. Este título que recebo é, também, uma homenagem a ele e a todos educadores moçambicanos e brasileiros que mantêm viva a chama do conhecimento e da liberdade”.

No Brasil, o ensino superior sempre foi pensado e reservado para a elite, disse Lula da Silva e explicou que, com a sua intervenção, quando se tornou Presidente do Brasil, houve reorientação. “Foi preciso que o metalúrgico, sem diploma universitário, chegasse ao poder pelo voto popular para mudar essa realidade”.

Para Lula da Silva, a educação e a democracia caminham juntos. “Não há democracia verdadeira onde o povo não tem conhecimento. Não há desenvolvimento onde a riqueza se concentra em poucas mãos. Educar é fazer da igualdade de oportunidades uma realidade concreta e não uma promessa distante. Quando investimos na educação, formamos cidadãos conscientes, trabalhadores qualificados e lideranças éticas”.

“Eu tenho na minha pele, na minha vida, o que é uma pessoa formada e não formada. Eu sei o quanto vale alguém sem formação e com formação”, disse o Presidente brasileiro que, emocionado e com a voz a escapar-lhe, referiu que sabe o valor de uma menina e de uma mulher sem profissão e à procura de emprego.

“Eu sei quantos abusos a gente sofre por não ter tido a oportunidade” de ir à escola. “Ninguém pode ser preterido de estudar pelo lugar onde nasceu, pela religião que professa” ou pela condição financeira da sua família. “Cabe ao Estado garantir para todos as mesmas oportunidades. Não é possível a gente não compreender que um jovem formado” tem melhores chances de arranjar emprego e viver melhor. E, se for mulher, ganhar consciência sobre os desafios da vida.

Para os jovens, Lula da Silva deixou a mensagem de que, quando eles não mais acreditarem na política, que ninguém mais presta e que “todo o mundo é corrupto”, é preciso não desistir, porque dentro de cada um deles existe “um político decente, e não dentro dos outros”.

Lula destacou igualmente iniciativas que permitem que moçambicanos e brasileiros partilhem conhecimento e experiências através da formação superior.   

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