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Kota delas

Por: Eunice Moreira

 

Ao lado da mulher dos meus sonhos, passei vários momentos que compõem a minha vida. Sim, a mulher dos meus sonhos, a que foi de muitos, antes de ser só minha. O mundo a dei e melhores impressões nela criei. Pretendia roubar a lua só para lhe dar, mulher virtuosa merecedora de todo o ar. Mas, como ao mundo chegamos sem avisar, o mundo a tirou de mim num piscar de olhao.

Sou um velho vivido, cheio de vazios, mas me reconstruindo. Hoje, vivo de casinhos (como os mais novos dizem), um namoro aqui, outro ali, só para descontrair.

Nunca fui pai, mas vivo me relacionando intimamente com as minhas filhas. Não são propriamente minhas filhas, mas meninas que poderiam ser. Da primeira à segunda idade passei. Sou um velho que com a idade foram as palavras certas e carinhosas para as usar. Assim, para as ter, pago bem. Talvez seja por isso que elas vêm se entregar como se não fossem de ninguém. Isso não é de bem!

Eu até me julgo, mas que culpa tenho se a minha insatisfação cresce na mesma proporção que a vontade delas de aparentar e ter mais e mais? Que culpa eu tenho se ao meu lado desejam estar e pelas notas se deitar?  Sou um velho a caminho dos 50, mas pareço um catorzinho, e não é pelo meu corpo que digo isso, mas pela falta de juízo.

Eu nem as conquisto, elas vêm até mim e não resisto. Passam por mim com ar de quem está nem aí, mas basta eu chamar que viram sem hesitar. Vêm com aquele olhar de quem não quer nada, olham para mim com uma cara inocente, enquanto gritam por dentro “que sorte!”. Por experiência, eu já conheço as malandras, assanhadas, sinal de que na infância não levaram bem porrada.

Eu, olhando para elas num tom despido de segundas intenções , pergunto o que vão beber? Elas se olham em código e demoram a responder. Como se não fossem experientes, pensam e dizem: pode ser “Amburque e breezer de muranco”.

Eu continuo tranquilo fumando meu cigarrinho e bebendo um cafezinho. Fiquem à vontade, como se estivessem com um jovem (risos). É o que as digo para as descontrair enquanto vou acendendo a brasa para derreter esse gelinho.

Essas flores que já murcharam, assanhadas, matam-me. Entregam-se como se o corpo deixasse de ser uma casa da alma. As mais velhas julgam-se inteligentes. Curtem comigo, depois vazam, mas deixam um recado: “sei onde voltar a lhe encontrar”.

Conseguindo o que quero, dinheiro não dou, mas proporciono tudo de bom. Comigo é assim: ou aceita ou vai viver sem mim. Algumas são atrapalhadas: pedem tudo, mas, no final, não fazem nada. Outras são mais estudadas: garantem o rancho, as mobílias, o dinheiro para fazer negócios da China. E ainda outras, num tom mais consciente e de organizada, pedem um espaço na zona em expansão.

Às vezes, sou romântico, compro flores e digo que a amo, mas nem todas são merecidas e é por isso que tenho as minhas preferidas. Aquela magrela descontraída que tudo fala ou a baixinha tímida que nada diz…

E dia pós dia, sigo sendo o Kota (A)ntónio (T)omás (M)arcos delas.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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