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Liz Truss indigitada primeira-ministra britânica pela rainha

Foto: DW

Liz Truss foi, ontem, indigitada primeira-ministra do Reino Unido depois de se encontrar com a rainha Isabel II, que lhe pediu para formar um novo Governo após aceitar a demissão de Boris Johnson. 

“A Rainha recebeu em audiência” Liz Truss “e pediu que formasse um novo Governo”, anunciou através da rede social Twitter, momentos depois de publicar uma foto da monarca de 96 anos apoiada numa bengala, apertando a mão àquela que se torna a 15.ª primeira-ministra em 70 anos de reinado.

A audiência teve lugar no Castelo de Balmoral, na Escócia, e não no Palácio de Buckingham, em Londres, como é tradicional, devido aos problemas de mobilidade de Isabel II.

Num comunicado, a família real indicou que Johnson “apresentou a sua demissão como primeiro-ministro e Primeiro Lorde do Tesouro, que sua majestade teve o prazer gracioso de aceitar”.

Liz Truss foi escolhida, esta segunda-feira (05/09), como nova líder do Partido Conservador e assume o lugar de Boris Johnson como primeira-ministra britânica. Truss recebeu 81 326 dos votos dos cerca de 180 000 membros do partido, enquanto Sunak obteve 60 399. O resultado era esperado e confirma a vantagem registada em várias sondagens publicadas desde Julho.

A vitória de Truss, no entanto, não foi tão avassaladora quanto muitos previam. Desde que o Partido Conservador mudou as suas regras eleitorais internas para dar aos membros uma palavra final, nenhum líder obteve menos de 60% dos votos.

Truss recebeu 57% dos votos dos membros, em comparação com 66,4% obtidos por Boris Johnson, em 2019; 67,6% por David Cameron, em 2005; e 60,7% por Iain Duncan Smith, em 2001. Theresa May não foi eleita por meio da votação.

DESAFIOS À FRENTE

Como chefe de Governo, Truss prometeu agir rapidamente para enfrentar a crise do custo de vida no Reino Unido, afirmando que, em uma semana, apresentará um plano para enfrentar o aumento das contas de energia e garantir o abastecimento futuro de combustível.

“Precisamos de mostrar que vamos entregar nos próximos dois anos. Vou entregar um plano ousado para cortar impostos e fazer crescer nossa economia”, afirmou ela após o anúncio do resultado.

“Vou responder à crise de energia, lidando com as contas de luz dos cidadãos, mas também lidando com os problemas de longo prazo que temos no fornecimento de energia.”

As contas médias anuais dos serviços públicos domésticos no Reino Unido devem aumentar 80% em Outubro, para 3549 libras, além de um aumento esperado para 6 000 libras em 2023, dizimando as finanças pessoais dos britânicos.

“O SEGUNDO MANDATO MAIS DIFÍCIL DO PÓS-GUERRA”

Truss enfrenta uma longa, custosa e complicada lista de afazeres, que os parlamentares da oposição afirmam ser resultado de 12 anos de um governo conservador fraco. Vários pediram eleições gerais antecipadas – algo que Truss adiantou que não permitirá.

O veterano parlamentar conservador David Davis descreveu os desafios que ela enfrentará como chefe de governo como “provavelmente o segundo mandato mais difícil dos primeiros-ministros do pós-guerra”, após a conservadora Thatcher em 1979.

Truss afirmou que planeia nomear um gabinete forte, dispensando o que uma fonte próxima a ela chamou de “estilo presidencial” de governo, e terá que trabalhar duro para conquistar alguns parlamentares do seu partido que apoiaram Sunak na corrida interna.

O think tank Institute for Government acredita que Truss terá um início de Governo mais complicado do que qualquer um de seus antecessores, já que ela não era a escolha mais popular entre os legisladores da sua legenda.

Como terceira primeira-ministra depois de Margaret Thatcher (1979-1990) e Theresa May (2016-2019), o anúncio da composição do governo será um primeiro teste de Truss.

O ministro da Economia, Kwasi Kwarteng, 47 anos, é apontado pela imprensa como o próximo ministro das Finanças, a procuradora-geral, Suella Braverman, 42 anos, d everá assumir o Ministério do Interior, James Cleverly, de 53 anos, passará da Educação para os Negócios Estrangeiros, e a ministra do Trabalho, Theresa Coffey, é esperada no Ministério da Saúde.

O ministro da Defesa, Ben Wallace, deverá permanecer em funções, mas Nadine Dorries recusou continuar com a pasta da Cultura e os ministros da Justiça, Dominic Raab, e dos Transportes, Grant Shapps, deverão ser preteridos devido ao apoio a Sunak.

Depois da estreia de Truss no debate semanal com os deputados e frente ao líder da oposição, o Trabalhista Keir Starmer, no Parlamento, quarta-feira, o novo governo pretende anunciar, já quinta-feira, um pacote para tentar travar a crise económica.

Segundo a imprensa britânica, este incluirá um congelamento dos preços da energia para famílias e empresas.

Dentro de dias, é esperado o anúncio de cortes fiscais para impulsionar a economia prometidos durante a campanha.

 

BORIS JOHNSON FAZ DISCURSO DE DESPEDIDA: “É TEMPO DE APOIARMOS LIZ TRUSS”

Boris Johnson expressa tristeza por ter sido forçado a sair do n.º 10, dizendo que as regras mudaram “a meio do caminho”. Johnson faz discurso de despedida: “É tempo de apoiarmos Liz Truss”

Boris diz que a nova primeira-ministra encontrará um grupo fantástico de funcionários, e vangloria o trabalho feito pelo gabinete no que concerne à COVID-19 e ao processo de vacinação, bem como o Brexit.

“Isto é o que um governo conservador faz”, declara.

“Apesar de toda a oposição e de todos os negativistas, conseguimos aprovar um plano de apoio económico para esta crise provocada pela guerra de Vladimir Putin”, refere. “Se Putin pensa que pode ser bem-sucedido com chantagem e bullying sobre o povo britânico, está completamente enganado”.

Num apoio claro à sucessora, diz que “é tempo de a política acabar. É tempo de apoiarmos todos Liz Truss e o programa dela”.

“Hoje lançámos as fundações que ião resistir ao teste do tempo”, assevera. “E eu irei apoiar Liz Truss e o novo governo em cada passo”.

“Vou dar a este Governo nada mais do que o mais apoio fervoroso. Este é um momento difícil para a economia, para as famílias de todo o país, mas nós podemos e vamos sair disto mais fortes”, afirmou.

Sobre o seu futuro, deixa ainda uma mensagem: “Sou como um daqueles propulsores que já cumpriu a sua função e irá agora reentrar suavemente na atmosfera e cair de forma invisível num canto remoto e obscuro do Pacífico”.

Terminado o discurso, Boris Johnson abandonou o Nº10 de Downing Street de mãos dadas com a mulher, Carrie Johnson.

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